Recrutamento de presos na Rússia por Grupo Wagner indicia crimes de guerra 24
Numa declaração pública, o grupo de peritos da ONU, com membros de vários grupos de trabalho da organização, acusou o grupo Wagner, um exército mercenário empenhado com as forças russas na invasão da Ucrânia, de estar a recrutar presos em vários estabelecimentos prisionais da Rússia.
A referida declaração foi assinada por membros de vários grupos de trabalho, nomeadamente o Grupo de Trabalho da ONU para os Mercenários e o Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados, e ainda pelos relatores especiais para as execuções arbitrárias e para a tortura.
O parecer foi elaborado com base em relatos de visitas de membros da Wagner, que terão oferecido aos presos, em troca da sua participação na guerra, a absolvição dos crimes pelos quais foram condenados e um rendimento mensal para as suas famílias, disseram os especialistas, que afirmaram estar “profundamente preocupados”.
Os presos de várias nacionalidades são ameaçados e intimidados até aceitarem, em reuniões onde não têm acesso nem aos seus advogados nem contacto com os seus parentes, segundo descreve o comunicado.
Aqueles que aceitam tornar-se recrutas são levados para um centro de detenção em Rostov (sul), perto da fronteira com a Ucrânia, onde são treinados antes de serem enviados para cumprir as missões atribuídas, depois de assinarem um acordo e de lhes serem retirados todos os documentos de identificação, acrescentaram.
Os especialistas da ONU disseram que, segundo as informações que obtiveram, os recrutas foram destacados para Donetsk e Lugansk, e encarregados de diferentes missões, desde a reconstrução de infraestruturas até à participação direta nos confrontos.
“Este tipo de práticas são violações dos direitos humanos que podem ser consideradas crimes de guerra” afirmaram, depois de descreverem as ameaças e os maus tratos a que os recrutas são sujeitos, por vezes em frente aos colegas como forma de advertência.
Alguns dos presos que aceitaram o acordo por coação tentaram desertar e foram executados, adiantaram.
Para além do recrutamento, no comunicado os especialistas acusaram o grupo Wagner de estar envolvido em várias “violações de direitos humanos” cometidas no contexto do conflito, nomeadamente o desaparecimento forçado de soldados ucranianos.
Os especialistas instaram o Governo russo a proteger os detidos da “violência, exploração e intimidação” a que estão a ser sujeitos.
O grupo Wagner, que já atuou em diversos conflitos, nomeadamente no continente africano – casos da Líbia, do Mali e da República Centro-Africana – anunciou hoje a abertura de 58 centros de recrutamento de soldados em 42 cidades russas.
O líder dos mercenários, Yevgeni Prigojine, reconheceu a necessidade de reforços para continuar a luta contra a resistência ucraniana que descreveu como “colossal”, em áreas estratégicas como a cidade de Bakhmut, em Donetsk.
Nos últimos dias, Prigojine já se tinha queixado da falta de munições e insinuado que o Ministério da Defesa russo poderia estar a tentar boicotar as ações do grupo, ao travar a transferência de munições que tinha sido prometida.
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