China: governo rastreia celulares para perseguir manifestantes contra Covid Zero

"Prefiro não falar com você por telefone, nem por aplicativo de mensagens criptografadas”, explicou Mianhua, pseudônimo adotado por uma mulher que se dispôs a falar com o jornalista da RFI. O encontro foi marcado perto de um parque no sul da capital.

Depois de 20 minutos de espera no frio, ela surge de bicicleta, com o sorriso aberto e óculos vintage. A conversa aconteceu perto de um pequeno canal cercado de árvores, onde há poucas chances de ter câmeras de vigilância.

Mianhua, 35 anos, moradora de Pequim, participou de um protesto na noite de domingo (27) para exigir o fim das restrições sanitárias. É a primeira vez em mais de três décadas que a população vai às ruas da capital, principalmente mulheres, muito afetadas por três anos de política de Covid Zero.

Manifestante é imobilizado por policiais durante protesto em Xangai, na China, em 27 de novembro de 2022. — Foto: Associated Press 1 de 2 Manifestante é imobilizado por policiais durante protesto em Xangai, na China, em 27 de novembro de 2022. — Foto: Associated Press

Manifestante é imobilizado por policiais durante protesto em Xangai, na China, em 27 de novembro de 2022. — Foto: Associated Press

Foi também a primeira vez que policiais fardados, visivelmente sem diretivas, às vezes parecendo desnorteados, tentaram parar e cercar os manifestantes. O trabalho de repressão começou nas horas seguintes.

A jovem acredita que a polícia a tenha seguido e a localizado através de seu próprio telefone. As autoridades realizaram inspeções aleatórias do conteúdo dos smartphones de usuários em várias cidades. “Manifestantes tiveram seus telefones confiscados no metrô, outros na rua”, explica o advogado Wang Shensheng.

“Alguns então desapareceram, como a estudante que começou os protestos com uma folha em branco em público”, continua. “Não temos mais notícias dela. Outros foram interrogados sob custódia policial por perturbação da ordem pública”, disse o advogado à RFI.

Manifestante segurando um pedaço de papel em branco na China — Foto: Tyrone Siu/Reuters 2 de 2 Manifestante segurando um pedaço de papel em branco na China — Foto: Tyrone Siu/Reuters

Manifestante segurando um pedaço de papel em branco na China — Foto: Tyrone Siu/Reuters

A manifestante de Pequim conta que havia um policial "bom" e um "malvado" na delegacia. O policial simpático “reduziu” seu tempo de presença em protesto, enquanto o outro, “mais durão”, se recusou a fechar a janela durante o interrogatório, apesar do ar gelado do inverno de Pequim. “Ele queria que eu dissesse que os estrangeiros nos incitaram a manifestar. Também me perguntaram se recebi dinheiro do exterior, o que obviamente não é o caso”. E para poder ser liberada, Mianhua teve de assinar uma carta na qual se comprometia a não participar de “reuniões ilegais”.

Mas as ameaças não desmotivaram Minhua. Para ela, assim como para outras manifestantes, o que aconteceu no último fim de semana passado marca uma virada. Questionada sobre a presença massiva de jovens mulheres à frente das manifestações, ela cita uma geração que sente "asfixiada" e que sofreu muito com os lockdowns. "Pequim é uma cidade privilegiada comparada a muitas cidades da China, mas não é por isso que estamos indiferentes ao que está acontecendo longe daqui", diz.

A vigilância e pressão policial obrigam os manifestantes a serem cuidadosos. “Estou um pouco assustada agora, porque sei que fui fichada. Toda vez que vejo um carro de polícia, fico nervosa. Quando saio de casa, apago todos os aplicativos suspeitos do meu celular. Em seguida, eu tiro o chip do meu smartphone, para evitar que eles me sigam”, conta Minhua.

Além do receio com aplicativos de celular e tecnologia de reconhecimento facial, há também o medo de ser pego com aplicativos estrangeiros como Instagram ou serviços de mensagens criptografadas como Telegram e Signal, acessíveis apenas com VPN na China. “A polícia identificou alguns manifestantes e, no dia seguinte, os aplicativos de seus telefones foram hackeados, ou pelo menos houve tentativas de conexão”, disse o advogado Wang.

O que você está lendo é [China: governo rastreia celulares para perseguir manifestantes contra Covid Zero].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...