Potencial do sisal se esgota no subdesenvolvimento, enquanto se desperdiça até etanol 2G
Importância do sisal se esvai enquanto novas concepções de usos não são aproveitadas (Pixabay)
O sisal é daquele produto que não é mais aproveitado nem nas destinações até agora conhecidas e, também, está longe de se beneficiar de novos usos permitidos pelos avanços da ciência. Assim, essa fibra é comprada para amarrar fardos de feno nos países desenvolvidos, também com data limite para acabar, e o que sobra dela fica no campo quando poderia virar até bioenergia.
Começa e termina no subdesenvolvimento.
Bem comum no Nordeste, com Bahia dominando em 95% a produção de forte apelo sócio-econômico no extremo sertão, o produto praticamente não está mais sendo matéria-prima para cordas e até tapetes artesanais.
O sintético tomou conta, assim como das fibras de juta e piaçava, “e restou basicamente o uso da cordinha de sisal para amarrar os fardos de feno para alimentação do gado (em países de inverno rigoroso), uma vez que é digestiva”, explica Wilson Andrade, presidente do Sindifibras da Bahia e empresário do ramo (trader e ex-industrial).
Por ironia, se contrapondo a algo tão prosaico, a ciência já sabe processar a fibra do sisal, extrair seu suco e dele fazer de produtos veterinários (combate a mosca do chifre de bovinos) e rações a bicombustível de segunda geração, o 2G.
O Brasil exporta de US$ 100/120 milhões por ano, basicamente para as cordinhas de amarrar feno, mas deixa se perder nos campos 2,6 bilhões de litros/ano, desperdiçados com o restante não aproveitado das folhas do sisal.
“A máquina desfibriladora processa apenas 5% do peso da folha e perde o resto, que poderia ir para uma usina e seguir seu processamento”, analisa Andrade, presidente também da International Natural Fibres Organization (INFO).
As condições técnicas já foram dominadas por pesquisadores, entre outros, do Laboratório de Genômica do Instituto de Biologia da Unicamp. Por sinal, a equipe do professor Gonçalo Pereira, mais o pesquisador e doutorando Fábio Raya, preparam o 1st Agave Workshop para 4 de novembro, na universidade de Campinas.
Wilson Andrade acredita que levar a ideia para o setor privado necessitaria de um impulso adicional de governos.
Até pelas condições de inserção social e integração ambiental, unindo, portanto, com mais demanda, a produção tanto para ajudar milhares de famílias em situação de vulnerabilidade quanto seguir dando as respostas ambientais e de sustentabilidade que a exploração mais customizada ofereceria. “Tanto que a FAO (órgão da ONU para alimentação) tem um fórum internacional de trabalho voltado para esse fim”, avança o presidente do Sindifibras, também integrante desse colegiado internacional.
A situação do sisal vai ficando precária, se os novos usos não chegarem à produção, vindo se juntar à precariedade da piaçava e da juta, de acordo com Wilson Andrade, presidente do Sindifibras BA e do INFO. “Perdemos o mercado mundial de redes de pesca, de cabos de atração de navios etc etc”, complementa.
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