PM registra inicialmente tiro contra jovens no Parque Bristol, na Zona Sul, como acidente, e família pede investigação
Roupas das vítimas de disparo de arma de fogo no Parque Bristol — Foto: Arquivo Pessoal
A Polícia Militar notificou inicialmente uma ocorrência envolvendo o disparo de arma de fogo no Parque Bristol, na Zona Sul da capital paulista, como acidente de trânsito, o que causou indignação na família das vítimas que ficaram feridas.
Uma das pessoas feridas é um adolescente de 17 anos que está em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Ipiranga. Ele está com uma bala alojada na cabeça. A outra vítima é um jovem de 22 anos que sofreu um ferimento no peito, mas não corre risco de morte e está se recuperando.
Ao 💥️g1, a mãe do adolescente contou que ele saiu de casa no último domingo (23) para passear com o amigo de moto por volta das 18h. Pouco depois, ela foi informada que ele estava ferido e caído inconsciente a cerca de 10 metros da casa, na Avenida Padre Arlindo Vieira.
"Ele trabalhou o dia todo, tomou banho e comeu. Depois, saiu com o amigo de moto. O que estava conduzindo a moto escutou um barulho de disparo e foi atingido no peito. A bala foi parar na cabeça do meu filho, que estava na garupa. Só que quando cheguei, uma viatura da PM falou para mim que meu filho tinha caído da moto e batido a cabeça, mas nem o socorreram. Só soube da bala alojada no hospital, que levei com carro particular. Ele já foi para a UTI, onde está em coma", diz Tatiane Valentino.
Segundo vizinhos, havia uma viatura perto da moto.
Já a Secretaria da Segurança Pública (SSP), em nota, nega que os policiais tiveram contato com a vítima e ressalta que a ocorrência foi inicialmente tratada como queda de motocicleta porque os PMs não tinham conhecimento do disparo, o que ocorreu apenas quando foram ao hospital.
"Policiais militares foram acionados para comparecerem ao Hospital Ipiranga, na noite do último domingo (23), por volta das 19h, para prestarem apoio a uma ocorrência em que um adolescente havia sido atingido por um disparo de arma de fogo na cabeça. Anteriormente, os PMs haviam sido comunicados sobre uma queda de motocicleta. No endereço indicado, o automóvel não foi localizado, bem como a vítima", diz a nota.
"O menor de idade teria sido socorrido por terceiros. Posteriormente, foi verificado que o jovem havia sido baleado. As investigações seguirão pela 2ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (CERCO)."
O caso foi registrado no 26º DP na madrugada desta terça-feira (25) como tentativa de homicídio. No boletim de ocorrência, consta que os policiais informaram ter sido acionados para irem até o Hospital Ipiranga para atender um adolescente baleado na cabeça.
Segundo o registro, os policiais não encontraram a moto envolvida no caso e requisitaram exame de corpo delito.
2 de 2 Adolescente de 17 anos foi baleado no Parque Bristol, zona sul de SP — Foto: Arquivo Pessoal
Adolescente de 17 anos foi baleado no Parque Bristol, zona sul de SP — Foto: Arquivo Pessoal
O amigo do adolescente também foi socorrido por moradores e ficou internado até esta segunda-feira (24). Ao 💥️g1, ele relatou que o que passaram foi desesperador.
"A gente estava de moto para buscar uma bebida quando, na avenida, passando por um posto, escutei um barulho. Vi que tinha sido atingido. Olhei para trás, meu amigo também estava baleado e caído. Fiquei desesperado e fui procurar ajuda", afirmou.
"Eu não tenho desafeto nem meu amigo. Somos muito tranquilos. A única coisa é que no dia estávamos sem capacete na moto, mas isso não é motivo para tentarem nos matar", disse.
A mãe do adolescente pede que o caso seja investigado.
Em 10 de agosto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, federalizar as investigações sobre os "crimes de maio" de 2006 no Parque Bristol. O tribunal reconheceu as falhas na investigação feita pelos órgãos públicos estaduais de São Paulo.
Em 14 de maio de 2006, cinco jovens foram atacados por um grupo de homens encapuzados. Três deles morreram na hora. Um dos sobreviventes foi morto seis meses depois. O caso foi arquivado pelo Ministério Público de São Paulo por ausência de provas.
Após a federalização, é determinado um ministro relator e o estado de São Paulo é chamado para se manifestar. A investigação passa então para a PF e o caso vai para a Justiça Federal.
Como o 💥️g1 revelou, a solicitação de federalização foi feita em 2016, pelo então procurador-geral da república Rodrigo Janot ao STJ, atendendo a pedido de 2009 da Conectas e familiares das cinco vítimas.
Na época, a PGR declarou que a apuração da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo foi meramente “formal, protocolar, ignorando a busca da verdade e das conexões entre crimes quase simultâneos e extremamente similares”.
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