Milicianos usam delação de Ronnie Lessa para tentar sair da cadeia

Dois milicianos presos usaram a delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL), para pedir liberdade à Justiça do Rio de Janeiro.

As defesas do ex-vereador Cristiano Girão e do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, afirmam que depoimentos do ex-PM os isentam dos crimes pelos quais foram denunciados pelo Ministério Público.

O MP-RJ é contrário à liberdade dos dois acusados. A Promotoria afirma nos dois processos que os depoimentos de Lessa não são suficientes, sem corroboração, para livrar os dois da prisão. A Justiça ainda não se pronunciou sobre os pedidos.

A delação de Lessa teve como principal foco o esclarecimento da morte de Marielle. Ele apontou como mandantes os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Eles foram presos preventivamente e se tornaram réus no STF (Supremo Tribunal Federal). Os irmãos negam envolvimento no crime.

Além do caso Marielle, o ex-PM falou sobre outros crimes dos quais é acusado. Segundo o acordo de colaboração premiada, a delação precisa ser homologada também pelos juízos nos quais correm as outras ações penais.

Girão foi preso em julho de 2023 sob a acusação de ter encomendado a Lessa a morte do ex-PM André Henrique da Silva Souza, conhecido como André Zóio, miliciano envolvido na disputa pelo controle da região de Gardênia Azul (zona oeste) com o ex-vereador.

Lessa confessou ter matado Zóio, mas desvinculou Girão do crime. Ele disse que não conhece o ex-vereador.

"Eu particularmente não conheço, não quero conhecer. Não conheço seu tom de voz, não conheço sua altura. O que eu tenho dele é simplesmente informações de que ele é um cara arrogante, e esse tipo de comportamento não me atrai de jeito nenhum", afirmou Lessa aos investigadores. "Não tenho interesse nenhum em preservá-lo", acrescentou.

Lessa afirmou que matou André Zóio por iniciativa própria. Segundo o relato, Lessa se recusou a aceitar ceder para ele uma participação nos lucros de máquinas de música e fliperamas que mantinha em Gardênia Azul. O delator disse que decidiu matá-lo após uma discussão, para evitar ser vítima de uma emboscada.

A defesa do ex-vereador solicitou à Justiça a revogação da prisão preventiva.

"A delação do Ronnie Lessa, homologada pelo STF, apenas confirmou aquilo que todos sabiam: Cristiano Girão é inocente. Se a delação serviu para prender um deputado federal, um conselheiro do TCE e o ex-chefe de Polícia Civil do Rio, por consequência lógica, deve servir para soltar aquele que estava preso injustamente", afirmou o advogado Zoser Hardman, que representa Girão.

O Ministério Público, porém, se posicionou contrário à liberdade do ex-vereador.

"A simples assertiva de réu colaborador no sentido de que o requerente não teria participado da empreitada não é suficiente para afastar o reconhecimento acima mencionado", afirmou a Promotoria à Justiça.

"Este Ministério Público, embora tenha participado das negociações e assinado o acordo, não teve ainda a oportunidade de diligenciar no sentido de comprovar (ou refutar) as alegações do colaborador no tocante a cada um dos processos de sua atribuição, em especial estes autos."

A Promotoria ainda levanta a possibilidade de Lessa ter mentido no anexo sobre Girão.

"Ao firmar acordo com Ronnie Lessa, o Ministério Público não renunciou ao direito de responsabilizar todos os envolvidos nos fatos relatados, inclusive aqueles indivíduos cuja participação o colaborador possa ter dolosamente omitido. Neste caso, as consequências estão expressamente previstas em lei (não reconhecimento da efetividade do acordo ou até mesmo sua rescisão)", escreveram os promotores.

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