Para embelezar as cidades

Muito tempo atrás, eu participei de uma pequena conferência num hotel na cidade de Nova York e encontrei um colega de economia da Universidade de Chicago.

"Olá, Roger, o que está fazendo aqui?"

"Estou participando de outra pequena conferência, no mesmo hotel, de pessoas da ópera."

Roger era apaixonado por ópera. Mas também era economista.

"A coisa vai mal", disse ele. "Quando sugiro que ‘Aida’, de Verdi, poderia ser encenada com apenas um elefante, ou até mesmo sem nenhum elefante, o pessoal da ópera fica indignado. Não consigo convencê-los de que sem elefantes eles também teriam dinheiro para fazer uma produção esplêndida de ‘Otello’. Eles insistem que ‘Aida’ deve ter pelo menos três paquidermes. Afinal, a estreia mundial no Cairo, em 1871, teve 12."

Algo parecido aconteceu comigo outro dia, durante uma conversa com arquitetos e urbanistas. O assunto era "embelezamento" das cidades, o que remonta a um programa federal que a mulher do presidente Lyndon Johnson iniciou pouco depois de ele assumir o cargo, após o assassinato de John F. Kennedy.

Na grande reunião de 1964, convocada na Casa Branca para discutir como tornar as cidades norte-americanas mais bonitas, o próprio Johnson observou que tinha alguns assuntos no Vietnã que poderiam desviar sua atenção disso. Mas sua esposa continuou e começou, por exemplo, a tendência nacional de plantar flores nas cidades.

Ótimo. Todos queremos que nossas cidades sejam bonitas, assim como queremos que "Aida" seja gloriosa. São Paulo também poderia ganhar um pouco de embelezamento.

Mas o que o meu amigo Roger e eu, como economistas, temos o dever de apontar é que a beleza não é gratuita. Ela tem um custo de oportunidade. Portanto, planos prudentes para "Aida" ou cidades mais bonitas nos Estados Unidos precisam ficar de olho no orçamento. Sim, eu sei que é cansativo. Oscar Wilde disse que um cético, assim como um economista, "sabe o preço de tudo e o valor de nada".

Sugeri que plantar árvores seria econômico, como acontece em Montevidéu. Meus amigos sugeriram, em vez disso, um comitê "interdisciplinar" para impor padrões de beleza. "Árvores, embora baratas, não são suficientes." Acontece que eles queriam um comitê formado por arquitetos, paisagistas e urbanistas. Nenhum economista no grupo.

Se você não tiver um economista, terá menos árvores baratas e apenas alguns prédios caros. Você não vai montar "Otello".

É uma pena. Mas é verdade.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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