Advogados de vítimas de Mariana buscam dinheiro no mercado para financiar briga com Samarco

No ramo de investimentos de risco, o financiamento de litígios está em ascensão. De acordo com dados coletados pelo RationalStat, empresa de pesquisa de marketing, trata-se de um mercado que deve chegar a US$ 24,3 bilhões (R$ 133 bilhões) em 2028.

Ninguém levanta tanto dinheiro nesta área quanto a firma de advocacia britânica Pogust Goodhead. Responsável por ações em nome de vítimas da tragédia de Mariana no Brasil, Reino Unido e Holanda, ela é considerada a primeira empresa unicórnio do setor (avaliada em US$ 1 bilhão).

Mas isso a faz ser alvo de críticas e acusações de adversários.

Para Thomas Goodhead, 41, galês que criou o escritório em 2023, seus advogados incomodam porque vão em busca de indenizações de multinacionais que querem se eximir de responsabilidades. Essas companhias e outros críticos acusam o escritório de ser "abutre em busca de carniça", de estar envolvido em polêmicas e de levar uma porcentagem maior do que a normal no mercado em caso de vitória judicial.

A Pogust Goodhead recebeu no ano passado empréstimo de cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) do Gramercy, fundo hedge com sede em Connecticut, nos Estados Unidos, com patrimônio de US$ 6 bilhões (R$ 32,8 bilhões). São recursos que vêm de fundos de pensão, fortunas individuais e fundos soberanos.

Em apresentação a seus investidores, o Gramercy informou que o empréstimo à Pogust Goodhead teria juros de 17,75% segurados pelo litígio ambiental no Brasil e por ações do escândalo Dieselgate, em que montadoras fraudaram os dados de emissão de CO2 dos veículos.

Entre os investidores no Pogust Goodhead estão também três fundos brasileiros: Jive, Vinci Partners e Prisma Capital.

O dinheiro é usado para financiar a briga na justiça britânica contra a BHP, conglomerado anglo-australiano que é um dos donos da Samarco, pivô da tragédia de Mariana, em Minas Gerais. Em 5 de novembro de 2015, rompimento de barragem da mineradora despejou 62 milhões de metros cúbicos na região. O Rio Doce e sua bacia hidrográfica que passa por 230 municípios mineiros foi contaminado. Dezenove pessoas morreram.

A Pogust Goodhead iniciou a maior ação de litígio da história da justiça britânica: pede à BHP US$ 70 bilhões (R$ 383 bilhões). Não é só o valor que chama a atenção. O escritório representa cerca de 700 mil pessoas, 46 municípios e cerca de 2,5 mil organizações religiosas, autarquias e empresas.

Em audiência em junho, a BHP questionou como é possível o mesmo escritório litigar em nome de tanta gente. O julgamento foi marcado para 7 de outubro deste ano.

"A BHP e a Vale [outra acionista da Samarco] estão em uma campanha de fake news [contra os advogados]. Elas têm muito dinheiro e têm feito isso há oito anos e meio para manipular a mídia e tentar manipular a corte. São companhias poderosas. Isso tudo é mentira. É falso. A BHP alegou que 35 mil pessoas não estavam representadas. Estão erradas. É uma tentativa de evitar a justiça e não pagar a reparação total", afirma Thomas Goodhead.

Ele diz que, em caso de vitória, o valor não será distribuído de forma igual entre todos os clientes. Terá de ser definido o prejuízo individual. Esta será uma discussão posterior.

Na Holanda, foi aberto outro processo contra a Vale em busca de mais uma indenização, esta de cerca de US$ 3,8 bilhões (R$ 20,8 bilhões).

A Pogust Goodhead busca financiamento na forma de empréstimos ou investimentos que serão devolvidos ao investidor em caso de vitória. O retorno dos fundos pode chegar a 20%.

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