'Sem clareza sobre gastos públicos e com taxas de juros altas, economia vai ter dificuldade de crescer', diz Mar
O economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Nelson Marconi declarou nesta segunda-feira (27) que a política monetária e a política fiscal devem "andar juntas porque são dois instrumentos importantes para o governo".
"Quando essas duas políticas andam em sentidos diferentes, é a mesma coisa que colocar o pé na geladeira e o pé no forno. O resultado é pouco satisfatório, é pouco efetivo para a economia", disse em entrevista ao 💥️GloboNews Em Ponto.
"Do ponto de vista da política monetária, o governo está praticando a taxa de juros real mais alta do mundo, não tem muita justificativa para isso."
Marconi, autor do programa econômico das campanhas de Ciro Gomes à Presidência em 2018 e 2022, afirmou que as discussões em relação à desoneração tributária dos combustíveis devem resultar "em uma solução bem quebra-galho". Na avaliação dele, muito mais importante do que a questão da tributação é a definição de uma nova política de preços a ser seguida pela Petrobras.
"Essa reunião é importante porque, de certa forma, vai definir os rumos dos preços dos combustíveis para os próximos meses. O governo, quando topou continuar essa desoneração dos combustíveis, fez isso para ter um tempo e ter uma definição melhor sobre a política de preços da Petrobras", diz ele.
"Essa seria a questão mais importante para o governo definir hoje: como ele vai negociar com a Petrobras uma nova política de preços do petróleo, que seja menos suscetível às oscilações do mercado internacional e com isso, pressione menos a nossa inflação."
Em relação ao resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a ser divulgado nesta semana, o economista ressaltou que definir logo uma nova regra fiscal pode ajudar a atenuar a tendência de baixo crescimento da atividade econômica do país para este ano.
"No ano passado, na verdade o que acontece, é que o governo anterior pisou bem no acelerador dos gastos públicos no período pré-eleitoral. Foi feita uma série de gastos acima do que seria razoável — os gastos foram bem eleitoreiros, mesmo — que acabaram com que o nível de atividade tivesse um estímulo em função desses gastos. Então, mesmo com a taxa de juros alta, a economia acabou crescendo 3% no ano passado", disse Marconi.
O economista diz que este ano o cenário não é o mesmo e que os gastos públicos não estão no mesmo patamar. "O período pelo qual ela permanece elevado está prolongando, então o efeito é maior. A gente já vê que pode ter problemas de restrição ao crédito. E, por outro lado, a política fiscal, não estou dizendo que ela teria de ser expansionista, mas ela não é a mesma", explicou Marconi.
"Então o cenário [para 2023] não é igual ao do ano passado. Junta-se a isso o fato de que a economia mundial está desacelerada. Os EUA estão começando a se recuperar. A China está desacelerando em relação à política de combate à Covid. De toda forma, temos um cenário de baixo crescimento", afirmou.
"Afora isso, enquanto não tiver uma clareza mais forte do que pode acontecer na área fiscal, qual vai ser a tendência dos gastos do governo, enquanto as taxas de juros não começarem a cair, a gente vai ter dificuldade de crescer e deve ter um crescimento bem mais baixo este ano, infelizmente", concluiu.
💥️Veja a íntegra da entrevista abaixo.
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