Famílias que vivem em ocupações no Largo Paiçandu, no Centro, temem ser despejadas pela Prefeitura de SP: 'Somos invisív

Ocupação Rio Branco, no Centro de São Paulo. — Foto: Reprodução/ TV Globo 1 de 5 Ocupação Rio Branco, no Centro de São Paulo. — Foto: Reprodução/ TV Globo

Ocupação Rio Branco, no Centro de São Paulo. — Foto: Reprodução/ TV Globo

Cerca de 300 famílias que vivem em uma ocupação no Complexo Boticário, no Centro de São Paulo, afirmam que não foram incluídas pela prefeitura no projeto Paiçandu Cultural, que pretende transformar o local em uma espécie de polo estudantil.

O projeto Paiçandu Cultural visa revitalizar e ceder quatro edifícios do largo - o Complexo Boticário, o ArtPalácio, o edifício Independência e a Galeria Olido - e o entorno no leque de parcerias público-privada (PPP) da prefeitura.

Segundo os moradores:

Ainda de acordo com quem vive na ocupação, o Complexo Boticário conta com um prédio de quatro andares e uma área térrea. Ao todo, são 69 apartamentos, sendo que cerca de oito deles, em cada andar, são de um único cômodo. Em três andares, os apartamentos possuem banheiros. No último, é compartilhado.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que dará continuidade ao projeto e "seu respectivo cenário de implementação" e que "caberá a Secretaria Municipal de Habitação tratar das ocupações dos edifícios".

Segundo a própria administração municipal, o projeto faz parte do Todos Pelo Centro e visa transformar as áreas da seguinte maneira:

Galeria Olido, no Centro de SP. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP 2 de 5 Galeria Olido, no Centro de SP. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

Galeria Olido, no Centro de SP. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

A prefeitura informou que ainda não há licitação para o projeto. A previsão é que o núcleo comece a funcionar em cinco anos.

Em 10 de janeiro, foi realizada uma audiência pública para tratar do assunto, porém, os moradores que vivem na ocupação alegam que não foram informados sobre a audiência.

“Na audiência não foi falado sobre habitação em nenhum momento. O que deu a entender é que o complexo está completamente vazio, e eles precisam povoar. Não teve discussão", completou.

Corredor da Ocupação Rio Branco. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP 3 de 5 Corredor da Ocupação Rio Branco. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

Corredor da Ocupação Rio Branco. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

Os moradores da Ocupação Rio Branco estão em clima de tensão. Sem saber como está andando a proposta da prefeitura, eles temem ser retirados do local a qualquer momento.

Eliofábia complementa: "Nós estamos com medo, estamos inseguros. Se eu falar para você que estou tranquila vou estar mentindo. Eu tenho três filhos, se nos tirarem daqui nós não temos para onde ir. Mas estamos preparados para qualquer coisa. Se preciso, vamos acampar na porta da casa do prefeito, não vamos cair sem luta. Quem não luta está morto”.

Apartamento na Ocupação Rio Branco. — Foto: Deslange Paiva/ g1 4 de 5 Apartamento na Ocupação Rio Branco. — Foto: Deslange Paiva/ g1

Apartamento na Ocupação Rio Branco. — Foto: Deslange Paiva/ g1

O advogado e coordenador da Central de Movimentos Populares em São Paulo, Benedito Roberto Barbosa, participou da audiência pública com a prefeitura e reclamou da inexistência de projetos voltados para a cultura negra, que é fortemente presente na região.

"Acaba com tudo que é popular para colocar uma coisa de interesse imobiliário. É uma lógica de expulsar, eles chamam isso de 'urbanismo de ativação', a gente está chamando de 'urbanismo de exclusão'. Vão expulsar as famílias de imediato. Não tem proposta para a questão educacional e mesmo onde disseram que vão atender estudantes a gente não sabe qual vai ser o custo dessa tal locação social porque vai ser administrada por uma empresa privada", emenodu.

Benedito afirmou também que as entidades e os movimentos sociais da região estão em contato com a prefeitura para tentar discutir melhor o projeto.

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo Paiçandu. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP 5 de 5 Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo Paiçandu. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo Paiçandu. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

O entorno da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que fica no largo, também foi incluído no projeto para receber a implementação de quiosques.

Em 19 de janeiro, a Defensoria Pública de São Paulo também emitiu um documento contestando o projeto por não contemplar as famílias e recomendando que o projeto seja paralisado.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que "a consulta pública do projeto Paiçandu Cultural, que indicou sugestões iniciais de projetos que poderão ser desenvolvidos no local, foi encerrada e as contribuições recebidas serão avaliadas".

Disse ainda que optou "pela continuidade do projeto e seu respectivo cenário de implementação" e que "caberá a Secretaria Municipal de Habitação tratar das ocupações dos edifícios, tomando as providências cabíveis para o tradicional atendimento das famílias envolvidas".

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