Silvio Santos não era da bola, mas batia um bolão aos domingos

"Lá, lá, lá, lá! Lá, lá, lá, lá! Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá! Agora é hora, de alegria... vamos sorrir e cantar. Do mundo não se leva nada... vamos sorrir e cantar. Silvio Santos vem aí, lá, lá, lá, lá, lá, lá, Silvio Santos vem aí!"

Essa era a música tema de abertura do Programa Silvio Santos, no começo dos anos 1980.

E ele vinha. De terno e gravata, microfone "grudado" na altura do pescoço, sorriso aberto: "Oi, pessoal!!!". "Oi, Silvio", respondia, meio acanhada, a plateia formada por crianças.

"Eu disse: ‘Oi, pessoal!!!’", ele insistia, sorriso ainda mais aberto. "Oi, Siiiilviiiiooo!!!" Então o apresentador se satisfazia e o show podia começar.

Este é um blog de futebol, predominantemente de futebol internacional, e foram raríssimas as vezes em que o tema de um texto não foi esse.

Este é um deles, e a exceção foi aberta devido à importância do personagem que morreu neste sábado (17), aos 93 anos, e que fez a alegria de milhões de brasileiros, este autor incluído entre eles.

Silvio Santos não era entendido nem entusiasta de futebol, não sabia nada de bola, e sua emissora, o SBT, estava bem longe de ter como carro-chefe jogos ou campeonatos de futebol. Fazia incursões eventuais.

Mas aos domingos, no começo dos anos 1980 (com a internet e a TV a cabo a anos de surgirem para nós), pode-se afirmar categoricamente que o apresentador/comunicador batia um bolão na sua programação, com ele próprio onipresente, comandando todos os quadros.

Das 10h às 22h, não havia nada melhor para um garoto de 9, 10, 11 anos, acompanhado invariavelmente pelo irmão três anos mais novo, ver na TV de tubo (hoje peça de museu) do que o Programa Silvio Santos.

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O domingo geralmente começava na Globo, com um daqueles seriados enlatados, "O Túnel do Tempo". Na sequência, quando era dia de corrida, a F1, com Nelson Piquet representando, e bem, o Brasil –Ayrton Senna viria um pouco depois.

Depois, era automático. O seletor de canais (era seletor, ainda não tinha controle remoto) girava uma posição e passava do número 5 para o 4 (SBT), para o Domingo no Parque, a atração infantil que dava início à maratona de entretenimento que Silvio Santos proporcionava a cada sete dias.

Era uma disputa entre colégios públicos, no estilo gincana, e até tinha um jogo com bola: uma esfera gigante, de plástico. A criança de um lado deveria levar vantagem sobre a do outro lado ao empurrar a redonda com as mãos para o gol adversário.

Também tinha, entre outras atrações, cabo de guerra –que esteve no programa das Olimpíadas no começo do século passado–, corrida sobre colchões para estourar balões com o bumbum e o jogo do foguete, que merece três parágrafos à parte.

"Você quer trocar esta linda bicicleta por uma bolinha de pingue-pongue furada?", perguntava Silvio. E a criança, que ouvia música dentro de uma cabine em forma de veículo espacial, sem direito a escutar a pergunta e só podendo dizer "sim" ou "não" quando acendesse uma luz vermelha, esganiçava-se: "Siiiiiiiiiiiiiiiim!!!".

Divertidíssimo para Silvio Santos, que soltava o seu peculiar "arrá, irrí", e para quem via de casa; frustrante, quase de chorar, para a criança que se deparava ao sair do foguete com o seu inglório prêmio.

Silvio tentava amenizar, sem jamais perder o sorriso: "Não fique triste, você vai ganhar um tênis Montreal, antimicrobial". Acredito que esse modelo de tênis patrocinava o programa.

Acrescente-se a tudo isso o desafio que o apresentador fazia às crianças da plateia, contar até 30, substituindo um algarismo a cada três pela palavra "pim" (1, 2, 3, pim, 5, 6, 7, pim, 9, 10, 11 pim, e assim por diante), e quase ninguém conseguia acertar (quem chegava lá, faturava o tal tênis), mais desenhos do Pica-Pau (os originais, ótimos, não os da nova fase, péssimos) entremeando a gincana, o Domingo no Parque era puro divertimento.

Mas não parava aí.

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