Guerra na Ucrânia: o que se sabe sobre mísseis que atingiram Polônia
Fumaça na região da fronteira entre Polônia e Ucrânia atingida por mísseis segundo relatos de agências de notícias — Foto: Stowarzyszenie Moje Nowosiolki via REUTERS
Duas pessoas morreram em um vilarejo polonês próximo à fronteira com a Ucrânia nesta terça-feira (15/11) após a região ter sido atingida por um "míssil de fabricação russa", declarou o Ministério das Relações Exteriores da Polônia.
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O comunicado não informava quem disparou o míssil. Os dois lados do conflito usam munição feita na Rússia.
O governo polonês disse que o embaixador russo foi convocado para prestar informações detalhadas sobre o incidente, que ocorreu no vilarejo de Przewodów. O país convocou uma reunião de emergência do seu Conselho de Segurança Nacional.
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Nas últimas horas circularam imagens nas redes sociais que mostram fragmentos de mísseis no local do ataque na Polônia.
A BBC não conseguiu verificar a autenticidade dessas fotos, mas foram ouvidos três especialistas em defesa sobre o equipamento encontrado.
Mark Cancian, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), acredita que trata-se de um sistema S-300. Esse tipo de míssil é tipicamente usado em ataques terra-ar e já foi utilizado tanto pela Rússia, quanto pela Ucrânia.
"Ainda não está claro quem disparou os mísseis", diz J. Andrés Gannon, especialista em segurança no think tank Council on Foreign Relations dos Estados Unidos.
"Nós sabemos que a Rússia vem usando o S-300 para ataques de solo, embora seja um sistema de defesa aéreo, mas a Ucrânia também faz uso do sistema para defesa aérea contra mísseis de cruzeiro."
Justin Bronk, do think tank Rusi, concorda que talvez seja um sistema S-300, mas avalia que ainda não há evidência suficiente para total identificação.
Jens Stoltenberg, chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual a Polônia faz parte, disse que conversou com o presidente polonês Andrzej Duda e que monitora a situação.
"Ofereço minhas condolências pela perda de vidas. A Otan está monitorando a situação e os aliados estão acompanhando de perto. Importante que todos os fatos sejam estabelecidos", afirmou Stoltenberg no Twitter.
Os membros da organização têm o compromisso de se defender mutuamente em caso de ataque armado contra qualquer um deles.
Os americanos responderam com cautela aos relatos de que mísseis russos atingiram território polonês.
A Casa Branca, o Pentágono e o Departamento de Estado dizem que não podem confirmar o que aconteceu e que estão trabalhando com o governo polonês para obter mais informações.
Os EUA também repetiram o compromisso de defender cada espaço de território da Otan que estiver sob ataque, algo que o presidente Joe Biden chamou de "obrigação sagrada".
Mas nem os EUA, nem os aliados na Otan, têm interesse de entrar em um confronto direto com a Rússia.
O governo russo declarou que os relatos sobre os mísseis são uma "provocação deliberada" e que não realizou ataques na fronteira entre Ucrânia e Polônia.
A Ucrânia, por sua vez, disse que relatos de que o míssil teria sido disparado por forças ucranianas são "teoria da conspiração" e parte da "propaganda russa".
O presidente norte-americano, Joe Biden, e o ucraniano, Volodymyr Zelensky, telefonaram para o presidente da Polônia, mas ainda não foram divulgados detalhes sobre as conversas.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que vai propor uma reunião de coordenação nesta quarta (16/11) com os líderes da União Europeia que estão na reunião do G20 em Bali, na Indonésia. Michel publicou no Twitter que conversou com o premiê polonês, Mateusz Morawiecki, e que assegurou "a total unidade da União Europeia e solidariedade em apoio à Polônia".
Mais cedo, a Rússia lançou uma série de mísseis contra cidades importantes ucranianas, dias depois de tropas russas terem sido expulsas de Kherson, na região sul ucraniana.
A guerra na Ucrânia se arrasta desde fevereiro, quando a Rússia invadiu o país. Uma contra-ofensiva ucraniana iniciada em setembro, segundo as autoridades de Kiev, já retomou mais de 3 mil quilômetros quadrados do território ocupado inicialmente pelos russos.
2 de 3 Bombeiros trabalham para apagar incêndio em prédio residencial em Kiev, na Ucrânia — Foto: ReutersBombeiros trabalham para apagar incêndio em prédio residencial em Kiev, na Ucrânia — Foto: Reuters
A capital Kiev está entre as cidades atingidas. O prefeito Vitaliy Klitschko afirmou que prédios residenciais próximos ao centro da cidade foram danificados.
Ataques também foram registrados em Mykolaiv, Chernihiv, Lviv e outros locais.
Os ataques aconteceram ao mesmo tempo em que líderes mundiais estavam reunidos na cúpula do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, em Bali.
Na reunião, o governo de Vladimir Putin enfrentou duras críticas por causa da guerra na Ucrânia.
Klitschko afirmou que pelo menos uma pessoa morreu nos últimos ataques em Kiev. Vários mísseis russos foram derrubados, disse ainda o prefeito da capital ucraniana.
Ele alertou que pelo menos metade dos moradores da cidade estavam sem eletricidade devido a interrupções de emergência — um "passo necessário para equilibrar o sistema de energia", disse o prefeito.
Alertas de ataque aéreo soaram em toda a Ucrânia nesta terça-feira.
Em vídeo compartilhado pelo gabinete do presidente ucraniano, o que parece ser um bloco de apartamentos pode ser visto em chamas, com fogo saindo pelas janelas.
Uma moradora de 22 anos, Oleksandra, disse à agência de notícias Reuters que viu de sua janela "quando o foguete estava voando, um fogo brilhante e o som de algo voando muito próximo".
Vitaly Kimm, prefeito de Mykolayiv, no sul, disse que mísseis russos foram lançados em três ondas.
Em Chernihiv, no norte, o governador Vyacheslav Chaus pediu que a população se abrigasse, acrescentando que "o ataque com mísseis continua".
Já na cidade ocidental de Lviv, o prefeito Andriy Sadovy afirmou que também houve ataques, com cortes de energia como resultado.
Na semana passada, Moscou retirou suas tropas da cidade de Kherson, no sul — um grande revés para o exército russo.
Em outros momentos da guerra em que a Rússia sofreu derrotas, o país também recorreu a ataques aéreos como uma forma retaliação.
Andriy Yermak, um conselheiro do presidente da Ucrânia, disse que os ataques desta terça-feira teriam sido uma resposta da Rússia ao "poderoso discurso" de Zelensky na cúpula do G20.
3 de 3 Zelensky durante encontro com líderes militares em Kherson — Foto: EPAZelensky durante encontro com líderes militares em Kherson — Foto: EPA
No discurso virtual, Zelensky abordou o que chamou de líderes do "G19" — desprezando Putin — e disse estar "convencido de que agora é o momento em que a guerra destrutiva da Rússia deve e pode ser interrompida".
Um esboço de declaração da cúpula, relatado por agências de notícias, afirma que "a maioria" dos países concordou que a guerra estava exacerbando as fragilidades da economia global.
Já Sergei Lavrov, ministro das relações exteriores da Rússia, afirmou que a declaração do G20 foi "politizada" pelos aliados ocidentais da Ucrânia.
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