De R$ 20 bilhões para R$ 43 bilhões: entenda a dívida da Americanas

Fachada das Lojas Americanas em Franca, no interior de SP. — Foto: IGOR DO VALE/ESTADÃO CONTEÚDO 1 de 1 Fachada das Lojas Americanas em Franca, no interior de SP. — Foto: IGOR DO VALE/ESTADÃO CONTEÚDO

Fachada das Lojas Americanas em Franca, no interior de SP. — Foto: IGOR DO VALE/ESTADÃO CONTEÚDO

O escândalo contábil reportado pela Americanas há pouco mais de uma semana continua como um dos principais assuntos do mercado — e a história ainda deve ter novos desdobramentos.

Após a Justiça do Rio de Janeiro aceitar o pedido de recuperação judicial feito pela companhia na quinta-feira (19), a empresa entrou no chamado “prazo de blindagem”, um período de 180 dias no qual todas as suas dívidas ficam suspensas.

Segundo informado pela varejista, o valor total de suas dívidas soma R$ 43 bilhões, entre cerca de 16,3 mil credores. Esse montante, no entanto, é muito maior do que os cerca de R$ 20 bilhões reportados pela companhia como dívida bruta no balanço do terceiro trimestre de 2022.

Entenda abaixo como essa quantia mais do que dobrou de lá para cá.

Em comunicado divulgado ao mercado na última semana, a varejista relatou que foram descobertas “inconsistências em lançamentos contábeis” em seus balanços financeiros no valor de R$ 20 bilhões. Veja a cronologia dos fatos.

Em conferência feita na manhã seguinte ao comunicado, Sergio Rial, presidente da Americanas que deixou o cargo menos 10 dias depois de ser empossado, explicou que o número não estava fora do balanço. “Só que ele não está registrado de forma apropriada ao longo dos últimos anos”.

Segundo especialistas, o rombo aconteceu por meio de uma linha de crédito conhecida como “risco sacado”, que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e uma instituição financeira.

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A operação de "risco sacado" pode funcionar de duas maneiras: com o fornecedor sendo o tomador de crédito — nesse caso, ele é quem se dirige ao banco e oferece as notas fiscais que ainda tem a receber, pedindo uma antecipação desse pagamento para a instituição financeira —, ou com a empresa sendo a tomadora de crédito — que, até onde se sabe, foi o que aconteceu no caso da Americanas.

Nesse último cenário, a empresa é quem se dirige ao banco, pedindo uma espécie de alongamento da dívida. Isso significa que a instituição financeira quita o contrato do fornecedor em nome da companhia — que, por sua vez, passa a dever a quantia para o banco, com a cobrança de juros, mas com um prazo maior de pagamento.

No caso da Americanas, o erro estaria na identificação desses gastos no balanço. Isso porque nas demonstrações financeiras, cada conta é reconhecida de um jeito.

Nessa situação, por exemplo, a operação envolve tanto uma transação comercial com fornecedores, como uma transação financeira com o banco, e precisa ser identificada das duas formas, inclusive acrescentando o valor dos juros cobrados pela instituição — e foi nessa última parte que o erro foi encontrado.

Esse montante lançado de forma errada no balanço seria equivalente a R$ 20 bilhões e é o que responde pelas “inconsistências contábeis” reportadas pela companhia.

Apesar de a Americanas ter reportado R$ 20 bilhões como dívida bruta no terceiro trimestre de 2022, a companhia informou no pedido de recuperação judicial feito à Justiça na quinta-feira (19), que o valor de suas dívidas era de R$ 43 bilhões, entre cerca de 16,3 mil credores.

Segundo os especialistas, 💥️essa quantia representa a soma da dívida bruta que a empresa já havia reportado no balanço do terceiro trimestre de 2022, de cerca de R$ 20 bilhões, 💥️com o total das inconsistências contábeis encontradas recentemente, de valor semelhante. Os R$ 43 bilhões são, portanto, o 💥valor total que a Americanas considera dever às instituições financeiras.

Com o deferimento do pedido de recuperação judicial pela Justiça no Rio de Janeiro, a expectativa é que a empresa apresente a primeira versão de um plano de reestruturação em até 60 dias, com as principais medidas a serem tomadas para balancear sua estrutura de capital.

Segundo os especialistas entrevistados pelo 💥️g1, o caso da Americanas ainda está em apuração por parte da Comissão de Valores Mobiliários(CVM) - que já tem sete processos administrativos abertos e chegou a criar uma força-tarefa para investigar eventuais irregularidades.

De acordo com o professor e especialista em negócios Fernando Moulin, parte do que explica os rumores que existem no mercado sobre uma possível fraude e má-fé por parte da companhia é o fato de os juros terem sido reportados de maneira inadequada no balanço.

Ele explica que o registro equivocado desses valores 💥️fez com que o lucro da Americanas fosse maior e ficasse mais alto do que realmente seria caso os números estivessem reconhecidos de maneira correta nos resultados.

Segundo a CVM, os processos administrativos abertos contra a Americanas vão apurar:

Em nota, a CVM informou que caso as investigações e apurações de fatos e eventos se mostrem ilícitas, "cada um dos responsáveis poderá ser devidamente responsabilizado". A autarquia ainda disse ter o apoio da Polícia Federal e do ministério Público Federal, além de estar "em constante diálogo com a Advocacia-Geral da União, notadamente a PRF2 [Procuradoria Regional Federal da 2ª Região], a fim de coordenar eventual atuação conjunta em juízo".

Em nota oficial enviada à imprensa, a Americanas afirmou que seguirá operando normalmente dentro das novas regras da recuperação judicial, "cujo um dos objetivos principais é a própria manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral".

Para tanto, a empresa informou que o grupo de acionistas referência da empresa, formado pela 3G Capital Partners — dos sócios Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Hermann Telles —, informou ao presidente do conselho de administração que pretende manter a liquidez da Americanas em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as suas lojas.

"Através deste comunicado, pedimos o engajamento de todos os colaboradores nesta nova fase e principalmente dos fornecedores com quem temos relações históricas. A história da Americanas segue com determinação rumo a uma nova fase, com o compromisso com a sociedade e disposta a construir soluções que possam vir atender aos credores da empresa", afirmou a empresa.

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