Irmã do líder supremo do Irã apoia protestos e denuncia regime "despótico"
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, em Teerã, sábado, 26 de novembro de 2022 — Foto: AP
Em uma carta publicada nesta quarta-feira na internet, Badri Hosseini Khamenei, irmã do líder supremo da República Islâmica do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, denunciou um regime "despótico". No texto publicado por seu filho Mahmoud Moradkhani, radicado na França, ela disse que apoia o movimento de protesto desencadeado há quase três meses pela morte da jovem Mahsa Amini.
"Eu me oponho às ações do meu irmão" Ali Khamenei, escreveu ela. “Expresso minha solidariedade às mães que lamentam os crimes cometidos pelo regime da República Islâmica desde a época de [seu fundador, aiatolá Ruhollah] Khomeini até o atual período do califado despótico de Ali Khamenei”, continua. "Minha preocupação sempre foi e sempre será o povo iraniano, especialmente as mulheres", continuou Hosseini em sua carta, acusando o regime de trazer "nada além de sofrimento e opressão aos iranianos".
"Como todas as mães enlutadas iranianas, eu também estou triste por estar longe da minha filha. Quando prendem minha filha com violência, é claro que aplicam milhares de vezes mais violência a outros meninos e meninas oprimidos que são submetidos a crueldade desumana", compara.
"Durante os últimos vinte anos, minha filha Farideh suportou todos os tipos de dificuldades e prisões por causa de suas atividades de direitos humanos, incluindo apoio a prisioneiros políticos e suas famílias, tentando impedir execuções injustas", declarou. "Como meu dever humano, muitas vezes levei a voz do povo aos ouvidos do meu irmão Ali Khamenei. Porém, depois de ver que ele não deu ouvidos e continuou a trajetória de Khomeini, ao reprimir e matar pessoas inocentes, cortei meu relacionamento com ele", acrescenta ela na carta.
Badri Hosseini explica que a oposição e a luta de sua família contra "esse sistema criminoso começou alguns meses depois da revolução". Ela escreve que "os crimes deste sistema, a supressão de qualquer voz dissidente, a prisão dos jovens mais instruídos e as punições severas começaram desde o início".
Na carta, Hosseini afirma que o seu marido, Ali Tehrani, também foi contra o sistema teocrático de governo do Irã. "Ele era a voz do desejo de liberdade do povo e por isso enfrentou todos os tipos de dificuldades, incluindo a prisão" (na década de 1980).
"O povo iraniano merece liberdade e prosperidade, e sua revolta é legítima e necessária para fazer valer seus direitos", finaliza a irmã do aiatolá Khamenei, dizendo esperar "a derrubada desse poder tirânico no Irã".
Alegando problemas de saúde que a impediram de participar dos protestos, Badri Hosseini Khamenei atacou o irmão que "não ouve a voz do povo". Ela também pediu aos guardas revolucionários que deponham as armas e parem de atacar os civis.
Nesta quarta-feira terminou uma greve que durou três dias no Irã. O presidente Ebraïm Raissi foi à Universidade de Teerã, um dos focos dos protestos que já duram quase três meses no país. O regime iraniano se vê confrontado por uma revolta sem precedentes, que resultou em grandes manifestações fortemente reprimidas.
Esta quarta-feira é Dia do Estudante no Irã, uma data que sempre foi de protestos no país. Em um discurso na Universidade de Teerã, o presidente ultraconservador falou para um público de jovens visivelmente escolhidos pelo regime.
As autoridades iranianas tentam conter as manifestações, que descrevem como "motins" fomentados no exterior e, em particular, pelo inimigo jurado do Irã, os Estados Unidos, bem como por seus aliados, como o Reino Unido e Israel.
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