Reino Unido: 4 pontos para entender crise que ameaça cargo da primeira-ministra
Liz Truss negou que irá renunciar — Foto: Reprodução
Pouco mais de um mês após assumir o poder, a primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, enfrenta sua primeira grande crise no governo.
O anúncio, feito há três semanas, de um plano fiscal que previa uma série de cortes de taxas e impostos provocou uma ampla resposta negativa dos mercados e levou à demissão nesta sexta-feira (14) do ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng.
Em um breve pronunciamento após um dia de muitas incertezas, durante o qual a demissão da própria primeira-ministra entrou em debate, Truss reafirmou que o governo voltaria atrás na implementação do plano, admitindo que "partes do nosso mini-orçamento foram mais longe e mais rápido" do que os mercados esperavam.
Mas ela insistiu que permaneceria como premiê para cumprir sua "missão" de fazer a economia crescer.
"Estou absolutamente determinada a cumprir o que prometi - entregar um Reino Unido de maior crescimento e mais próspero para nos ajudar a passar pela tempestade que enfrentamos", disse Truss no pronunciamento na tarde desta terça.
Ela assumiu o governo do Reino Unido em 6 de setembro, após Boris Johnson renunciar ao cargo.
Listamos a seguir alguns dos principais pontos necessários para entender o imbróglio que ameaça o governo da primeira-ministra.
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Anunciado em 23 de setembro, o pacote econômico de Kwasi Kwarteng previa cortes históricos nos impostos e enormes aumentos no crédito.
Entre os principais pontos do plano estava a revogação do aumento de impostos corporativos em todo o Reino Unido de 19% para 25% — previsto para ocorrer em abril de 2023.
Ao mesmo tempo, a alíquota básica de imposto de renda seria reduzida de 20% para 19% em abril de 2023 - um ano antes do planejado - com 31 milhões de pessoas poupando em média 170 libras (cerca de R$ 1 mil) a mais por ano.
Os cálculos são de que o plano de custaria de 45 bilhões de libras (R$ 266 bilhões) aos cofres públicos.
2 de 3 Kwasi Kwarteng foi ministro por 38 dias — Foto: EPAKwasi Kwarteng foi ministro por 38 dias — Foto: EPA
O pacote era uma cartada para tentar estimular a economia num momento no qual o país sofre com a inflação alta e está prestes a entrar em recessão.
Após o anúncio do plano, porém, a moeda britânica caiu para o menor patamar na história em relação ao dólar, os custos dos empréstimos aumentaram acentuadamente e o Banco da Inglaterra foi forçado a intervir, anunciando um programa de recompra de títulos.
Antes de sua demissão, Kwarteng já havia voltado atrás em alguns dos pontos anunciados em 23 de setembro.
Em seu discurso nesta terça, Truss cedeu ainda mais e confirmou que o imposto corporativo do Reino Unido aumentará para 25% em abril de 2023.
Ela disse que a medida deve arrecadar 18 bilhões de libras por ano em receita tributária para o governo e atuar como um "pagamento inicial" de seu plano econômico.
"Quero ser franca: isso é difícil", disse Truss. "Mas vamos passar por essa tempestade."
Antes mesmo do anúncio oficial de Truss, Kwasi Kwarteng confirmou sua demissão do cargo de ministro das Finanças em uma carta nesta terça.
Ele estava em Washington para reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas foi chamado de volta na quinta-feira (13).
À BBC News, Kwarteng disse que as propostas de corte de impostos se tornaram "uma grande distração em meio ao que era um pacote forte".
Questionado se ele devia um pedido de desculpas aos britânicos, o ministro disse ter sido sensível às reações. "Nós ouvimos as pessoas. E sim, há humildade e contrição nisso. E estou feliz por isso."
Acrescentou que teve "a humildade de dizer 'olha, erramos e não vamos prosseguir com o corte'".
A primeira-ministra nomeou o ex-secretário de Saúde Jeremy Hunt para o lugar de Kwarteng.
Truss disse que o novo ministro compartilha sua visão para o país e fará uma declaração sobre seu plano econômico até o final deste mês.
Liz Truss está no cargo de primeira-ministra desde 6 de setembro e já enfrenta grande turbulência em seu governo. Ela foi escolhida líder do Partido Conservador após uma votação interna.
A atual premiê substitui Boris Johnson, que renunciou ao cargo em julho após uma crise iniciada por um escândalo sexual envolvendo Chris Pincher, um parlamentar conservador próximo a ele.
Antes de ser nomeada premiê, Truss foi ministra das Relações Exteriores do governo Johnson.
Na votação interna que a elegeu, ela chegou a ficar atrás do seu principal concorrente e ex-ministro das Finanças Rishi Sunak em diversas rodadas do pleito, mas ampliou sua vantagem nas semanas finais.
Truss chegou ao comando do país prometendo cortar impostos e desregulamentar a economia em uma tentativa de "fazer o Reino Unido se mover".
Mas o plano econômico de Truss assustou os mercados financeiros e provocou uma revolta entre os parlamentares conservadores, que exigiram que a primeira-ministra abandonasse partes de seu plano econômico.
Também houve quem defendesse a renúncia de Truss e a convocação de uma eleição geral em meio à turbulência em Westminster.
Mesmo após o anúncio da demissão de Kwarteng e da decisão de voltar atrás em relação ao corte de impostos, alguns parlamentares conservadores seguem insistindo para que a premiê deixe o cargo pelo que um político veterano classificou à BBC como "um megadesastre".
3 de 3 Liz Truss em pronunciamento — Foto: ReutersLiz Truss em pronunciamento — Foto: Reuters
Rachel Reeves, a chefe de Economia do Partido Trabalhista, de oposição, disse que um novo governo liderado pela sua legenda é "o que este país precisa".
Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, também pediu aos parlamentares conservadores que destituam Truss.
Mas a primeira-ministra britânica descartou uma eleição geral até 2024 e, com a grande maioria do governo no Parlamento, a oposição crê ser muito difícil forçar a realização de uma.
Em seu discurso, a premiê também negou qualquer possibilidade de renúncia e disse que estava "determinada a cumprir o que prometi" antes de sair abruptamente do governo.
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