Interiorização da covid desafia frigoríficos; produtores e consumidores seriam mais prejudicados
Frangos, de ciclo mais curto, correm mais risco de prejuízos com paralisação de frigoríficos (Imagem: REUTERS/Rodolfo Buhrer)
Com o tempo correndo favor da expansão acelerada do contágio pelo interior, inclusive sob afirmativa do Ministério da Saúde, não se descarta aumento dos casos de contaminação do novo coronavírus em trabalhadores dos frigoríficos além do que se conhece até o momento.
E isso está no monitor dos produtores, porque sob descontrole e número maior de paralisações de abates a tendência é seus animais perderem preços e as carnes das indústrias subirem.
O governo federal, inclusive, quer mudar os padrões de segurança das unidades, através de um protocolo único que garanta as medidas de controle mais rígidas.
Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), acredita que numa perspectiva mais negativa atingindo os abatedouros, a conta virá para o produtor. Ele olha o histórico recente de “achatamento de preços apenas pelo começo da pandemia”, quando o kg caiu de R$ 5,88 para R$ 3,83 (há quatro semanas). Se menos indústrias comprarem, por novos casos de paralisações, o cenário estaria armado para pressões na granja e preços mais altos no varejo pela redução da oferta.
Em Santa Catarina, agente do setor de aves, da ponta industrial, confirma, por exemplo, que alguns frigoríficos médios e pequenos já estão “tirando alojamento” por precaução. O número de retiradas ainda é pequeno, 2 a 3% do volume, mas o risco de atingir os grandes em escala maior é calculável. “Por enquanto, podem jogar (a produção) de uma planta para outra”, diz um eles, sob condição de anonimato.
A BRF (BRFS3) de Concórdia (SC) diz que 93,4 % de seus funcionários testaram negativo para a covid-19, e 6,6% testaram positivo. A planta de suínos voltou a operar ontem. Em outras unidades da companhia, os casos de confirmações, em teste rápidos, há uma variação de 10% a 18% do número de funcionários.
A JBS (JBSS3) já teve sua dose de problemas na planta de aves de Passo Fundo (RS) e chegou a confirmar a covid-19 em trabalhadores de unidades de bovinos. Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3) também, respectivamente nas filiais de Araguaína (GO) – cuja cidade entrou em locdown & e Várzea Grande (MT), onde há registros de mortes em investigação.
Na pecuária de corte, a proliferação de problemas do gênero, por mais cuidados e seguranças que as companhias estejam tomando, deixará igualmente mais produtores com boi para vender e poucos frigoríficos na ponta compradora. O cenário se repetiria, portanto, com mais oferta na ponta inicial, e cotações limadas, e menos oferta na ponta final, com o consumidor pagando mais caro.
A situação já foi vivida recentemente nos Estados Unidos. A Agrifatto colocou a pauta no radar de sua inteligência de mercado, “já que o corona está a caminho do interior e nossas indústrias frigoríficas são espalhadas pelo País”, diz o analista Yago Travagini.
Oxalá não chegando a um contágio sistêmico, atingindo muitas plantas, a consultoria faz uma ressalva: “O Brasil tem uma diferença dos EUA com plantas menos concentradas, e menores, ou seja, não há uma dependência muito grande de uma ou três unidades que saiam de operação.
O boi tem um ciclo mais longo, daí que a possibilidade de manobra do produtor é maior, contra os suínos e, especialmente, as aves. Por isso que Valdecir Folador, presidente da Acsurs, se diz preocupado, por ver “a fragilidade do momento para o produtor independente”.
Há uma semana o kg do suíno posto nas indústrias gaúchas está em R$ 4,26, mas ainda no custo de produção, ou até abaixo para muitos produtores, enquanto no varejo não houve queda “nem quando o kg esteve em R$ 3,83”, diz, salientando os embutidos principalmente. Ao mesmo tempo, as exportações seguem fortes (podem chegar a 100 mil toneladas este mês).
Em caso de expansão da covid, obrigando a parada temporária de frigoríficos, Folador teme pelo pior.
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