Empresa francesa que pagou ao Estado Islâmico para continuar com negócios na Síria faz acordo com Justiça nos EUA
Caminhão com homens, ex-combatentes do Estado Islâmico, e famílias, deixa Baghuz, na Síria, nesta quarta (20) — Foto: AFP/Bulent Kilic
A empresa de cimentos francesa Lafarge anunciou nesta terça-feira (18) que vai pagar uma multa de US$ 778 milhões (R$ 4,1 bilhões) aos Estados Unidos e se declarar culpada por ter ajudado organizações terroristas na Síria (incluindo o grupo Estado Islâmico), entre 2013 e 2014.
A Lafarge hoje pertence a uma outra empresa, a Holcim, da Suíça.
Breon Peace, promotor da Justiça Federal dos EUA no Brooklyn, afirmou que a Lafarge fez a escolha impensável de colocar dinheiro nas mãos do Estado Islâmico, uma das organizações terroristas mais brutais do mundo, para continuar vendendo cimento em meio a uma guerra civil.
O promotor disse que a empresa ainda pediu ajuda do Estado Islâmico para eliminar a concorrência na Síria, e retribuiu dando uma parte de suas vendas no país.
A Lafarge "aceitou a responsabilidade pelas ações de seus executivos envolvidos, cujo comportamento foi uma violação flagrante dos códigos de conduta", afirmou a empresa em um comunicado, no qual lamenta profundamente esses atos.
De acordo com a justiça dos EUA, a Lafarge pagou cerca de seis milhões de dólares ao grupo Estado Islâmico e à Frente Al-Nostra entre agosto de 2013 e outubro de 2014, além de US$ 1,1 milhão a intermediários. Esses acertos teriam lhe rendido cerca de US$ 70 milhões em vendas.
A pena financeira inclui uma multa de US$ 91 milhões (R$ 477 milhões) e outros US$ 687 milhões (R$ 3,6 bilhões) correspondentes aos ativos obtidos ou mantidos ilegalmente.
A número dois do Departamento de Justiça americano, Lisa Monaco, afirmou que "quando as empresas ou seus dirigentes adotam um comportamento que ameaça nossa segurança nacional - neste caso apoiando uma organização terrorista violenta - o Departamento reagirá com determinação".
A empresa também é acusada na França de "cumplicidade em crimes contra a humanidade", devido às suas atividades até 2014 na Síria.
A investigação das autoridades francesas considerou que a empresa pagou ao Estado Islâmico valores entre 4,8 e 10 milhões de euros. Ao mesmo tempo, está sendo investigado se a Lafarge vendeu cimento a esse grupo e suspeita-se que tenha pago a intermediários para estocar matérias-primas com facções jihadistas.
O processo, que inclui eventos parcialmente cometidos na França, ainda está coletando informações, segundo a Procuradoria Antiterrorista da França (Pnat).
Um juiz de instrução francês agora poderá solicitar provas relacionadas à sanção americana para anexar ao caso.
Ao contrário do processo nos EUA, a empresa não poderá negociar uma multa ou convenção judicial de interesse público (Cjip) para encerrar investigações criminais na França, uma vez que está envolvida em cumplicidade em crimes contra a humanidade.
A Lafarge afirmou em seu comunicado que continua cooperando plenamente com a investigação das autoridades francesas, mas disse estar disposta a "se defender de qualquer ação judicial que considere injustificada".
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