Deboche a universitária com mais de 40 anos gera revolta e solidariedade de colegas: 'Exemplo para nós'
Patrícia Linares, vítima de etarismo, segura as flores presenteadas por colegas que resolveram prestar homenagem a ela. — Foto: Arquivo Pessoal
Os colegas de curso de Patrícia Linares, aluna de 44 anos hostilizada por frequentar a universidade, encontraram a estudante e se mostraram revoltados com a demonstração de preconceito contra ela. O grupo prestou solidariedade e entregou cartas, flores e chocolates.
Na última sexta-feira (10), um vídeo viralizou na internet ao mostrar três colegas do curso de biomedicina da universidade particular Unisagrado, em Bauru (SP), debochando da estudante, que também estuda biomedicina na instituição, pelo fato de ela ter mais de 40 anos.
A caloura vítima do etarismo recebeu, no mesmo dia, apoio de alunos do 4º ano do curso que se indignaram com a falta de empatia e com o preconceito. Eles revelaram que veem na nova estudante um exemplo de que “nunca é tarde de ir atrás dos seus sonhos”.
“Foi tudo muito rápido, mas na hora já decidimos que íamos falar com ela e dar todo o apoio necessário. O nosso objetivo era acolher a estudante", comenta Júlia Fuganholi, de 21 anos, do 4º ano de biomedicina, ao g1.
2 de 5 Universitárias debocham de colega de 40 anos — Foto: Reprodução
Universitárias debocham de colega de 40 anos — Foto: Reprodução
Os estudantes resolveram encontrar a universitária ainda na noite de sexta-feira e entregaram os presentes. Segundo Júlia, Patrícia ficou emocionada com a ação e confessou ter ficado mal ao ver o vídeo em que é ridicularizada.
“Fomos atrás dela dentro da instituição. No momento que fizemos a homenagem, ela ficou surpresa. Ela falou que tinha ficado muito mal com tudo que havia acontecido, mas que, ao mesmo tempo, se sentiu muito acolhida com as inúmeras mensagens de carinho que ela recebeu do mundo todo”, conta.
Na postagem, que já soma mais de três milhões de visualizações, uma das universitárias aparece gravando um vídeo para uma rede social enquanto conversa com as outras duas.
3 de 5 Alunos fazem surpresa para Patrícia Linares, vítima de etarismo em Universidade de Bauru (SP) — Foto: Arquivo PessoalAlunos fazem surpresa para Patrícia Linares, vítima de etarismo em Universidade de Bauru (SP) — Foto: Arquivo Pessoal
No vídeo, a jovem ironiza: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Logo depois, outra responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. “Realmente”, concorda a terceira.
Em seguida, a estudante que grava o vídeo diz: “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”. Elas chegam a dizer que a mulher “não sabe o que é Google”
O vídeo das estudantes foi compartilhado por várias pessoas nas redes sociais, inclusive pela sobrinha da vítima. Em uma publicação na rede social, ela desabafou sobre o episódio.
A universitária iniciou os estudos na instituição Unisagrado no dia 27 de fevereiro. Na dinâmica de recepção, sua história comoveu boa parte dos estudantes.
“Conheci a estudante no primeiro dia de aula dela. Em uma das dinâmicas de recepção, cada um tinha que se apresentar e contar por que escolheu o curso de biomedicina, quando ela contou sua história e comoveu cada um que estava na sala e já de início se tornou uma inspiração, um exemplo para nós”, relembra Julia.
4 de 5 Vídeo compartilhado em uma rede social já soma mais de três milhões de visualizações — Foto: Twitter/ReproduçãoVídeo compartilhado em uma rede social já soma mais de três milhões de visualizações — Foto: Twitter/Reprodução
Em meio à polêmica, Júlia espera que a situação sirva de alerta para que o etarismo seja debatido dentro da instituição e que as oportunidades se tornem ainda mais comuns, independentemente da idade.
“Não são todos que tem a mesma oportunidade e a beleza da vida está na multiplicidade. Por estarmos em um âmbito social, cada pessoa tem o seu tempo, cada pessoa tem a sua história, cada pessoa carrega suas marcas, e temos que usar isso, sem exclusão”, pontua.
Devido à repercussão do caso, os estudantes cobram da instituição “um posicionamento adequado”. “Que isso nunca mais venha acontecer, para que isso seja combatido, pois nenhum tipo de preconceito deve ser aceito em nenhuma situação”, diz Júlia.
De acordo com a assessoria da Unisagrado, as três mulheres são maiores de idade e também alunas de biomedicina. Ao g1, uma delas disse que 💥️as três estão arrependidas do que falaram e que o vídeo foi uma "brincadeira de mau gosto".
Ela contou que as imagens foram postadas inicialmente no "close friends" do Instagram (recurso que permite que o usuário selecione seguidores específicos), mas acabou saindo da roda de amigos e viralizou.
O 💥️g1 conversou com Patrícia, que cursa o primeiro ano da faculdade, mas ela preferiu não dar entrevista para se preservar.
A universidade publicou uma nota na rede social horas depois, mas sem fazer menção direta ao caso.
A publicação também diz que “as oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”.
5 de 5 Universidade publicou nota de posicionamento horas depois — Foto: Instagram/ReproduçãoUniversidade publicou nota de posicionamento horas depois — Foto: Instagram/Reprodução
Nos comentários da publicação, várias pessoas cobraram medidas por parte da instituição. "Não vai ter uma retratação das queridas? Uma ação disciplinar? Por acho que só um posicionamento não haverá mudanças!!!", disse uma mulher.
"Queremos uma ação disciplinar para que fiquem todos cientes que esse tipo de atitude é totalmente descabível e não venha se repetir nunca mais", comentou outra.
Ao💥️ g1, a assessoria da universidade disse que está tomando medidas em relação às universitárias envolvidas no caso. "Mas por respeito a todos os envolvidos estamos trabalhando no âmbito institucional e não divulgaremos", disse.
De acordo com uma das jovens que aparece no vídeo, a faculdade orientou as estudantes e "deu a oportunidade de recomeçar e amadurecer, mudar nossos pensamentos e perceber que comentários assim, sendo brincadeira ou não, são levados muito a sério".
Etarismo é o nome dado à discriminação e ao preconceito relacionado com a idade de uma pessoa. Essa repulsa pode resultar, inclusive, em violência verbal, física ou psicológica.
No dia a dia, o etarismo pode se manifestar de diferentes maneiras: como piadas, infantilização ou atitudes que geram exclusão da vítima. No meio profissional, esse preconceito também se mostra em postagens de candidaturas de vagas de emprego com limite de idade ou em frases como "você está velho para isso".
As denúncias de violações de direitos humanos podem ser feitas de maneira anônima pelo Disque Direitos Humanos, o Disque 100.
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