Felipe Miranda: O trilema da idade, antifragilidade, convexidade e adptabilidade
Colunista discorre sobre adaptação no mundo dos investimentos (Imagem: Empiricus Research)
A idade chega para todo mundo. Biologicamente, estou aqui na metade da minha terceira década. A alma, porém, já deve ter nascido dez mil anos atrás, como a de Raulzito. Opa, calma, nem vem. Para outras coisas, ainda me sinto um garotão, aquela disposição dos 20 anos. Quem não dá assistência abre concorrência.
Outro dia, perguntaram minha lista de apps favoritos. Coitada da pessoa. Ela não fazia a menor ideia de conversar com um ancião. Velhos não têm “lista de apps favoritos”. Se não fosse a Gabi, acho que não instalava nem o WhatsApp. A verdade é que tenho dois apps prediletos de finanças — e são também os únicos.
O primeiro, obviamente, é o da Empiricus . Ali está todo nosso conteúdo, numa usabilidade — desculpe esse termo horrível — bem agradável. Sim, estou conflitado para dizer isso. Mas a verdade é que nosso app está bem legal mesmo. E por isso eu faço o convite para você baixá-lo gratuitamente e, ao melhor estilo IPO da C&A, usá-lo e abusá-lo.
Por que insisto no acesso habitual ao nosso conteúdo? Deixe-me perguntar algo sincero para você. Por favor, peço gentilmente que reflita por dez segundos: o que é realmente um diferencial em investimentos?
Registro aqui a minha visão sobre a coisa. Não quero dizer que seja a única possível, tampouco definitiva ou que esgote o tema. Mas, para ser verdadeiramente um diferencial, esse algo precisa ser irreplicável. Caso contrário, num mundo de informação e tecnologia amplamente difundidas, o pretenso diferencial hoje acaba adotado por todo o planeta Terra amanhã.
Bom, as plataformas de investimento, tal como se apresentam hoje, não são diferenciais verdadeiros. Os mesmos produtos, ou 90 por cento deles, estão disponíveis em todas as prateleiras. A forma de cobrança, mesmo que haja uma inovação pontual, acaba copiada no dia seguinte pelo concorrente.
E pode haver uma guerra de preços que beneficie na margem o consumidor/investidor — de novo, porém, num mundo altamente competitivo e de margens baixas, dificilmente vai ser esse o grande salto do investidor no longo prazo. Pagar zero ou 10 reais de corretagem por operação, sejamos sinceros, não vai mudar a vida de ninguém. E também a tecnologia hoje é a mesma para todo mundo. Resumo: produto, preço e tecnologia são, em linhas gerais, os mesmos para todos.
O que resta, portanto? Qual é a única coisa irreplicável? Conhecimento e sabedoria em alocação de recursos. Saber o que comprar. E quando comprar e vender, claro, pois uma ideia boa na hora ruim é apenas uma ideia ruim. Bicho, o Stuhlberger é irreplicável, entende?
Se o fundo Verde estivesse aberto, você poderia acessá-lo em várias plataformas e seria indiferente para você se o fizesse na corretora A ou Z. Mas só o Verde seria o Verde. Não se trata dele exclusivamente, claro. Aqui faço uma citação individual para provar o ponto.
O único diferencial possível está em saber escolher bons investimentos. Então, ou você escolhe um (ou alguns) gestor (gestores) sábio(s) ou acessa diretamente um conteúdo de orientação sobre bons investimentos diferenciado, feito por alguém que pesquisa isso de forma independente.
Claro, ninguém vai conseguir dar boa orientação sobre investimentos se não gozar de uma equipe grande, altamente técnica e bem remunerada. É simplesmente impossível, porque analistas precisam se especializar, investigar a fundo poucas coisas, serem inteligentes para conectar os pontos e por aí vai.
Com muita ajuda da sorte, a Empiricus, pelo tamanho que assumiu, é uma metonímia desse mercado. Não à toa, estão aí os resultados das nossas carteiras, abertos para quem quiser ver. Por isso, acho o acesso a nosso conteúdo um diferencial marcante para o investidor pessoa física. Hoje a forma mais bacana de acessar esse material é por meio do nosso app. Confira você mesmo.
Meu segundo e último app de finanças favorito é o TradeMap. Antes de qualquer suposição maldosa, não, eu não estou recebendo nada para falar isso. Não quero pagar de santo e dizer que não tenho um preço. Posso até ter, mas é bem mais caro.
Recomendo o TradeMap de forma absolutamente independente, porque eu mesmo uso e acho incrível. Belíssima reunião de informações sobre investimentos e o melhor consolidador de carteira, algo que ninguém ainda conseguiu fazer direito.
Sei que há outros vários bons apps por aí. Mas não posso falar sobre eles, por puro desconhecimento. Um velho como eu está mais do que satisfeito com esse par de dois. Vamos agora para outras coisas ligadas à idade, mais especificamente ao sufixo “idade”.
💥️1. Antifragilidade: ontem, num dos grupos de WhatsApp (esse app eu tenho também) de que participo com amigos gestores, comentávamos o desempenho da Carteira Empiricus quando fui subitamente interrompido (pode-se dizer que foi interrompido no WhatsApp? Bom, deixa pra lá) por uma dúvida: “Lá vai o STF tentando estragar seu mês”. Com efeito, hoje nos jornais está coisa parecida: “aumento do risco institucional deve pesar sobre ativos de risco”, nessas ou em outras palavras parecidas.
Eu posso ter várias críticas ao STF, como, de fato, tenho. Também não posso negar que um país onde o procurador-geral da República entra na Suprema Corte disposto a dar um tiro em um dos ministros goza de risco institucional alto.
Contudo, respondi de imediato que não achava que aquilo, isoladamente, representava um risco para o mês. Não quero dizer, com isso, que não haja risco para o mês ser estragado. Sempre há. E nada dá mais azar do que comemorar vitória antes da hora.
Bom, em termos de Bolsa, posições de rabino e opiniões das capas da Exame, da Economist e da Eurasia talvez sejam concorrentes à altura em termos de zica. Falo do evento em si e de sua capacidade de, na margem, influenciar os ativos de risco.
Mais importante até. Talvez o evento de ontem, desafiando as opiniões superficiais, imediatistas, politicamente corretas e clichês, seja bom para os ativos de risco. Antifragilidade na veia, saindo melhor do choque.
Explico meu ponto de vista. Hoje é um daqueles dias em que o STF, ao colocar na mesa a possibilidade de anular sentenças da Lava Jato, vira vilão nacional, provoca as vísceras da reação antiestablishment.
Voltam: a dicotomia dos “heróis” (entre aspas, porque deixei de acreditar em heróis quando o Senna morreu) da Lava Jato contra a corrupção; o maniqueísmo entre direita e esquerda; e, mais sintética e estereotipicamente, a polarização Lula x Bolsonaro.
Bolsonaro é a representação clássica do movimento antiestablishment. Ele é o grande vencedor desse processo. Com ele, ganha a pauta liberal, contra as corporações, os vícios históricos brasileiros, os amigos do rei, as instituições extrativistas, o capitalismo de compadres. E, para trocarmos a pauta, só resta o pragmatismo das reformas e do desenvolvimento econômico — com inflação baixa e desemprego cadente, todos estão felizes.
💥️2. Convexidade: li ontem uma notícia de um sujeito, dito especialista em finanças, frustrado com a desistência do IPO da WeWork. Segundo ele, seria uma oportunidade enorme de ganhar dinheiro shorteando (vendendo) ações da empresa. Ele apresenta uma série de argumentos financeiros para isso — argumentos, inclusive, verdadeiros e pertinentes.
No entanto, basicamente se esquece do essencial. Você jamais — repito: jamais — pode shortear empresas como essas. Não é pelo fundamento. É pela convexidade. Empresas de tecnologia não obedecem a padrões lineares, bem-comportados e previsíveis. Estamos no campo do winner takes all (o vencedor leva tudo), das multiplicações por 100x, das curvas exponenciais, dos cisnes negros.
A WeWork pode ser um lixo — provavelmente, não vale nem metade do que o SoftBank pagou. Mas, em termos de alocação de dinheiro, isso não importa. Tem alguma chance — pode ser 1 por cento — de isso dar certo. E, se der certo, vai se multiplicar por 100 vezes. Então, você não shorteia, porque a chance de fracasso de sua posição pode simplesmente matar você, expulsá-lo do jogo.
Qualquer estratégia que envolva risco de falência jamais poderá ser adotada, mesmo que esse risco seja baixo. A única definição possível de racionalidade se liga à sobrevivência. Ou você entraria num avião cuja chance de cair fosse de 1 por cento?
Noutro dia, expus aqui a forma com que os fundos de venture capital e private equity de tecnologia estão fazendo valuation hoje, capaz de justificar apreçamentos que, por múltiplos correntes, parecem fora da realidade. Nesta semana, antes de dormir, me ocorreu uma outra coisa.
O preço hoje de qualquer ativo é um valor presente líquido de todos os possíveis cenários futuros, ponderados pelas respectivas probabilidades.
Se, em startups de tecnologia, estamos no mundo da exponencialidade, como de fato estamos, e esse negócio pode se multiplicar, sei lá, por 100x, e valer infinito lá na frente (imagine Google, Amazon, Facebook, Netflix lá atrás), no momento em que você traz essa possibilidade infinita a valor presente, vai encontrar mesmo um valor muito alto.
Nunca se exponha contra a convexidade. Isso não significa também que você deva comprar WeWork. São coisas completamente diferentes. X não é f(x).
💥️3. Adaptabilidade: com a transparência de sempre, queria dividir com os três leitores nossa tentativa de trazer a Carol Dweck para o evento de 10 anos da Empiricus. O evento já está com um line-up bem interessante, contando com confirmações de palestras de Bernardinho, João Doria, André Esteves, Contardo Calligaris, Rogério Marinho e Paulo Guedes (este último, com um pequeno alerta: caso não haja surpresas de alteração de agenda, por conta de compromissos súbitos que costumam ocorrer com personalidades políticas dessa estirpe).
Carol Dweck viria para coroar a celebração da nossa primeira (de muitas) décadas. Ela é autora do livro “Mindset – A nova psicologia do sucesso”. Eu estou pessoalmente empenhado em trazê-la por uma razão: a coisa mais importante para se tornar um grande investidor é perceber que isso é um trabalho contínuo. Não há linha de chegada, não há capacidade definida, fixa e rígida.
O maior diferencial de todos é a possibilidade de se adaptar, de aprender todo dia, de avançar uma polegada que seja, sempre.
A Empiricus tem 10 anos de vida. Dada a idade corporativa típica das empresas brasileiras, já não é mais uma menininha. Diante de tudo que passamos, temos cicatrizes de uma companhia velha. Ainda certos, porém, de que estamos no nosso Day One.
O que você está lendo é [Felipe Miranda: O trilema da idade, antifragilidade, convexidade e adptabilidade].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
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