O futebol enlouqueceu

"Parem as máquinas" gritava-se nas redações de jornais quando chegava uma notícia importante de última hora.

"Parem o mundo que eu quero descer" gritou a Mafalda, genial criação do não menos cartunista argentino Quino.

Eis que a bola anda precisando pedir que parem com ela.

Pois como dizia o jornalista Geraldo Mayrink, "não há limites para a insânia".

O episódio de racismo e homofobia dos jogadores argentinos ao comemorar o título da Copa América é exemplo gritante, vexaminoso e revoltante.

Além de burrice cavalar, digna da redundância.

Jogassem todos na Argentina e já seria absolutamente imperdoável.

Mas a maioria joga na Europa, ao lado de descendentes de imigrantes, muitos nascidos na França, os alvos da música sem nenhum caráter entoada na comemoração.

E acompanhada por profissionais experientes como Lionel Messi, o capitão do time, Di Maria, que acabava de se aposentar da seleção.

A nenhum deles ocorreu impedir a cantoria, criada por torcedores sem noção no Qatar, para provocar os rivais antes da melhor final de todas as Copas do Mundo.

Torcedores agirem de maneira lastimável faz parte do embrutecimento mundial — mas celebridades do esporte, ídolos de tanta gente?!

Para piorar, quando surge uma réstia de luz do subsecretário de Esportes do obscurantista governo de extrema-direita argentino, eis que o beócio presidente do país o demite, com a justificativa de que não cabe ao Estado se intrometer nos assuntos do futebol.

Javier Milei, o nome da besta, exonerou Julio Garro que exigiu pedido de desculpas por parte dos jogadores e da Associação de Futebol da Argentina, a AFA.

E sua vice-presidenta, cretina Victoria Villarruel, acrescentou: "Nenhum país colonialista nos vai intimidar por uma canção de torcida ou por dizermos verdades que não querem admitir".

É o não é para parar o mundo, as máquinas, a bola, cujo formato o planeta imita?

Na mesma semana, embora de gravidade infinitamente menor, após desses jogos de reconciliar a gente com o futebol entre Botafogo e Palmeiras, que excedeu a boa expectativa criada em torno dele, o treinador Abel Fereira revelou-se péssimo perdedor.

Atribuiu a inexistentes erros de arbitragem a derrota de seu time pelo placar mínimo em clássico que foi o máximo.

Bem ele, de quem ouvimos invariavelmente críticas corretas sobre as mazelas de nosso desorganizado futebol.

Em vez de enaltecer o espetáculo do qual foi co-autor, de realçar a beleza da disputa e até dizer que perdeu como poderia ter vencido, preferiu sugerir prejuízos fora das regras ao seu time, além de fazer comparações indevidas com outros lances de outro jogo.

Ninguém mais sabe perder e é na hora do insucesso que os bem-sucedidos mais demonstram sua grandeza.

Assim como os campeões argentinos passaram ao largo do exemplo que devem dar, Ferreira mostrou seu espeto de pau, esquecidos todos eles do reflexo causado em seus fãs e nos torcedores em geral.

Daí não surpreender a aparição monstruosa de bonecos da presidenta do Palmeiras e do presidente da CBF enforcados nas imediações do estádio Nilton Santos.

De tanto normalizar o absurdo, de dar as costas para a fome, para a violência, chegamos ao ponto de ver o futebol ensandecido.

Parem as máquinas, a bola, o mundo!

Desçamos todos de onde viemos para voltarmos ao Iluminismo e ao Humanismo.

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