Caos nas urgências: auditorias expõem falhas nas escalas dos médicos em hospitais portugueses & Executive Digest

A IGAS & Inspeção-Geral das Atividades em Saúde & realizou, no verão de 2022, cinco auditorias por nove inspetores para responder a uma questão: “Os constrangimentos verificados no serviço de urgência externa na área da ginecologia/obstetrícia no período entre 10 e 19 de junho de 2022 resultaram de alguma deficiência no planeamento das férias dos médicos ou do incumprimento das regras aplicáveis?”

As conclusões do organismo foram claras: os problemas “resultaram da existência de falhas no processo de planeamento, marcação, gozo do período de férias dos médicos que asseguram as escalas. Mas, o problema continua, ainda assim, a estar sobretudo na escassez de médicos para garantir a constituição das equipas, na indisponibilidade de alguns médicos para a realização do trabalho suplementar e no facto de, na maioria das entidades hospitalares inspecionadas, mais de um terço dos médicos desta especialidade terem idade igual ou superior a 50 anos”.

De acordo com o jornal ‘Observador’, os relatórios apontam uma realidade preocupante sobre como a escassez de médicos, assim como as falhas no planeamento de escalas e férias, conduziu ao caos naquela semana de junho de 2022, em que múltiplas urgências de obstetrícia estiveram encerradas, causando forte alarme social no país.

Os hospitais em causa foram: Algarve (Polo de Portimão), Barreiro-Montijo, São Francisco Xavier (Lisboa), Garcia de Orta (Almada) e Braga, e o problema foi transversal: faltam médicos. Em todos os hospitais analisados registaram-se também, com maior ou menor grau de influência no caos provocado no verão de 2022, problemas e irregularidades na marcação das férias dos profissionais e na elaboração das escalas de serviço das urgências.

Outros fatores, como o descontentamento dos médicos, as dificuldades provocadas pela localização geográfica ou o contexto daquela semana de 10 a 19 de junho de 2022 — com dois feriados nacionais muito próximos a promover o fim-de-semana prolongado —, também foram apontados como tendo contribuído para o caldo de problemas que levou à situação de caos vivida em vários hospitais nacionais, com encerramentos sucessivos de serviços de urgência externa de Ginecologia e Obstetrícia.

A IGAS identificou também várias irregularidades na elaboração das escalas, partilhadas num grupo de WhatsApp interno. As escalas são inicialmente feitas para o ano todo, com indicação de quais as equipas de médicos que terão de trabalhar em cada dia e semana, mas depois são emitidas escalas mensais com os horários de cada equipa. Olhando para as escalas de junho de 2022, a IGAS concluiu que houve várias trocas de última hora, buracos por preencher (nos dias 12, 17 e 19 de junho só havia mesmo dois médicos disponíveis) e, pior do que isso: pelo menos oito profissionais foram colocados em turnos em dias em que se encontravam de férias já aprovadas.

Dois anos volvidos, o problema poderá repetir-se? De acordo com Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, “nem todos os hospitais planeiam as férias dos médicos com o mesmo grau de eficácia e há casos em que temos evidência de poderia ser feito um trabalho melhor”, salientando que “fazer escalas não é algo fácil” & no entanto, “há hospitais muito semelhantes que têm resultados diferentes na gestão das férias e isso tem impacto nas escalas e na abertura dos serviços”.

O principal problema, defendeu, é a excessiva concentração das férias dos médicos em determinados períodos, nomeadamente em agosto. “Os hospitais poderiam fazer isto melhor, distribuindo mais as férias dos médicos ao longo das férias de verão”, salientou, sublinhando que “é necessário olhar para os mapas de férias de junho, julho, agosto e setembro e perceber se alguns dos médicos que estão fora em agosto poderiam ter gozado férias noutro período”. “Se a questão das férias fosse mais bem gerida, teríamos menos dias de constrangimentos nas urgências”, concluiu.

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