Choques, spray de pimenta e espancamentos: veja relatos de trabalhadores resgatados que faziam a colheita em vinícolas no RS

Os empregados que trabalhavam em situação análoga à escravidão na colheita da uva em Bento Gonçalves, na Serra, passaram a descrever as violências e privações que alegadamente sofriam. Em relatos à 💥️RBS TV na manhã desta sexta (24), os trabalhadores narraram situações em que sofriam 💥espancamentos, choques elétricos, tiros de bala de borracha e ataques com spray de pimenta.

Outro trabalhador resgatado afirma que, do quarto em que dormia, conseguia ouvir as sessões de espancamento a outros empregados.

Os trabalhadores estão alojados no ginásio Darcy Pozza — Foto: Reprodução/RBSTV 1 de 4 Os trabalhadores estão alojados no ginásio Darcy Pozza — Foto: Reprodução/RBSTV

Os trabalhadores estão alojados no ginásio Darcy Pozza — Foto: Reprodução/RBSTV

De acordo com o MTE, as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton contrataram uma empresa de serviços de apoio administrativo que oferecia a mão de obra. O responsável por essa empresa, Pedro Augusto de Oliveira Santana, de 45 anos, natural de Valente (BA), chegou a ser preso, mas vai responder pelo crime em liberdade porque pagou fiança no valor de R$ 40 mil.

Em nota, o advogado Rafael Dorneles da Silva informou que "a empregadora Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA e seus administradores esclarecem que os graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho serão esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial."

Os trabalhadores eram mantidos em situação degradante — Foto: MTE/Divulgação 2 de 4 Os trabalhadores eram mantidos em situação degradante — Foto: MTE/Divulgação

Os trabalhadores eram mantidos em situação degradante — Foto: MTE/Divulgação

A União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA), informou que não tolera "sob qualquer circunstância, as condições de trabalho e de habitação oferecidas por esta empresa prestadora de serviço". A entidade reforça "total apoio quanto ao andamento do processo junto ao ministério do trabalho e quanto às providências a serem implementadas, conforme preconizam as leis."

A operação foi realizada por PRF, MTE e Polícia Federal (PF) após três trabalhadores procurarem a PRF em Caxias do Sul dizendo que tinham fugido de um alojamento em que eram mantidos contra sua vontade. No local, os trabalhadores foram encontrados "em situação degradante". De acordo com o gerente regional do MTE em Caxias do Sul, Vanius Corte, foram apreendidos no local artefatos que possivelmente serviam para violentar os empregados.

"Nossa fiscalização apreendeu no local uma máquina de choque elétrico e spray de pimenta que era usado contra os empregados que reclamavam da situação. É uma situação escandalosa de tratamento das pessoas", relata Corte.

Imagens de espaços onde eram mantidos os trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação 3 de 4 Imagens de espaços onde eram mantidos os trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

Imagens de espaços onde eram mantidos os trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

Um dos trabalhadores conta que, junto dos colegas, veio da Bahia para trabalhar na colheita da uva com a promessa de salários superiores a R$ 3 mil, além de acomodação e alimentação. No entanto, ao chegarem ao RS, os trabalhadores enfrentavam 💥️atrasos nos pagamentos dos salários, 💥️violência física, 💥️longas jornadas de trabalho e 💥️oferta de alimentos estragados.

Também eram coagidos a permanecer no local– que era pequeno e estava em más condições – sob a pena de pagamento de uma multa por quebra do contrato de trabalho.

"Alguns diziam que tinham recebido um adiantamento, mas nunca tiveram pagamento do que foi prometido. Em contrapartida, tinham essa indicação: 'vai lá e compra no mercadinho que te vende fiado', e esse mercadinho praticava preços elevados. Foi identificado um saco de feijão a R$ 22. O empregado ficava sempre devendo e não conseguia sair sem pagar a conta, não recebia o salário e ficava essa situação, de ficar preso no local por conta da dívida. 💥️Isso foi uma das coisas que caracterizou o trabalho escravo, além dessa história das agressões", conta o gerente regional do MTE.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) diz que as vinícolas que faziam uso de mão de obra análoga à escravidão durante a safra da uva na Serra do Rio Grande do Sul podem ter que pagar direitos trabalhistas às mais de 200 pessoas resgatadas durante uma operação policial em Bento Gonçalves, na quarta-feira (23).

"As pessoas que tomaram esse serviço, as pessoas que foram beneficiadas por esse serviço, também podem ser responsabilizadas. A gente chama isso de responsabilidade subsidiária. Primeiro, o empregador tem a responsabilidade. Se ele não pagar, as pessoas que trabalharam em determinada vinícola, que prestaram o serviço lá, podem cobrar, e nós vamos chegar nesse ponto, dessa vinícola que se beneficiou desse trabalho", afirma.

Em nota, as empresas afirmaram que desconheciam as irregularidades e sempre atuaram dentro da lei.

💥️Aurora

💥️Garibaldi

.

💥️Salton

".

Situação de escravidão: espaço onde ficavam trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação 4 de 4 Situação de escravidão: espaço onde ficavam trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

Situação de escravidão: espaço onde ficavam trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

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