Política na arquibancada: como as torcidas do Marrocos usam os jogos de futebol para expressar suas insatisfações
O Marrocos, que neste sábado (10) eliminou Portugal na oitava-de-final da Copa do Mundo, tem uma cultura de torcidas com uma peculiaridade: as organizadas são muito politizadas e fazem críticas ao Estado e campanhas.
Apesar de serem relativamente recentes, as torcidas organizadas dos clubes são muito presentes nos estádios, um dos locais onde ainda há certa liberdade de expressão no país, de acordo com um artigo do pesquisador britânico Christopher Cox, da Universidade de Exeter.
Entre os cantos politizados das organizadas, se destacam os seguintes:
1 de 1 Torcedores marroquinos em Casablanca, em 6 de dezembro de 2022 — Foto: Abdelhak Balhaki/Reuters
Torcedores marroquinos em Casablanca, em 6 de dezembro de 2022 — Foto: Abdelhak Balhaki/Reuters
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As maiores organizadas são a dos times Raja Casablanca e Wydad. Os dois são de Casablanca, e os dois têm como rival um outro time, o ASFAR, o “time do rei”. Foi um clube criado pelo rei Hassan II. O nome completo é Clube Associação Esportiva das Forças Armadas Reais. Para os rivais, é um time que recebeu favores e contratos do Estado, especialmente nos anos 1960, 1970 e 1980.
Nos estádios também há muita iconografia da família real.
Por isso, faz sentido que as torcidas adversárias do time do rei se voltem contra a monarquia, por exemplo.
No Marrocos, as primeiras organizadas surgiram por volta de 2005, e rapidamente surgiram grupos desse tipo para todos os grandes times marroquinos.
Em 2011 houve ondas de protestos em diversos países de língua árabe, inclusive no Marrocos. Foi a chamada Primavera Árabe.
Os estádios, no entanto, ainda são um espaço de liberdade de expressão. Além das músicas, as torcidas têm um histórico de campanhas no país:
Na mídia estatal, as organizadas são estigmatizadas como violentas. Nos estádios, a polícia já reagiu de forma agressiva. No entanto, o governo marroquino tem dificuldade de interferir na politização das torcidas.
Em 2016, houve uma tentativa de proibir as organizadas depois de uma briga em que três pessoas foram mortas.
A tentativa de proibição desatou uma união entre as torcidas, que fizeram campanhas e manifestações em conjunto.
Em 2018, o governo desistiu da proibição.
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