Idec e mais de 50 organizações acionam MP contra edital da Prefeitura de SP que quer contratar sistema de monitoramento facial
Reconhecimento facial é uma tecnologia utilizada em controles de acesso — Foto: Shutterstock
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin) e mais de 50 organizações sociais protocolaram nesta quarta-feira (30) no Ministério Público do Estado uma representação contra o edital da Prefeitura de São Paulo que prevê a contratação de um sistema de câmeras de reconhecimento facial.
A iniciativa municipal, chamada de “Smart Sampa”, pretende instalar e integrar 20 mil câmeras até 2024 com investimento de R$ 70 milhões por ano. O pregão eletrônico, de acordo com o edital, está previsto para acontecer na próxima segunda-feira, dia 5 de dezembro.
As imagens captadas serão analisadas por “técnicos da Central de Monitoramento”, mas não é detalhado quem irá compor esse grupo.
Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que, "mesmo desconhecendo as informações apuradas pela TV Globo, esclarece que o programa Smart Sampa tem como objetivo principal fazer São Paulo avançar no conceito de cidades inteligentes, aprimorando a prestação de serviços e criando ferramenta para que a segurança pública seja cada vez mais preventiva" 💥️(leia a íntegra abaixo).
Um dos pontos mais questionados por essas organizações é o reconhecimento facial e a identificação de características físicas como a cor de pele que poderá ser feito pelas câmeras. Segundo Raquel Rachid, pesquisadora do Lapin e doutoranda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), este é um exemplo de ‘’racialização da segurança’’.
“A menção do suposto uso para segurança pública não é verdadeira. Já foram noticiadas várias pessoas inocentes que foram presas injustamente, com auxílio da tecnologia ou não. O perfil é, na maioria, o mesmo: pessoas negras ou trans. No fim das contas, esse projeto da Prefeitura de São Paulo será um gasto de dinheiro público”, afirma a pesquisadora.
No edital, também está presente o monitoramento de ‘’vadiagem’’, que poderia ser considerada uma ação ‘’suspeita”. A Lei de Contravenções, de 1941, prevê pena de 15 dias a três meses a quem habitualmente “se entregar à ociosidade”. Porém, na edição do Diário Oficial do Município desta quarta-feira, o termo foi retirado do edital.
O projeto da prefeitura também quer monitorar as mídias sociais de quem vive em São Paulo. De acordo com a nota, essa ação tem o “objetivo de criar um canal de comunicação com a população, acompanhando marcadores em postagens públicas, hashtags, menções de órgãos públicos e comentários em postagens nos canais oficiais dos serviços municipais”.
“Essa proposta das redes sociais vai além do que é de competência do município. Ultrapassa a liberdade de expressão de alguém. É um monitoramento massivo que não é de responsabilidade da cidade”, explica a pesquisadora.
O Lapin e as outras organizações integram a Coalizão Direitos na Rede, que reúne movimentos em defesa dos direitos digitais. Eles idealizaram a campanha #TireMeuRostoDaSuaMira em junho deste ano, que propõe para toda a sociedade brasileira refletir sobre os riscos do uso do reconhecimento facial.
De acordo com a carta aberta publicada no site tiremeurostodasuamira.org.br, o uso de monitoramento massivo pode ferir tratados internacionais assinados pelo Brasil, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP).
A TV Globo também entrou em contato com o MP pedindo posicionamento sobre os questionamentos, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
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