Argentinos se abstraem dos problemas e se entregam à liderança de Messi
Argentinos em Buenos Aires durante o jogo contra a Croácia — Foto: Agustin Marcarian/Reuters
“Meninos, agora voltamos a sonhar”, diz o refrão da canção que se tornou o hino da Argentina nesta Copa do Mundo e sai em uníssono, como um brado, das cordas vocais de jogadores e torcedores.
No último mês, a seleção liderada por Lionel Messi conseguiu agregar as diferentes correntes que cruzam o país e tornou-se um fator de coesão.
A batalha política acalmou, e até a inflação deu uma pequena trégua: o índice de novembro baixou pela primeira vez em 9 meses para 4,9%, embora o acumulado em um ano seja de 92,4%. O país que sobrevive entre crises cíclicas não quer, pelo menos até domingo, ouvir falar de problemas.
As rotineiras rixas partidárias, a condenação de Cristina Kirchner a 6 anos de prisão, o isolamento do presidente Alberto Fernández e a indefinição no cenário político para as eleições presidenciais do próximo ano deixaram de monopolizar as conversas, assim como a desvalorização do peso ou o índice de 6,9% de desemprego.
A garra e o espírito de união do time contagiaram os argentinos, que se aferram à Copa do Mundo como uma tábua de salvação e um alívio momentâneo para as profundas divisões políticas e dificuldades econômicas.
Em enquetes de rua, os torcedores admitem, sem hesitação, que preferem ver a Argentina campeã do mundo a ver a inflação baixar. No início da Copa, a própria ministra do Trabalho, Kelly Olmos, considerou não ver diferença entre os dois objetivos.
Atacada, ela voltou atrás e ordenou suas prioridades. “Quero baixar a inflação para 1% ao mês e quero também que os argentinos fiquem felizes por ganhar o Mundial e ver Messi ser campeão.”
O fato é que a Argentina se vestiu de azul branco e está paralisada em torno do bom desempenho do time na Copa. Os torcedores se abstraíram de outros assuntos.
“É sem dúvida uma clara lição para os que dirigem o país, um apelo a perceber que este é o caminho: encontrar um propósito comum”, atestou Roitberg em seu artigo no “Clarín”. Pelo menos até domingo, a população orgulhosa está totalmente entregue à liderança do capitão Messi.
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