Polarização cria falso juízo sobre evangélicos

Nossos cérebros funcionam por meio de operações mentais de categorização e generalização. Se é isso que nos permite navegar por um mundo incerto, buscando regularidades, também está aí a origem de nossos preconceitos.

Acrescente-se uma dose de polarização política e temos a receita para formar o estereótipo do evangélico bolsonarista que apoia as bandeiras extremistas do ex-presidente, quando não as define.

Pesquisa Datafolha realizada no final de junho com 613 eleitores paulistanos que se declaram evangélicos mostra que esse quadro está longe da realidade.

Um exemplo é o homeschooling, pauta do bolsonarismo supostamente escolhida para contentar o público evangélico. Pela sondagem, 77% dos entrevistados são contrários à educação domiciliar.

Fenômeno análogo se repete em outros tópicos. A maioria (66%) é contra a posse de armas para autodefesa; favorável ao acolhimento de gays e pessoas trans nas igrejas (86%); e três de cada quatro fiéis acham que a escola deve abordar a educação sexual.

Os evangélicos paulistanos se aproximam do ideário bolsonarista na questão da união homossexual (57% são contra) e do aborto (só 21% apoiam ampliação das hipóteses legais que o permitem).

Sobre este último tema, contudo, há sutilezas. Apesar da rejeição à interrupção voluntária da gravidez, a maioria (53%) é contrária a processar penalmente e encarcerar mulheres que abortam.

Tal tendência foi verificada recentemente na forte rejeição popular, por evangélicos ou não, ao insensato projeto de lei que agrava penas para quem aborta —inclusive mulheres e meninas que foram vítimas de estupro.

A pesquisa mostra ainda que os evangélicos se pautam por motivações bastante terrenas.
Contrariando o estereótipo ascético, 55% atribuem importância máxima à religião para a busca ou manutenção de uma parceria amorosa; 58% dizem o mesmo sobre amizades; e 71% em relação a planos profissionais e vida financeira.

Se a salvação eterna prometida aos fiéis é um assunto para os religiosos, interações sociais significativas e ajuda em momentos de dificuldade são produtos que os templos de fato entregam. Quase 50% dos fiéis dizem já ter sido atendidos por algum projeto social de sua igreja.

Não é possível modificar o mecanismo mental humano que favorece o surgimento de estereótipos e preconceitos. Mas, cientes de que padecemos dessa vulnerabilidade, é factível duvidar dos juízos definitivos a que chegamos sem o respaldo em dados. A realidade é quase sempre mais complexa do que sugerem nossas intuições.

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