A crise yanomami contada pelas vítimas

Em 1993, o massacre do Haximu resultou na morte de 16 pessoas (a maioria mulheres e crianças) na terra indígena yanomami. Este é o único crime reconhecido como genocídio pela Justiça do Brasil.

Três décadas depois, uma crise humanitária na terra indígena yanomami revelou o impacto cumulativo da exposição prolongada à negligência social, econômica e política.

Os dois eventos, separados por 30 anos, tem a mesma causa: a expansão do garimpo ilegal na Amazônia. Uma expansão cuja rapidez não tem precedentes: se considerarmos um período de 37 anos (1985-2022), 62.3% de todo o garimpo existente em terras indígenas na Amazônia foi aberto em apenas cinco anos (entre 2018 e 2022).

Muito já foi escrito sobre essa crise. Entretanto, o livro "Diários Yanomami. Testemunhos da Destruição da Floresta", lançado recentemente pelo Instituto Socioambiental e pela Hutukara Associação Yanomami, traz relatos coletados por pesquisadores yanomamis entre 2023 e 2013.

O livro, escrito na língua yanomami e em português, traz a voz das vítimas dos crimes sociais e ambientais impostos pelo garimpo. O livro não é uma interpretação dos fatos. O livro traz os fatos! Deveria ser leitura obrigatória em escolas e universidades.

Os testemunhos coletados mostram a rápida destruição do meio ambiente e do modo de vida, o medo dos povos indígenas, a carga de doenças que se espalham entre adultos e crianças, e o descaso do Exército e das autoridades.

Rios são contaminados com mercúrio, com óleo dos aviões e das máquinas usadas no garimpo e com lixo. Morrem os peixes, e quando não morrem ficam contaminados. Adoecem os indígenas que bebem a água e comem os peixes.

Locais onde indígenas costumavam buscar alimento são tomados pelo garimpo. E os animais de caça são afugentados pelo barulho das máquinas. Barulho este que não deixa os indígenas dormirem. A falta de comida entre os indígenas se instala. Os garimpeiros se aproveitam e oferecem alimento em troca de apoio e de mulheres.

Há relatos de denúncia ao Exercício e uma percepção de que não há vontade de acabar com o problema. De fato, há dois Pelotões Especiais de Fronteira (PEF) na área indígena Yanomami. O 4º PEF, instalado em 1988 em Surucucu, e o 5º PEF, instalado em 1995 em Auaris. Curiosamente, o 4º PEF é próximo de rotas de entrada do garimpo.

Testemunhos também relatam a fragilidade da atenção à saúde. Garimpeiros usavam de violência ou pagavam (com ouro) por tratamento. Para os indígenas, faltava remédio. A insegurança fechou postos de saúde.

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