Bolsonaro queria chefe da PF com quem tivesse “maior afinidade”, diz Valeixo
O ex-chefe da PF foi questionado sobre o que entendia como suposta interferência política em investigações da corporação (Imagem: Reuters/Adriano Machado)
O ex-diretor-geral da Polícia Federal 💥️Maurício Valeixo afirmou nesta segunda-feira, em depoimento, que o presidente 💥️Jair Bolsonaro teria lhe dito em duas oportunidades que gostaria de nomear para o cargo alguém com quem “tivesse maior afinidade”, mesmo não apresentando qualquer tipo de problema com ele, segundo a íntegra da fala obtida pela Reuters.
Valeixo disse também no depoimento, prestado à PF em Curitiba no âmbito de inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (💥️STF), que Bolsonaro nunca tratou com ele diretamente sobre troca de superintendentes ou relatórios de inteligência da PF. Ele afirmou que não mantinha nenhum tipo de amizade com o presidente.
O ex-chefe da PF foi questionado sobre o que entendia como suposta interferência política em investigações da corporação.
Ele disse que a partir do momento em que há uma indicação com interesse sobre uma investigação específica, estaria caracterizada uma interfêrencia política, “o que não ocorreu em nenhum momento sobre o ponto de vista do presidente”.
Valeixo foi um dos pivôs da crise que culminou com a saída dele e do então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro dos respectivos cargos do governo Bolsonaro.
Moro acusou o presidente de tentar interferir politicamente na PF, o que levou à abertura de um inquérito do STF para apurar as declarações do ex-ministros.
O ex-ministro vai assistir na terça-feira, na sede da Polícia Federal em Brasília, ao vídeo de uma reunião ministerial na qual, segundo ele, Bolsonaro cobrou a troca do chefe da PF no Rio de Janeiro, que é apontado como possível prova da tentativa de interferência política do presidente.
“O ex-ministro Sérgio Moro estará presente, junto com seus advogados, para assistir à exibição. Já os depoimentos, por sua vez, serão acompanhados apenas pelos advogados, não pelo ex-ministro”, disse em nota o escritório de advocacia que representa o ex-ministro.
As informações da reunião ministerial constantes do vídeo são consideradas uma importante prova para o eventual avanço da investigação aberta pelo ministro Celso de Mello, do Supremo, com o objetivo de apurar as acusações feitas por Moro de que Bolsonaro tentou interferir na PF, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do caso.
Em depoimento no dia 2 de maio, Moro disse que, durante a reunião ministerial ocorrida em 22 de abril, Bolsonaro afirmou que iria interferir em todos os ministérios e, quanto à pasta da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o superintendente da PF no Rio, trocaria o então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, e o próprio ministro da Justiça.
Esse episódio ocorreu dois dias antes de Moro pedir demissão do cargo e acusar Bolsonaro de interferência política na PF.
A apresentação do vídeo gerou uma série de manifestações da Advocacia-Geral da União (💥️AGU) e da defesa de Moro ao STF. Inicialmente, a AGU, que representa Bolsonaro, pediu a Celso de Mello que reconsiderasse o pedido de entrega da gravação com o argumento de que haviam sido “tratados assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado”.
Depois, a AGU sugeriu que fosse entregue uma cópia do encontro que se restringisse aos elementos do inquérito. Na terceira manifestação, a AGU defendeu que Celso de Mello informasse a cadeia de pessoas que terão acesso ao vídeo da reunião. A defesa de Moro defendeu a divulgação da íntegra da gravação. Ao final, o governo entregou a gravação na íntegra.
Por ora, o ministro do STF sugeriu uma solução intermediária. Segundo ele, o acesso ao vídeo está garantido por enquanto apenas para as partes envolvidas no caso, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, vai opinar sobre a conveniência de divulgar publicamente toda a gravação.
Durante a semana vai ocorrer uma série de depoimentos importantes para o caso.
Nesta segunda, a PF toma os depoimentos dos delegados Valeixo, Ricardo Saadi e Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que era o preferido DE Bolsonaro para assumir o comando da corporação.
Na terça, os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, vão depor. O trio foi citado por Moro em depoimento como cientes da pressão de Bolsonaro para a troca do comando da PF.
Os advogados de Moro vão acompanhar esses depoimentos. Essa parte da apuração, ligada a outras diligências, vai servir para o desfecho do caso: se o presidente será denunciado pelo procurador-geral ou se a apuração será arquivada.
Se Bolsonaro for acusado criminalmente, a peça terá de ser enviada para a Câmara dos Deputados — a quem cabe autorizar o julgamento dela pelo Supremo. São necessários ao menos 342 votos de deputados para que o STF analise a denúncia.
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