Trump lança candidatura a Presidência: 6 razões que mostram por que será mais difícil para ele em 2024
Trump desce a escada rolante para dizer ao mundo que está concorrendo — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
Em um discurso na terça-feira (15), que durou mais de uma hora, Trump se vangloriou sobre seu tempo na Presidência e criticou os dois primeiros anos de Joe Biden no cargo.
Trump mostrou seus pontos fortes ao longo do discurso. Ele tem uma sensibilidade inigualável para entender quais temas são importantes para os conservadores que formam sua base de eleitores, como imigração e crime. Seu estilo imprevisível e inflamado atrai cobertura de notícias, deixando seus concorrentes sem espaço no noticiário. Ele tem uma base forte de apoiadores e consegue atrair até mesmo americanos que normalmente não votam. E depois de quatro anos na Presidência, muitos desses apoiadores hoje ocupam cargos altos dentro do Partido Republicano.
Mas seu discurso também deixou em evidência algumas das principais fraquezas de Trump.
Trump praticamente ignorou as dificuldades e os erros de seu governo durante a pandemia de covid. E simplesmente se omitiu sobre os meses em que passou negando o resultado das eleições de 2023 e sobre o ataque de 6 de janeiro de 2023 ao Capitólio dos EUA por seus apoiadores.
Ele tentou defender o fraco desempenho do Partido Republicano nas eleições de meio de mandato da semana passada e seu apoio a candidatos derrotados — algo que vem atraindo críticas a ele entre conservadores.
Trump disse que o desafio dos republicanos agora não é algo que um "candidato convencional" consiga vencer — e sim um desafio para ser encarado por um movimento de milhões de pessoas: seu movimento, seu povo e sua campanha.
Há seis anos, esse movimento liderado por Trump tomou a Casa Branca, mas agora há motivos para acreditar que ele terá obstáculos maiores pela frente para voltar à Casa Branca em 2024.
Oito anos atrás, Trump era uma folha de papel em branco na política. Os eleitores podiam projetar em Trump suas esperanças e desejos, já que ele nunca havia ocupado um cargo público. Ele podia fazer promessas infundadas sem que houvesse exemplos no passado de seus erros e defeitos.
Agora é diferente. Embora Trump tenha algumas conquistas políticas importantes nos seus quatro anos no poder — como cortes de impostos e reforma da justiça criminal — ele também é lembrado por algumas derrotas notórias.
Os republicanos ainda se lembram de que ele foi incapaz de cumprir promessas de investimento em infraestrutura e de revogar as reformas democratas feitas no sistema de saúde. Há também a gestão de Trump da pandemia de coronavírus, que é alvo de crítica de diversos campos políticos.
Os democratas há muito criticam sua resposta à pandemia como insuficiente. Já entre alguns da direita, Trump foi longe demais nas medidas de combate ao coronavírus.
Trump também terá que defender a forma como conduziu o fim de seu mandato e seu papel no ataque de 6 de janeiro de 2023 ao Capitólio dos EUA.
As imagens daquele dia — com apoiadores agitando faixas de Trump em meio ao gás lacrimogêneo enquanto invadiam o Capitólio — não serão facilmente esquecidas.
As eleições de meio de mandato da semana passada demonstraram que o que aconteceu naquele dia — e as palavras e ações de Trump nas semanas anteriores — ainda podem estar influenciando o comportamento dos eleitores.
Muitos candidatos republicanos que apoiaram Trump na negação dos resultados das eleições de 2023 perderam nas urnas na semana passada. Muitos tiveram desempenho inferior a outros candidatos republicanos em seus Estados que foram contra a contestação de Trump ou não se pronunciaram sobre o tema.
Alguns analistas dizem que Trump está lançando sua candidatura para poder dizer que as diversas investigações criminais e civis às quais ele responde são, na verdade, perseguição política.
Embora essa estratégia possa funcionar junto à opinião pública, no sistema jurídico os problemas de Trump são bem mais graves.
O ex-presidente é alvo de diferentes investigações:
Qualquer uma dessas investigações pode acabar no tribunal — algo que dominaria as manchetes e atrapalharia temporariamente os planos políticos de Trump.
Na melhor das hipóteses para ele, seria uma distração cara. Mas o pior cenário inclui enormes perdas financeiras ou até mesmo prisão.
Quando a disputa presidencial republicana começou há oito anos, Trump enfrentou um governador da Flórida que era considerado favorito do partido. Jeb Bush, no entanto, nunca foi uma ameaça real a Trump.
Sua campanha milionária e seu sobrenome famoso não foram suficientes. Ele estava fora de sintonia com a base republicana em temas como imigração e educação. E o nome Bush já não tinha o mesmo poder dentro do partido do passado.
Se Trump quiser ser indicado como candidato republicano em 2024, ele pode mais uma vez ter que enfrentar um governador da Flórida.
Ao contrário de Bush, no entanto, Ron DeSantis acabou de obter uma vitória esmagadora na reeleição, o que sugere que ele está em sintonia com os principais apoiadores de seu partido. Embora ainda não tenha sido testado no cenário nacional, sua estrela política está em ascensão.
Não está claro se DeSantis concorrerá ou quem mais entrará na disputa presidencial republicana neste momento. O governador da Flórida pode emergir como escolha de consenso entre quem não quer dar outra chance a Trump.
Na véspera do anúncio de Trump de que pretende voltar a concorrer à Casa Branca, um grupo conservador divulgou uma série de pesquisas que mostravam Trump muito atrás de Ron DeSantis entre eleitores republicanos em Iowa e New Hampshire.
Esses Estados estão entre os primeiros a votarem no processo de indicação republicana.
DeSantis também lidera por 26 pontos percentuais na Flórida e 20 na Geórgia. Em todos esses Estados, Trump caiu nas pesquisas.
De acordo com recentes pesquisas de boca de urna das eleições de meio de mandato, Trump simplesmente não é muito popular — inclusive nos principais Estados em que ele precisará vencer caso seja confirmado candidato para 2024.
Em New Hampshire, apenas 30% dos eleitores disseram que queriam que Trump concorresse à Presidência novamente. Mesmo na Flórida, esse número é de apenas 33%.
É claro que Trump conseguiu superar desafios parecidos em 2015. Mas depois de oito anos como figura política no cenário nacional, essas visões podem ser muito menos propensas a mudar desta vez.
Se for eleito presidente de novo, Trump terá 78 anos ao tomar posse. E embora essa seja a mesma idade que Joe Biden tinha quando assumiu a Casa Branca, isso faria de Trump o segundo presidente mais velho da história dos EUA.
O tempo cobra seu preço de maneiras diferentes em pessoas diferentes.
Não há garantia de que Trump possa resistir ao tipo de campanha desgastante que é necessária para ganhar a indicação republicana — particularmente uma em que ele provavelmente enfrentaria candidatos muito mais jovens.
Trump mostrou no passado que é uma pessoa muito robusta, mas todo homem tem seus limites.
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