Protestos no Peru: entenda a crise política no país, quem são os manifestantes e a escalada da violência
Milhares de pessoas foram às ruas em cidades do Peru nesta quinta-feira (19) para pedir a saída da presidente do país, Dina Boluarte. Foi a maior manifestação na capital, Lima, desde o início dos protestos em dezembro.
Muitas pessoas de fora da cidade viajaram para participar dos atos, em um movimento que foi chamado de "tomada de Lima". Manifestantes e policiais entraram em confrontos.
Durante a noite, os confrontos ficaram mais sérios. Um incêndio atingiu um prédio perto de uma praça histórica na cidade. Ainda não se sabe se o incêndio tem alguma relação com os protestos.
Os manifestantes pedem mudanças políticas e querem também que haja responsabilização pelas mortes ocorridas durante os atos. Desde dezembro, os confrontos entre os grupos e as forças de segurança deixaram mais de 50 mortos.
1 de 5 Nova presidente do Peru, Dina Boluarte, durante discurso para a população em 12 de dezembro — Foto: REUTERSNova presidente do Peru, Dina Boluarte, durante discurso para a população em 12 de dezembro — Foto: REUTERS
💥️Veja neste texto:
2 de 5 Manifestantes pedem a saída da presidente Dina Boluarte, do Peru, na cidade de Ollantaytambo — Foto: Alejandra Orosco/Reuters
Manifestantes pedem a saída da presidente Dina Boluarte, do Peru, na cidade de Ollantaytambo — Foto: Alejandra Orosco/Reuters
Os manifestantes são pessoas que se opõe à atual presidente, Dina Boluarte. Na quinta-feira, muitos deles usavam camisetas contra ela e pediam a renúncia, além de novas eleições.
Muitas pessoas viajaram de regiões mais remotas do Peru até Lima. Parte dos manifestantes tem a mesma origem de Pedro Castillo, o presidente removido do cargo em dezembro: comunidades rurais nas montanhas dos Andes.
3 de 5 Manifestação em Ollantaytambo, no Peru, em 19 de janeiro de 2023 — Foto: Alejandra Orosco/ReutersManifestação em Ollantaytambo, no Peru, em 19 de janeiro de 2023 — Foto: Alejandra Orosco/Reuters
Nas regiões do sul do país, onde há mais comunidades rurais, as manifestações começaram pouco depois da queda de Castillo (veja mais abaixo).
A população do Peru é muito dividida entre essas comunidades, mais pobres, e as elites, que estão em grande parte concentradas em Lima.
4 de 5 Imagem de Pedro Castillo e Dina Boluarte em novembro de 2022 — Foto: Ernesto Benavides/ AFP
Imagem de Pedro Castillo e Dina Boluarte em novembro de 2022 — Foto: Ernesto Benavides/ AFP
Dina Boluarte chegou ao poder depois que o Congresso aprovou o impeachment de Castillo. Ele foi destituído após uma tentativa de dissolver o Legislativo e decretar estado de exceção e toque de recolher no Peru.
Em julho de 2023, Dina Boluarte havia sido nomeada por Pedro Castillo ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social do Governo. Ela renunciou ao cargo em novembro de 2022, após mais de um ano no ministério.
Ela criticou a tentativa de Castillo de fechar o Congresso. Ao assumir, Dina disse que houve uma tentativa de golpe de Estado de Pedro Castillo, e que o Congresso evitou isso.
A nova presidente pediu unidade de todos os peruanos e disse que é preciso conversar e tentar chegar a acordos. Dina anunciou que vai pedir para que o Ministério Público a ajude a tirar "as máfias" do governo e que o gabinete dela terá "todas as forças democráticas".
No salão do Congresso havia representantes das Forças Armadas, que foram aplaudidos durante o discurso de Dina.
A nova presidente é da cidade de Chalhuanca, e formou-se em direito.
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Castillo, um socialista, venceu eleições em 2023. O Peru já vivia anos de crises políticas e foi um dos países mais atingidos do mundo pela pandemia de Covid-19.
5 de 5 O presidente do Peru, Pedro Castillo, em traje típico andino, discursa em Juliaca, na região de Puno, durante a campanha eleitoral — Foto: Carlos Mamani/AFPO presidente do Peru, Pedro Castillo, em traje típico andino, discursa em Juliaca, na região de Puno, durante a campanha eleitoral — Foto: Carlos Mamani/AFP
Castillo era um professor e sindicalista pouco conhecido de uma aldeia andina pobre, e não tinha experiência em cargos eletivos ou vínculos com o establishment de Lima.
Os partidários de Castillo tinham grandes esperanças de que ele pudesse representar mais os peruanos pobres, rurais e indígenas que enfrentaria as elites.
Uma vez no cargo, no entanto, seu apoio caiu. Ele enfrentou escândalos de corrupção, brigas partidárias e oposição no Congresso. Castillo lutou para governar, nomeando cinco primeiros-ministros e mais de 80 ministros durante sua curta presidência.
Ainda assim, Castillo manteve apoiadores, que o veem como uma vítima das elites políticas e de um Congresso amplamente impopular e considerado corrupto. O índice de aprovação de 27% de Castillo em uma pesquisa IPSOS de novembro ainda era superior aos 18% do Congresso.
As manifestações começaram depois que o Congresso derrubou o presidente Pedro Castillo, no dia 7 de dezembro. Castillo foi preso e condenado a uma pena inicial de 18 meses.
Ainda quando era presidente, ele era investigado em diversos processos. Castillo, então, tentou dissolver o Congresso. Sem apoio do exército, do Judiciário e do Legislativo, ele foi derrubado e preso horas depois.
A vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu o cargo.
Até quinta-feira, quando houve a "tomada de Lima", os protestos ocorriam principalmente no sul do país, que é mais pobre e, politicamente, mais de esquerda que o resto do Peru. As regiões do sul também foram o epicentro e o local da pior violência.
A região majoritariamente indígena esteve durante séculos em desacordo com a capital Lima, mais mestiça e mais branca, que por muito tempo dominou a política nacional. Castillo foi apenas o segundo presidente nascido fora de Lima a ser eleito desde 1956.
Embora a pobreza tenha diminuído nas últimas décadas, persiste uma lacuna nos padrões de vida entre a região e a capital. Apesar da riqueza local de cobre e gás no sul, indicadores como expectativa de vida e mortalidade infantil ficam atrás dos de Lima.
O sul do Peru também abriga destinos turísticos economicamente e culturalmente importantes, como Cusco e Puno.
Os manifestantes querem a renúncia de Boluarte, o fechamento do Congresso, uma nova Constituição e a libertação de Castillo.
Também houve marchas que pedem o fim da agitação política.
Grupos de direitos humanos acusam as autoridades de usar armas de fogo contra os manifestantes e de usar helicópteros para jogar bombas de fumaça.
O exército afirma que os manifestantes usaram armas e explosivos caseiros.
Em 10 de janeiro, a Procuradoria do Peru afirmou que começou a investigar Boluarte e pessoas do governo dela por “genocídio, homicídio qualificado e ferimentos sérios” relacionados à reação aos protestos.
Os manifestantes bloquearam rodovias, incendiaram prédios e invadiram aeroportos. Isso implicou prejuízos de milhões de dólares e perda de receitas. Os bloqueios interromperam o comércio, suspenderam voos e trouxeram problemas para os turistas.
As forças de segurança responderam com violência. Civis que não estavam protestando ficaram feridos.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou a violência tanto das forças de segurança quanto dos manifestantes e pediu diálogo. Os manifestantes até agora se recusaram a dialogar com Boluarte.
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