Saúde, não polícia

Quem precisa de polícia é traficante, não o usuário. Contrariando a sensatez, a política dos governos municipal e estadual para a cracolândia no centro de São Paulo privilegia em demasia a ação dos agentes da lei, em detrimento dos profissionais da saúde, para promover internações como solução preferencial do complexo problema.

Recente medida equivocada concede folgas a policiais militares que acumularem pontos convencendo dependentes químicos a se internarem. Tal registro rende 15 pontos, mais que a detenção de um procurado pela Justiça (10); 100 pontos garantem um dia de ausência.

No mesmo dia, dois PMs conduziram três usuários ao Hub de Cuidados em Crack e outras Drogas, desempenho que soa implausível. É razoável supor que alguma coerção possa ter sido empregada, ao arrepio do caráter humanitário inerente a intervenções de saúde.

Outro desvio está no encaminhamento de pessoas em surto por policiais sem comprovação de que sejam usuárias de drogas, condição para que sejam atendidas ali.

Ademais, há denúncias de internações involuntárias e violências praticadas por funcionários de segurança do próprio hub, o que sugere infração a direitos humanos.

A ineficácia da política fica evidenciada nos dados do governo estadual. Ao mesmo tempo em que aumenta a quantidade de internações, diminui o tempo de permanência nas instituições —no Hospital Lacan, ela caiu para menos de 40 dias, o pior nível registrado.

Não se justifica premiar agentes por obter internações. Para especialistas em segurança pública, o método peca tanto por recompensar o policial por fazer aquilo que é sua obrigação quanto por retirar de serviço, com a folga, aqueles cujo desempenho se destaca.

Ao que parece, as ações dos governos de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do prefeito Ricardo Nunes (MDB) pendem mais no sentido da repressão do que para a promoção da saúde.

Usuários precisam sobretudo de tratamento digno. Enquanto a dependência for encarada como questão policial, e não social e sanitária, a cracolândia terá perenidade garantida na cidade.

editorial@grupofolha.com.br

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