Trump a presidente vai significar derrota da Ucrânia na Guerra? O que dizem os especialistas - Executive Digest

Com Donald Trump preparado para iniciar seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos em janeiro de 2025, a Ucrânia enfrenta uma mudança decisiva no apoio que recebe para resistir à agressão russa. Durante sua campanha, Trump afirmou que poderia pôr fim à guerra em 24 horas, ao pressionar ambos os lados para negociarem um acordo de paz. Além disso, expressou publicamente seu descontentamento com a quantidade de fundos que os EUA enviam à Ucrânia como ajuda militar.

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que se intensificou em 2022 mas tem raízes desde a anexação da Crimeia em 2014, transformou-se num impasse sangrento. Com ambos os lados a enfrentar elevadas perdas e recursos cada vez mais limitados, muitos questionam se a Ucrânia terá capacidade para manter a sua posição sem o apoio decisivo dos EUA. Com a entrada de Trump na Casa Branca, esta dúvida parece tornar-se mais pertinente.

A possível política de Trump para a Ucrânia

O CEO da Rasmussen Global, Fabrice Pothier, argumenta em entrevista à Newsweek que Trump, como alguém que se vê como um “negociador implacável”, poderia considerar a entrada da Ucrânia na NATO como base para um acordo de paz. Segundo o especialista, integrar o país na aliança atlântica, embora complexo, custaria menos aos contribuintes norte-americanos a longo prazo do que continuar a fornecer ajuda militar a uma Ucrânia independente fora da NATO.

No entanto, Pothier ressalta que, com a vitória de Trump, o poder de negociação da Ucrânia provavelmente será enfraquecido. Para o responsável, é pouco provável que a Ucrânia alcance o objetivo de recuperar o território perdido para a Rússia, incluindo a Crimeia e as áreas do Donbass. “Kyiv terá de fazer concessões que não eram esperadas caso fosse Harris a ocupar a Casa Branca”, sublinha Pothier.

Charles Kupchan, do Council on Foreign Relations, partilha de uma visão semelhante, sugerindo que a Ucrânia estava numa posição vulnerável mesmo antes da vitória de Trump. De acordo com o especialista, o país tem enfrentado dificuldades, perdendo mais territórios e lutando com limitações em termos de mão-de-obra e armamento. Kupchan considera que, com a eleição de Trump, a Ucrânia deverá dialogar com os EUA e os seus aliados da NATO para procurar um plano diplomático para pôr fim ao conflito.

Um equilíbrio frágil de forças no campo de batalha

Outro especialista, Barry R. Posen, professor de Ciências Políticas do MIT, reforça que o tempo recente já tinha demonstrado as dificuldades de uma vitória ucraniana no terreno. A Rússia, apesar das perdas significativas, continua com força militar superior. Com Trump a assumir a presidência, Posen sugere que a probabilidade de a Ucrânia reverter os ganhos territoriais russos torna-se ainda mais remota. Segundo o especialista, os EUA, sob Trump, podem oferecer uma ajuda limitada, mas a noção de um apoio militar abrangente parece improvável.

James Carafano, conselheiro sénior da Heritage Foundation, considera que a segurança de uma Ucrânia livre é de interesse dos EUA, mas reconhece que Trump irá exigir uma abordagem mais clara e sustentável para resolver o conflito. Carafano sugere que os interesses dos EUA e da Ucrânia poderão convergir, com a possibilidade de um plano que priorize a reconstrução do país e um cessar-fogo viável.

Apoio a longo prazo à Ucrânia sob Trump é incerto

Dr. Jamie Shea, do Chatham House, acredita que ainda é cedo para determinar com precisão qual será a abordagem de Trump em relação à Ucrânia.  Segundo destaca, que há um apoio significativo à Ucrânia entre os republicanos, o que poderia limitar a influência do novo presidente em cortar o financiamento. Contudo, Shea frisa que Trump vai exigir uma estratégia mais realista e credível para resolver o conflito, possivelmente pressionando a Europa e a NATO a assumirem uma maior responsabilidade.

Shea também alerta para o papel que outros aliados de Moscovo, como China, Irão e Coreia do Norte, têm desempenhado no fortalecimento da posição russa. Este apoio muda o cálculo geopolítico dos EUA e pode complicar qualquer tentativa de retirada abrupta do apoio à Ucrânia.

Trump procura um acordo, mas qual será o custo para a Ucrânia?

O Professor Mark Webber, da Universidade de Birmingham, considera que Trump poderá, de facto, tentar negociar com o Kremlin após a sua posse, mas rejeita a visão de que Trump irá “apaziguar” Putin. Segundo afirma, Trump vê-se como um estratega que irá exigir vantagens para os EUA, e não permitirá que Putin capitaliza a boa vontade norte-americana sem compensações.

Victoria Vdovychenko, professora e diretora do Programa de Estudos de Segurança do Centro de Estratégias de Defesa, defende que, com a vitória de Trump e uma maioria republicana no Congresso, o controlo sobre o apoio financeiro à Ucrânia passará a estar nas mãos de um só partido. No entanto, Vdovychenko expressa dúvidas sobre a eficácia de qualquer plano que exija que a Ucrânia ceda territórios em troca de uma promessa de paz, como foi proposto por alguns assessores de Trump.

Conclusão: o destino da Ucrânia depende de vários fatores

A questão central para os analistas passa por compreender se Trump irá suspender a ajuda militar e financeira já aprovada pelo Congresso norte-americano. Este apoio, estimado em 61 mil milhões de dólares, foi essencial para a capacidade de resistência de Kyiv. Especialistas observam que a continuidade deste auxílio é fundamental, pois sem este a Ucrânia dependerá ainda mais de um consenso bipartidário no Congresso dos EUA.

Para a Ucrânia, o futuro é incerto. Como destaca Vdovychenko, a resistência ucraniana está a ser desafiada não apenas pelas forças russas, mas também pelas pressões internas e externas para que chegue a um acordo, possivelmente a expensas de uma parte do seu território.

A perspetiva de Trump enquanto presidente aponta para uma abordagem de negociação, com potencial para limitar o envolvimento militar direto dos EUA e transferir mais responsabilidades para os parceiros europeus. Resta saber se o preço deste pragmatismo será suportável para a Ucrânia e seus aliados, num cenário onde o equilíbrio geopolítico está a mudar rapidamente.

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