Lula diz que BNDES foi difamado por Bolsonaro e que Venezuela e Cuba pagarão dívidas com banco
Presidente discursou durante cerimônia de posse de Aloizio Mercadante no BNDES, nesta segunda-feira (6).
Lula afirmou que tem "certeza" que Cuba e Venezuela pagarão o que devem ao Brasil pois são países amigos.
O petista disse ainda que o BNDES deve priorizar o financiamento de micro e pequenos empreendedores.
Lula aproveitou a oportunidade para fazer novas críticas à taxa de juros imposta pelo Banco Central.
1 de 1 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento no BNDES, no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/TV BrasilO presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento no BNDES, no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/TV Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (6) que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi "vítima de um processo de difamação muito grave" nos últimos anos e que Cuba e Venezuela vão pagar, durante o governo dele, as dívidas que têm com a instituição.
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O petista deu as declarações durante cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como novo presidente do BNDES, no Rio de Janeiro.
"Este banco [o BNDES] foi vítima de difamação muito grave durante o último processo eleitoral. As narrativas, mesmo que mentirosas, valem mais do que verdades ditas muitas vezes. Vivemos nos últimos quatro anos um processo de mentira tresloucada", afirmou Lula.
O presidente classificou como mentiras contadas sobre o BNDES as falas sobre a suposta existência de uma "caixa-preta" na instituição; de que o banco deu dinheiro para países amigos dos governos petistas; e de que financiou apenas "meia dúzia" de empresas.
Sobre os empréstimos a países vizinhos, Lula afirmou que o BNDES financiou serviços de engenharia de empresas brasileiras em 15 países da América Latina e Caribe entre 1998 e 2017 e que os empréstimos deram "lucro".
Ele acrescentou que o BNDES "nunca deu dinheiro para países amigos do governo".
Em relação às dívidas que não foram pagas por Cuba e Venezuela, Lula afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro cortou relações com esses países e deixou de cobrar os empréstimos.
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No pronunciamento, Lula afirmou que nos governos petistas os empréstimos concedidos pelo banco foram feitos de forma "técnica" por um corpo de funcionários "altamente qualificado".
Em 2023, o BNDES informou que pagou R$ 42,7 milhões por uma auditoria que não encontrou irregularidades nas operações feitas entre o banco e as empresas do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Dirigindo-se a Aloizio Mercadante, Lula disse que o banco deve privilegiar operações com micro e pequenas empresas.
"É importante a gente ter clareza que o BNDES tem que privilegiar o financiamento de micro e pequenos empreendedores para que a gente dê um salto de qualidade na produção e no crescimento econômico deste país", declarou Lula.
Lula, que tem feito duras críticas ao Banco Central, voltou a expor contrariedade com a postura da instituição.
Ele afirmou que o Brasil tem uma "cultura" de juros altos que "não combina com a necessidade de crescimento" do país.
Lula também atacou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que, na semana passada, decidiu manter a taxa de juros em 13,75% – patamar em vigor desde o início de agosto de 2022.
"Tem muita gente que fala: 'Pô, mas o presidente não pode falar isso'. Ora, se eu que fui eleito não puder falar, quem que eu vou querer que fale? O catador de material reciclável? Quem que eu vou querer que fale por mim? Não. Eu tenho que falar. Porque quando eu era presidente eu era cobrado", emendou o chefe do Executivo.
Recentemente, em entrevista, Lula chamou de "bobagem" a independência do Banco Central, prevista em lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A ideia da lei é que, não podendo a diretoria da instituição ser demitida por eventualmente subir a taxa de juros, a atuação seja técnica, blindada de pressões político-partidárias, focada no combate à inflação.
A taxa de juros subiu mais de 11 pontos percentuais entre janeiro de 2023 e agosto de 2022. De acordo com o Banco Central, a medida foi necessária para frear a inflação, agravada por eventos como a pandemia da Covid e a invasão da Ucrânia pela Rússia, além de fatores internos.
Com a disparada dos preços, o BC avaliou que era necessário elevar os juros e, assim, reduzir a circulação de dinheiro na economia — mecanismo que segura a inflação.
Economistas avaliam que a redução dos juros, para não piorar a inflação, deve ser acompanhada de melhorias na economia. O governo precisa dar sinais positivos ao mercado e aos investidores – por exemplo, garantindo responsabilidade fiscal e segurança jurídica.
Isso traria investimentos ao país e manteria as contas públicas sob controle, fatores que contêm a inflação.
O economista Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real, afirmou em novembro que outra condição é a taxa de juros nos Estados Unidos, em tendência de alta. Quanto maior a taxa norte-americana, mais os investidores vão preferir enviar capital para o país, a principal economia do mundo.
“A queda de juros projetada pelo mercado parece razoável, mas depende da política fiscal responsável no Brasil e da taxa de juros americana. São as duas preocupações que podem afetar a taxa de juros mais a frente”, afirmou o economista.
O presidente também afirmou que Mercadante, como presidente do BNDES, deve ajudar a classe empresarial, que "precisa aprender a reivindicar, a reclamar dos juros altos".
"Precisa aprender a reclamar porque quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava", afirmou.
Ao se dirigir ao empresário Josué Gomes, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Lula reforçou que é preciso cobrar o Banco Central.
"É preciso Josué que você saiba, que se a classe empresarial não se manifestar, se as pessoas acharem que vocês estão felizes com 13,5%, sinceramente, eles não vão baixar juros", afirmou.
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