E depois de Kursk? Três canários para a próxima fase da guerra (e do futuro) na Ucrânia & Executive Digest

A recente incursão militar ucraniana em Kursk, que já alcançou pelo menos 74 localidades e 1.000 quilómetros de território russo, trouxe um novo nível de complexidade ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Esta ofensiva inesperada demonstrou que o Kremlin, até então visto como praticamente impenetrável, também pode ser vulnerável a ataques. Desde a Segunda Guerra Mundial que não se assistia a uma incursão ucraniana deste tipo no território russo, o que levanta questões sobre a capacidade da Rússia de defender a sua integridade territorial.

Segundo o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Heorhii Tykhyi, esta incursão não deve ser interpretada como uma tentativa de ocupação militar, mas sim como uma “operação legítima” destinada a melhorar a segurança dos cidadãos ucranianos localizados do outro lado da fronteira. Tykhyi enfatizou: “Ucrânia não é Rússia e, portanto, o nosso país não necessita de propriedades alheias… queremos proteger a vida do nosso povo.”

💥️Cenários Futuras: Resistência, Recuo ou Retirada Total

Com a incursão em Kursk a desafiar a segurança russa e a intensificar o desgaste da guerra, os especialistas identificam três possíveis cenários para o futuro da Ucrânia após esta ofensiva.

💥️Resistência e Defesa do Território

A primeira opção seria a Ucrânia tentar resistir e defender o território conquistado. Este cenário exigiria um aumento no número de tropas e na mobilização de armamento. O Tenente-General Francisco Gan Pampols alertou em entrevista ao El Confidencial que “se Ucrânia optar por esta opção, estará a dar à Rússia mais tempo e capacidade para cortar a linha de suprimentos e até cercar ou envolver as forças ucranianas.” Segundo Pampols, a extensão das linhas ucranianas aumentaria a vulnerabilidade, tornando esta escolha particularmente arriscada.

💥️Recuo Parcial para Ganhar Tempo

A segunda opção seria a Ucrânia realizar um recuo parcial, atraindo forças russas para a área de Kursk. Esta estratégia permitiria estabilizar as zonas ao leste e ao sul, que estão sob ameaça devido ao avanço russo. De acordo com um porta-voz militar ucraniano, Dmytro Lykhovii, a Rússia já começou a realocar algumas unidades das regiões de Zaporiyia e Dnipró para Kursk. Um funcionário americano também confirmou o movimento de tropas russas, embora não tenha revelado detalhes específicos. Esta movimentação poderia permitir à Ucrânia ganhar tempo na esperança de chegar a uma possível negociação no final do ano. O Tenente-General ressaltou que, ao recuar parcialmente, a Ucrânia precisaria escolher uma zona defensiva mais favorável, como áreas com obstáculos naturais.

💥️Retirada Total e Escalonada

O terceiro cenário seria uma retirada total e escalonada, com retorno às fronteiras internacionais reconhecidas. Este movimento permitiria à Ucrânia preservar recursos e enviar uma mensagem ao Kremlin de que pode realizar ataques semelhantes no futuro. Esta abordagem reforçaria a capacidade ofensiva da Ucrânia nas negociações e indicaria que o país não se limita a defender, mas também pode ameaçar os interesses russos em território nacional.

💥️Desafios e Vulnerabilidades Russas

A ofensiva em Kursk revelou não só a capacidade ofensiva da Ucrânia, mas também as vulnerabilidades da Rússia, evidenciadas pela falta de inteligência tática capaz de antecipar os planos ucranianos. O Tenente-General destacou que “o efeito surpresa é algo inaudito numa época em que o conhecimento é a base do campo de batalha. A observação, a inteligência de imagens e a inteligência de sinais são essenciais para elaborar uma imagem precisa do campo de batalha.”

A Ucrânia conseguiu atacar em três eixos diferentes e obter profundidade operacional, algo que demonstra uma ofensiva bem planeada e não um ataque isolado. A Rússia enfrenta uma dificuldade adicional ao combater em seu próprio território, o que, tradicionalmente, representa uma vantagem estratégica para o país invasor.

💥️Ameaça Nuclear

O sucesso da incursão ucraniana em território russo trouxe de volta as preocupações com uma possível escalada nuclear. Em maio passado, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que não acreditava que o mundo estivesse a caminho de uma guerra nuclear, mas não hesitaria em usar armas nucleares se a soberania territorial da Rússia fosse ameaçada. Em 2022, Putin já havia ameaçado usar “todos os meios ao nosso alcance” caso o Ocidente enviasse tropas para ajudar a Ucrânia.

O especialista militar observou que “a fraqueza da Rússia aumentou, o que é perigoso. Um dos argumentos para usar armas nucleares é uma ameaça existencial. Se a Ucrânia avançar para Kursk e para uma central nuclear, a escalada nuclear é bastante provável.”

A situação em Kursk representa um ponto crucial na guerra, não só pelo impacto militar direto, mas também pelas suas implicações estratégicas e diplomáticas.

Ler Mais
O que você está lendo é [E depois de Kursk? Três canários para a próxima fase da guerra (e do futuro) na Ucrânia &  Executive Digest].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...