Em tempos de Copa do Mundo, o provocador Viktor Orbán usa futebol para causar incidente diplomático
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, durante encontro com jogadores da seleção nacional na Copa, vestindo um cachecol com o desenho do mapa da 'Grande Hungria', em 22 de novembro de 2022. — Foto: Reuters
Embora a seleção nacional não esteja na Copa do Mundo, o premiê-criador-de-casos da Hungria, Viktor Orbán, se deixou fotografar usando um cachecol esportivo com o desenho do mapa do país em sua configuração do período anterior à Primeira Guerra Mundial.
A chamada "Grande Hungria" englobava partes de seus vizinhos contemporâneos Ucrânia, Áustria, Eslováquia, Romênia, Croácia e Sérvia.
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A imagem aparentemente casual do encontro entre o primeiro-ministro ultranacionalista com um jogador de futebol da seleção húngara, se deu no domingo, durante um amistoso com a Grécia, em Budapeste, quase ao mesmo tempo em que a Copa do Mundo começava em Doha, no Qatar.
O cachecol de Orbán passou uma mensagem subliminar que irritou, sobretudo, Ucrânia e Romênia. Ambos os países protestaram contra o que chamaram de manifestação revisionista de Orbán e acionaram seus embaixadores em Budapeste.
A Hungria integrava o Império Austro-Húngaro e amargou perdas de boa parte de seu território após a derrota na Primeira Guerra. Assinado em junho de 1920, o Tratado de Trianon restabeleceu as novas fronteiras do país, que de 325 mil quilômetros quadrados foi reduzido a 93 mil quilômetros quadrados.
Pressionado a pedir desculpas, Orbán desdenhou a polêmica. “Futebol não é política. Não leiam coisas que não estão lá. A seleção húngara pertence a todos os húngaros, onde quer que vivam!”, postou o premiê em sua conta no Facebook. Ele se referia aos 2 milhões de conterrâneos que moram nos países vizinhos, dos quais 1,2 milhão na Romênia e 150 mil na Ucrânia.
Orbán costuma exercer com afinco a arte da provocação e consegue chocar seus desafetos. Num discurso, em julho passado, defendeu a pureza étnica para o futuro do país e idealizou “uma raça húngara sem misturas”, assegurando: “Nós, húngaros, não somos mestiços e não queremos nos tornar mestiços.”
Tradicional aliado de Vladimir Putin, Orbán foi praticamente forçado, pelos parceiros da União Europeia, a condenar a invasão da Rússia na Ucrânia. Opôs-se às sanções aplicadas pelo bloco, mas, visivelmente a contragosto, votou a favor delas.
Em nova bravata, ele antecipou que não apoiará o pacote bilionário de assistência à Ucrânia, previsto no orçamento da UE do próximo ano, e que não está disposto a pôr os interesses do povo ucraniano acima de seu próprio país.
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