Sidnei Nehme: Fundos locais e externos continuam “vendendo” dólares, contendo alta no câmbio

Copom Banco Central

Colunista analisa cenário que envolve próxima reunião do Copom, oportunidade em que se espera redução da taxa básica de juros (Imagem: Raphael Ribeiro/ BCB)

💥️Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

Em nosso entendimento o 💥️Copom teria maior conforto para reduzir a taxa Selic num ambiente com o real mais desvalorizado no momento, contudo desde a semana passada fundos hedges nos 💥️Estados Unidos e agora, também, os fundos nacionais que operam no mercado futuro de dólares acentuaram seus movimentos de desmonte de posições “compradas” e/ou “aumento de posições “vendidas” e este fato acaba por conter o viés de alta do real”.

Pelas circunstâncias pontuais da ação do 💥️Banco Central (BC) e, também, do ambiente externo decorrente dos ataques afetando o mercado de petróleo, o real deveria estar apresentando depreciação maior frente ao 💥️dólar, mas ocorre que dentre as moedas latinas é a que menos reflete este quadro e não repercute nem a valorização do dólar frente a cesta de moedas de países desenvolvidos.

Se mesmo assim o Copom vier a promover a redução de 0,50% na taxa 💥️Selic o fato poderá alavancar a alta da taxa do dólar no mercado à vista, podendo haver o risco da disfuncionalidade com a taxa do mercado futuro sinalizar preço inferior ao do mercado à vista se isto não ocorrer, pois o mercado de cupom cambial promoverá esta pressão.

Consolidando o Copom a redução da Selic para 5,50% nesta oportunidade, quarta feira próxima, ficará definitivamente afastada a possibilidade de o país angariar/esperar algum fluxo de recursos externos especulativos e forjados a partir de operações de “carry trade”, que ficarão menos viáveis e prováveis com o contexto resultante, já que se espera redução, na mesma data, da taxa de juro americana de 0,25% pelo 💥️Federal Reserve.

Como temos salientado o quadro Brasil está envolvido por um cenário em que se identificam inúmeros contraditórios e atipicidades, com fatores positivos marcantes e da mesma forma fatores negativos não menos relevantes.

Até imaginar-se a manutenção da taxa Selic mesmo com o Copom açodado pelas circunstâncias não se pode colocar como absolutamente improvável, seria uma decisão preponderantemente técnica.

Não é fácil mexer numa peça do tabuleiro sem afetar demais de forma inevitável e neste jogo não pode haver erros, e as decisões não serão fáceis e nem com a clareza que se possa ambicionar.

A realidade é que, embora o Boletim Focus projete agora uma taxa mais agressiva do dólar para o final do ano como R$ 3,90, já distante dos R$ 3,75/3,80 de passado recente, não se vê perspectivas do fluxo cambial para o Brasil revelar recuperação na dimensão adequada.

Também não se pode esperar que o BC permaneça por longo período fomentando a liquidez do mercado à vista com sua intervenção de oferta diária de reservas, e nem perdure sua ação de sustentação do preço com a oferta dos swaps cambiais reversos.

Então, há uma incógnita no cenário prospectivo, pelo menos no curto prazo, pois o cenário conturbado global não permite que de forma concreta se possa projetar qual o tamanho do retrocesso da economia global com os entraves, que se alargam, iniciados e estimulados pelo confronto comercial entre Estados Unidos e China.

Sabido é que no contexto atual não haverá vencedores, mas perdedores em maior ou menor escala, com eventuais e transitórios benefícios para aquele ou aqueles países em detrimentos de outros.

Mundo

Cenário externo é avaliado e pesará na decisão do Copom (Imagem: Pixabay)

A China já emite sinais preocupantes em sua atividade econômica, tanto quanto a União Europeia com ênfase à Alemanha, que tem a proximidade com a complexidade do 💥️Brexit perturbadora, e os Estados Unidos, ainda firme não pode contestar.

Logo, também, pode entrar na mesma linha recessiva, algo que preocupa o seu Presidente 💥️Trump, candidatíssimo à reeleição que, além da China, tem um embate particular com o Fed americano.

O Brasil da Reforma da Previdência que está em linha final para criar perspectivas de solução, ainda que parcial, para a preocupante crise fiscal com a qual convive, perdeu praticamente o primeiro ano do mandato do novo Presidente, para então ir para a fase 2 que envolve a Reforma Tributária que não permite melhor expectativa de tempo.

Sabe muito bem que não será ancorado nestas reformas absolutamente positivas que conseguirá reanimar a débil atividade econômica, passando a motivar investimentos, gerar empregos, renda e consumo.

O setor produtivo está desmotivado ao investimento, visto ter capacidade ociosa expressiva, e sentir a falta de potencial de consumo da população, que está carente de renda e, portanto, sem força de consumo.

Então, a “janela” que se vislumbra é que sendo “celeiro do mundo” nas commodities o BC possa estimular o setor do agronegócio com taxa cambial mais elevada, e na margem aumentando a capacidade competitiva do setor industrial, para buscar pelo comércio externo a retomada da atividade econômica que se mostra inviável a partir do mercado interno.

O mercado externo está confuso, às vezes favorável às vezes desfavorável, mas há inquestionavelmente oportunidades e que o Brasil tem potencial para aproveitar de forma pontual.

Então, a taxa cambial um pouco fora do seu contexto técnico de equilíbrio, visto que o país não tem risco de crise cambial face às suas soberbas reservas cambiais, faria parte do jogo brasileiro neste momento em que cada país tende a fazer uso de todas as estratégias possíveis.

A atividade econômica está tão debilitada que a capacidade de repasse da elevação do dólar para os preços relativos fica mitigada pelas circunstâncias.

Há muito o que se observar!

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