O "happily ever after" de Marcelo e Costa 24

Num dia em que o foco esteve em Paris e no centenário de Mário Soares, António Costa aproveitou para responder às saudades transmitidas pelo presidente no início desta semana, mas não com tanto carinho.

Na passada quarta-feira, o Presidente da República referiu-se aos oito anos de coabitação com o anterior primeiro-ministro, António Costa, como um tempo que, “comparado com o que vinha por aí”, será recordado como de “felicidade relativa”.

“Dizia muitas vezes a um governante com o qual partilhei quase oito anos e meio de experiência inesquecível: um dia reconhecerá que éramos felizes e não sabíamos. Era tudo relativo, era uma felicidade relativa, mas, comparado com o que vinha por aí, era uma felicidade”, considerou Marcelo Rebelo de Sousa.

Já este sábado, António Costa aproveitou para falar aos jornalistas na Fundação Calouste Gulbenkian, tendo ao seu lado Marcelo Rebelo de Sousa. Interrogado sobre estas palavras proferidas pelo chefe de Estado, respondeu com poucas palavras: “Eu tendo a ser feliz, sempre”.

Depois, questionado como está a encarar as novas funções de presidente do Conselho Europeu, o anterior primeiro-ministro voltou a responder de forma telegráfica: “Bem, para já”.

Que mais disse Marcelo naquela quarta-feira?

As palavras de Marcelo foram ditas esta quarta-feira numa iniciativa do jornal Público sobre literacia mediática, ao mesmo tempo que manifestou "grande preocupação" com o panorama mediático e declarou que nos seus mandatos tem procurado "agir perante o chamado populismo, pela via popular, sem ultrapassar os limites que separam o popular do populista".

A meio da sua intervenção, ao falar das mudanças constantes e da "reconstrução permanente da História", o chefe de Estado referiu-se ao tempo em que coabitou com António Costa, agora presidente do Conselho Europeu.

Neste discurso, Marcelo Rebelo de Sousa retomou a ideia de que se está a entrar num novo ciclo "relativamente aos sistemas políticos, económicos, sociais e comunicacionais" e que "a realidade não está racional, está emocional".

"As novas lideranças são emocionais, as novas formas de comunicação são emocionais, os novos poderes são emocionais, não são racionais", apontou.

Sobre o panorama mediático, associou à presidência norte-americana de Donald Trump iniciada em 2016 o surgimento de uma "corrente de comunicação direta com os destinatários", que procura "abolir a intermediação toda" e criar "novos meios de comunicação social à medida daquele estilo", definindo "um novo paradigma de comunicação".

"Sem responsabilidade, influenciam, servem de intermediários e não respondem, porque não são eleitos. Ajudam a eleger. Isto é um fenómeno transnacional novo, que coincide com uma geopolítica em que vivemos hoje", descreveu.

O chefe de Estado manifestou-se "muito preocupado" com este "fenómeno transnacional" e com os problemas dos "meios de comunicação social mais clássicos", que no seu entender estão "mais fracos, lutando pela sobrevivência, com maior instabilidade interna, do ponto de vista dessa sobrevivência, com uma capacidade de renovação limitada".

O Presidente da República defendeu que, perante este "contexto novo", os sistemas políticos, económicos e sociais "ou se reajustam ou entram em crise".

"Isto se aplica também às lideranças. As lideranças ou se reajustam ou morrem mais depressa ou morrem mais devagar – coincidindo ainda por cima com um período de substituição natural de lideranças, nomeadamente na Europa", acrescentou.

Depois destas declarações e já esta quinta-feira para esclarecer dúvidas, Marcelo explicou, sobre Costa, que estava a falar dos tempos pré-pandemia e pré-guerras.

“Estava-me a referir a uma conversa com ex-primeiro-ministro António Costa antes da pandemia. Naquela altura, em 2023, em que o mundo crescia, a Europa crescia e Portugal estabilizava finalmente, depois da resolução de problemas do sistema bancário e da saída défice excessivo, eu dizia: ‘Olhe, estamos numa situação tal que, um dia, quando olharmos no futuro, poderemos dizer isto ['Éramos felizes e não sabíamos']".

“E tinha razão: veio a pandemia, depois vieram as guerras. E, quando olhamos para o presente, os problemas são bem mais difíceis, o mundo não cresce, a Europa não cresce… E olhe: éramos felizes relativamente e não sabíamos que éramos tão felizes, comparando com o panorama que temos agora à nossa volta”, completou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas.

*Com Lusa

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