Ações do Grupo Wagner fortalecem influência russa na África
A junta militar pró-russa no Mali trouxe centenas de mercenários do Wagner ao país, onde são acusados de violações de direitos humanos — Foto: French Army/AP
No início sua presença é apenas apenas um rumor, e depois vira um segredo de polichinelo: milhares de mercenários do Grupo Wagner, da Rússia, estão ativos em vários países africanos. Na República Centro-Africana, por exemplo, 1.890 "instrutores russos" estão apoiando as tropas do governo na guerra civil, segundo o embaixador russo. Na Líbia, diz-se que até 1.200 mercenários do Wagner estão lutando do lado do líder rebelde Chalifa Haftar. No Mali, a junta militar pró-russa e anti-Ocidente também trouxe, segundo observadores, centenas de combatentes do Wagner, que são acusados de graves violações dos direitos humanos no país.
Mas a presença do Grupo Wagner na África vai muito mais além, dizem especialistas. "O Wagner evoluiu, ao longo do tempo, dos serviços militares privados para uma rede de relações e negócios com empresas em vários países africanos", disse recentemente o analista Julian Rademeyer à DW, durante a Conferência de Segurança de Munique. "Eles operam nesta zona cinzenta entre atividades mais ou menos ilegais, e cobrem bem toda a área", disse.
Rademeyer trabalha na rede Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GIATOC, na sigla em inglês) e publicou com seus colegas recentemente um relatório sobre o Grupo Wagner na África. "Nele, analisamos que o Grupo Wagner é hoje o ator russo mais influente na África, e que suas atividades e as de suas empresas de fachada exercem uma influência maligna sobre o continente."
2 de 3 Pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais afirma que o Grupo Wagner mantém uma base no aeroporto da capital do Mali, Bamako — Foto: CSIS/High Resolution/Maxar 2023Pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais afirma que o Grupo Wagner mantém uma base no aeroporto da capital do Mali, Bamako — Foto: CSIS/High Resolution/Maxar 2023
A Rússia está buscando maior influência na África. E o Grupo Wagner provavelmente é um instrumento para isso tanto quanto visitas oficiais do ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, acordos de cooperação militar e, às vezes, fornecimento gratuito de alimentos e fertilizantes. Isso ajuda a explicar por que Moscou conseguiu registrar 15 abstenções da África na última resolução da ONU sobre a guerra de agressão na Ucrânia, e Eritreia e Mali ficaram ainda mais claramente do lado da Rússia votando contra a resolução.
O grupo, supostamente nomeado em homenagem ao compositor alemão Richard Wagner, foi fundado em 2014 pelo empresário Yevgeny Prigozhin, que é leal a Putin – e desde então tornou-se um ator privado indispensável para os interesses russos. Prigozhin declarou recentemente pela primeira vez que também estava por trás da fábrica de trolls Internet Research Agency, que alimenta as redes sociais, especialmente no Ocidente, com desinformação favorável aos interesses da Rússia. Campanhas para influenciar as populações africanas também podem ser encontradas na pesquisa da GIATOC sobre o Grupo Wagner.
Ele diz que os mercenários no terreno estão vinculados a empresas subsidiárias. "Na Rússia, as empresas militares privadas são proibidas, mas de certa forma é permitido às empresas militares privadas russas operar fora da Rússia", diz Gabriel.
De acordo com pesquisas internacionais, a marca Wagner também é ativa em áreas que vão além do setor de segurança. Em julho, o All Eyes on Wagner, junto com onze meios de comunicação parceiros europeus, revelou como o Grupo Wagner estava tendo grandes ganhos com a preciosa madeira tropical da República Centro-Africana. Segundo o relatório, o governo de Bangui havia concedido a uma subsidiária uma concessão irrestrita de extração em uma área de 187 mil hectares.
O caso da mina de ouro Ndassima, na República Centro-Africana, é semelhante: aqui, de acordo com pesquisas, a concessão de uma empresa de mineração canadense foi revogada em favor de uma empresa de Madagascar, que também aparece no relatório GIATOC como uma subsidiária do Grupo Wagner.
Uma reportagem da revista aponta como a rede Wagner supostamente importou equipamentos pesados de mineração através do porto marítimo camaronês de Douala. Enquanto isso, até três comboios de caminhões vão semanalmente de Bangui a Douala para transportar as matérias-primas, protegidos por homens da Wagner com armas pesadas.
Para governos africanos sem dinheiro em caixa, pode ser bastante atraente pagar pelos serviços do Wagner com autorizações de mineração ou acesso ao mercado, afirma Gabriel: "Eles não têm que gastar dinheiro, mas podem simplesmente dizer: 'Aqui, por 25, 50 ou 100 anos você pode explorar esta mina sem nenhum problema'".
Na República Centro-Africana, o Grupo Wagner parece estar diversificando ainda mais seus negócios. Por exemplo, está tentando forçar a empresa de açúcar francesa SUCAF a sair do mercado, disse Joseph Bendounga, chefe do partido de oposição MDREC.
A First Industrial Company, que produz cerveja e bebidas alcoólicas em Bangui – e, segundo o relatório GIATOC, aparentemente está registrada em nome de um empresário russo cujo nome continua crescendo na rede Wagner – poderia se beneficiar disso.
3 de 3 Na República Centro-Africana, a relação parece estar dando frutos: manifestação pró-russa ocorrida em 2022 — Foto: Carol Valade/AFPNa República Centro-Africana, a relação parece estar dando frutos: manifestação pró-russa ocorrida em 2022 — Foto: Carol Valade/AFP
A Rússia não nega os vínculos com a First Industrial Company. Um porta-voz da embaixada russa em Bangui disse à DW: "Está indo bem, porque as bebidas feitas de acordo com receitas russas são muito populares na República Centro-Africana". Ele disse que o objetivo era popularizar a cultura russa entre a população centro-africana e fazer negócios. Um investidor privado pode fazer o que quiser, disse o porta-voz: "Afinal de contas, essa é a lei do livre mercado".
As atividades econômicas da rede Wagner na África parecem seguir crescendo, apesar de mercenários do grupo estarem agora lutando do lado russo na guerra contra a Ucrânia. "Em alguns casos, muitos mercenários foram retirados para lutar na Ucrânia, mas outros permanecem no terreno", disse Rademeyer, analista da GIATOC, à DW.
Pelo contrário, pouco antes do aniversário de um ano do início da guerra, em 24 de fevereiro, o Wall Street Journal noticiou, citando fontes da inteligência norte-americana, que o Grupo Wagner estava planejando um golpe no Chade junto com os rebeldes locais.
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