População negra de SP é 10 vezes maior no Jardim Ângela do que em Moema, diz Mapa da Desigualdade: 'Apartheid territoria
Moema, região nobre da Zona Sul, concentra apenas 5,8% de pretos ou pardos — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Dados do Mapa da Desigualdade divulgados nesta quarta-feira (23) pela Rede Nossa São Paulo e Instituto Cidades Sustentáveis apontam que os negros vivem mais em bairros da periferia da capital paulista.
O Jardim Ângela, no extremo da Zona Sul de São Paulo, tem o maior percentual de negros da cidade: 60,1%. A taxa é 10,3 vezes maior do que a de Moema, região nobre da Zona Sul, que concentra apenas 5,8% de pretos ou pardos.
Na sequência, o distrito com maior população negra é o Grajaú, também na Zona Sul, com 56,8% dos moradores. Já o segundo com menos pretos e pardos é o Alto de Pinheiros, área nobre da Zona Oeste, com 8,1%.
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O Mapa da Desigualdade é um levantamento anual feito desde 2012 que usa informações públicas para medir a diferença entre os 96 distritos da capital em áreas como saúde, educação, moradia e cultura. O objetivo é ampliar o acesso às informações e auxiliar na elaboração de políticas públicas.
Para o reitor e professor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, a desigualdade racial que se apresenta há anos na capital é como o apartheid vivido na África do Sul, mas no âmbito territorial de São Paulo.
"Ou seja, as bibliotecas estão na área central da cidade e não nas periferias. As casas de shows, postos de saúde, até mesmo as instalações do poder público estão todas no centro. São as pessoas que tem que sair do 'fundão' para vir até a cidade, porque essa estrutura não chega lá".
Ainda conforme o reitor, para que a situação de ter bairros periféricos com concentração da população negra é transformá-los em locais com equipamentos públicos.
"Então, a partir disso, temos que levar o 'centro da terra' até a periferia com as bibliotecas, postos de saúde, postos do Poupatempo, Procon, polícia, equipamentos culturais, que estão no ‘centro da terra’. Através disso, todos podem fazer esse trânsito da periferia entre centro tranquila e serena".
Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Saudáveis e Rede Nossa São Paulo, ressalta que os números mostram dois movimentos: como oferecer mais espaço para esse grupo e como melhorar o local onde estão se concentrando.
"Primeiro temos que pensar 'como que a gente pode estar oferecendo mais espaços para os negros, como moradia, emprego?' O Plano Diretor de SP propõe uma cidade saudável que tem uma mistura de tudo, de segmentos econômicos, racial. Então, quanto mais mistura que tivermos, é melhor. Por um lado, é um movimento de propor condição de habitação e emprego para que essas pessoas consigam se fixar em determinadas regiões. E por outro lado melhorar as condições de onde elas estão, garantindo investimentos em lugares mais vulneráveis", ressalta.
2 de 4 População preta e parda nos distritos de SP — Foto: Divulgação/Mapa da DesigualdadePopulação preta e parda nos distritos de SP — Foto: Divulgação/Mapa da Desigualdade
3 de 4 População preta e parda na capital paulista — Foto: Divulgação/Mapa da DesigualdadePopulação preta e parda na capital paulista — Foto: Divulgação/Mapa da Desigualdade
O distrito com maior proporção de população jovem — de 0 a 29 anos — é Parelheiros, com 49,4%. Já os que concentram menos jovens são Consolação (22,7%), Jardim Paulista (24,3%), Pinheiros (25,5%) e Vila Mariana (25,7%). A média geral de São Paulo é 39,9.
Já em relação à população infantil, de 0 a 6 anos, Parelheiros é o distrito que mais concentra crianças com 11,6%. O que menos tem população infantil é Alto de Pinheiros, com 5,4%.
4 de 4 Comunidades da Vila Andrade contrastam com o luxo de mansões do Panamby, na Zona Sul de SP — Foto: Celso Tavares/G1
Comunidades da Vila Andrade contrastam com o luxo de mansões do Panamby, na Zona Sul de SP — Foto: Celso Tavares/G1
O Mapa da Desigualdade também apontou que a Vila Andrade tem 32,7% de domicílios em favelas enquanto 10 distritos aparecem com valor nulo, sendo: Alto de Pinheiros, Bela Vista, Cambuci, Consolação, Jardim Paulista, Moema, Perdizes, República, Santa Cecília e Sé. A média de São Paulo é de 9,4.
Segundo o levantamento, o número de domicílios em favelas é um dado estimado a partir de vistorias técnicas programadas pela Secretaria de Habitação (SEHAB). Os dados são atualizados conforme as necessidades de intervenção e vistorias técnicas.
Algumas favelas e núcleos estão localizados na divisa entre dois ou três distritos. Nestes casos, o número de domicílios contabilizado pelo estudo foi proporcional a parte da favela/núcleo que está intersectando com o distrito.
Para os pesquisadores, assentamentos informais são um reflexo de uma sociedade desigual, que não oferece moradia para a população mais vulnerável. E em função desta falta de políticas públicas, muitas vezes, essa população se estabelece em ocupações irregulares e áreas de risco, sem nenhuma segurança jurídica.
3,8% dos moradores de M'Boi Mirim vivem em áreas de risco, sendo a subprefeitura que mais concentra esse tipo de moradia. A média da cidade de São Paulo é de 1,04%.
Já outras 11 subprefeituras apresentaram resultado nulo, sendo: Mooca, Parelheiros, Penha, Pinheiros, Santana, Santo Amaro, São Mateus, São Miguel, Sé, Vila Maria/Vila Guilherme e Vila Mariana. O número de moradias em setores de risco geológico e hidrológico
Conforme a pesquisa, o número de moradias em setores de risco geológico e hidrológico alto e muito alto é obtido a partir da contagem de telhados. Esta contagem é feita utilizando-se de recursos de geoprocessamento e imagens aéreas.
O cálculo foi feito pelo número total de domicílios em setores de risco geológico e hidrológico alto ou muito alto dividido pelo número total estimado de domicílios particulares permanentes multiplicado por 100.
A 💥️taxa de oferta de emprego formal, por 10 habitantes participantes da população em idade ativa (PIA), por distrito, aponta que 💥️Barra Funda é o distrito que mais tem oferta de emprego formal, com valor de 67,1.💥️ Já 💥️Cidade Tiradentes foi o que apresentou o pior valor, com 0,3. A média da capital é de 4,3.
A pesquisa ressalta que a Relação Anual de Informações Sociais é um relatório publicado anualmente desde 1975, que levanta dados estatísticos sobre as atividades trabalhistas, a fim de verificar questões como quantidade de empregos formais, número de demissões, novas funções criadas, que setor realizou mais contratações etc.
Diferentemente do indicador “renda média familiar mensal”, que colhe os dados a partir de quem recebe e utiliza a renda (família) e contempla todos os tipos de renda que pode haver como fonte (emprego formal, emprego informal, políticas governamentais, renda não declarada), este indicador traz informações sobre o empregador e sobre as vagas de emprego formal que ele oferece.
Em relação à 💥️remuneração média mensal do emprego formal, quem trabalha em São Domingos recebe 7 vezes mais de quem atua em Brasilândia. Em São Domingos, a média é de R$ 7.498,6, enquanto a de Brasilândia é de R$ 1.693,8.
O Mapa da Desigualdade fez o levantamento da proporção de centros culturais, espaços e casas de cultura para cada 10 mil habitantes, por distrito. E o estudo registrou o melhor valor no distrito República, no Centro, com 0,8%. Já os piores valores apareceram em 62 distritos, com resultados nulos.
A pesquisa não contabiliza os equipamentos administrativos e ocupações culturais, diferenciando-se da metodologia da Secretaria Municipal de Cultura. Com isso, o cálculo é feito através do número de centros culturais, espaços e casas de cultura (municipais) dividido pelo número da população total do distrito multiplicado por 10 mil.
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