O crescente impacto ambiental dos cruzeiros marítimos, que vão bater recorde em 2024

Em janeiro, o maior navio de cruzeiro do mundo saiu do porto de Miami, nos Estados Unidos, para sua viagem inaugural de sete dias.

A construção do Icon of the Seas custou à empresa Royal Caribbean US$ 2 bilhões (cerca de R$ 11,4 bilhões). Ele tem 18 deques, sete piscinas e mais de 40 restaurantes, bares e lounges.

O navio tem 365 metros de comprimento —35 metros a mais do que a altura da Torre Eiffel. Ele é cerca de cinco vezes mais longo que o Titanic.

O navio é movido a GNL (gás natural liquefeito), descrito pela Royal Caribbean como o "combustível marítimo de queima mais limpa existente".

Mas os ativistas ambientais afirmam que o GNL é prejudicial ao clima por lançar metano poluente na atmosfera —um gás cerca de 80 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2), ao longo de um período de 20 anos.

O impacto dessa indústria deverá crescer, à medida que os cruzeiros se multiplicam.

As vendas de passagens para navios de cruzeiro em 2024 atingiram níveis recordes. As projeções indicam que, até o final deste ano, 360 navios de cruzeiro terão transportado 30 milhões de passageiros, um aumento de 9,2% em relação a 2023, antes da pandemia.

"O problema é que o número de navios de cruzeiro continua aumentando e o tamanho desses navios, também", afirma a ativista do setor de transporte marítimo Constance Dijkstra, da ONG Transport & Environment. Ela destaca que estes aumentos irão aumentar a poluição do ar e dos oceanos.

Muitas companhias de cruzeiros começaram a divulgar suas "credenciais verdes". Mas Dijkstra e outros ativistas defendem que poucas empresas estão reduzindo sua pegada ambiental com a rapidez necessária.

A poluição dos cruzeiros

Um grande navio de cruzeiro pode consumir até 304.593 litros de combustível por dia, segundo uma análise da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos.

Os combustíveis marítimos são variantes dos combustíveis fósseis geradores de emissões e, por isso, têm alta pegada de carbono.

Os cruzeiros também geram consumo particularmente intensivo de carbono, em comparação com muitos outros tipos de viagens de férias.

A emissão média de CO2 por passageiro de um cruzeiro em torno de Seattle, nos Estados Unidos, é oito vezes maior do que a de um turista que passa suas férias na mesma cidade, em terra, segundo uma análise da ONG Amigos da Terra.

E o CO2 que aquece a atmosfera do planeta não é o único problema causado pelos cruzeiros.

Os 218 navios de cruzeiro que operaram na Europa em 2022 emitiram mais óxidos de enxofre (SOx) do que um bilhão de automóveis —ou 4,4 vezes mais do que todos os carros do continente, segundo outra análise, da Transport & Environment.

O SOx pode prejudicar as árvores, reduzindo seu crescimento. Ele também contribui com a chuva ácida, que pode perturbar ecossistemas sensíveis. E a exposição ao poluente também pode afetar o sistema respiratório humano, causando problemas de respiração.

"Continuamos a advertir as pessoas: se você se preocupa com o meio ambiente, talvez seja melhor pensar em outro tipo de férias", alerta a diretora do programa de oceanos e navios da Amigos da Terra, Marcie Keever.

Mas será que os navios de cruzeiro são piores que os aviões?

Mesmo os navios de cruzeiro mais eficientes emitem mais CO2 por quilômetro/passageiro do que um jato comercial, segundo a análise da ONG americana Conselho Internacional sobre o Transporte Limpo (ICCT, na sigla em inglês).

Os resíduos são outro problema importante. Em 2023, os navios de cruzeiro com destino ou origem no Alasca descarregaram mais de 31 bilhões de litros de resíduos tóxicos no litoral oeste do Canadá.

E há também a poluição sonora dos navios e seus prejuízos à vida marinha. Um estudo de 2012 concluiu que os ruídos de média frequência do sonar dos navios se sobrepõem ao canto das baleias chamando umas às outras. Isso as força a repetir as vocalizações, prejudicando sua comunicação.

Limpando os cruzeiros

As cidades portuárias estão começando a reprimir os navios de cruzeiro, em meio a crescentes preocupações com a saúde e o meio ambiente.

Em 2023, Veneza, na Itália, proibiu os navios de cruzeiro de entrarem no seu centro histórico. Eles agora ficam restritos ao porto industrial da cidade.

A medida foi tomada em resposta a um pedido da Unesco (o órgão cultural das Nações Unidas), devido aos danos causados pela poluição dos cruzeiros às construções históricas.

Amsterdã, na Holanda, e Barcelona, na Espanha, também proibiram os navios de cruzeiro no centro da cidade, em uma tentativa de controlar a poluição e coibir o turismo de massa.

"Esta é uma indústria que vem ficando fora do radar, quando o assunto são as regulamentações", segundo Keever. "Agora, estamos vendo comunidades se levantarem contra os navios de cruzeiro, alertando que 'a poluição ambiental e a quantidade de passageiros que vocês estão trazendo para cá são grandes demais'."

As companhias de cruzeiros começaram a tomar medidas para melhorar seus níveis de sustentabilidade.

Elas estão adotando motores e aparelhos com uso eficiente de energia, usando a energia do porto quando estão atracados, conduzindo sistemas de reciclagem e reduzindo o consumo de plástico descartável a bordo, por exemplo.

Mas o maior desafio do setor, sem dúvida, é a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis poluentes.

"Tornar um cruzeiro 'verde' exige a mudança do combustível, o que é muito difícil", segundo Dijkstra. "É ótimo que os navios de cruzeiro estejam promovendo a reciclagem ou se livrando do plástico, mas, se eles continuarem a consumir combustíveis fósseis, estaremos com problemas."

Muitas companhias de cruzeiros começaram a usar GNL para alimentar seus navios. Elas promovem o combustível como uma alternativa mais limpa em grande escala para o diesel marítimo poluente.

Entre 2023 e 2028, 60% dos novos navios programados para lançamento usarão combustível GNL para sua propulsão primária, segundo a Associação Internacional de Linhas de Cruzeiro.

A Carnival Corporation —uma das maiores operadoras de cruzeiros do mundo— conta com o GNL para reduzir sua pegada de carbono.

A empresa pretende reduzir sua intensidade de uso de carbono (a quantidade de CO2 emitida por milha náutica) em 20% até 2030, em comparação com os níveis de 2023. Atualmente, ela tem nove navios movidos a GNL em operação e já existem pedidos para outros quatro.

"Existe um limite até onde podemos chegar com as medidas de eficiência", declarou à BBC o vice-almirante Bill Burke, comandante-chefe da Carnival Corporation.

"Estamos provavelmente em uma situação em que iremos conseguir apenas 20-30% de redução do total das nossas emissões [com as medidas de eficiência]."

"Em última análise, precisamos de novos combustíveis e, no momento, o melhor combustível que existe, facilmente disponível, é o GNL."

Mas outros discordam que o GNL seja a solução para o problema climático dos navios de cruzeiro.

"O GNL não é um combustível de transição", segundo Keever. "Ele não deveria nem fazer parte das discussões."

Os navios movidos a GNL emitem cerca de 25% menos CO2 que com os combustíveis marítimos convencionais. Mas os ativistas afirmam que eles causam mais um impacto prejudicial ao clima, liberando metano para a atmosfera.

"O metano traz um impacto desastroso em termos de aquecimento global", explica Dijkstra.

Este gás do efeito estufa se decompõe na atmosfera em apenas 12 anos, o que é muito menos do que os séculos exigidos pelo CO2. Mas o metano também é cerca de 80 vezes mais potente, ao longo de um período de 20 anos.

O que você está lendo é [O crescente impacto ambiental dos cruzeiros marítimos, que vão bater recorde em 2024].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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