Mapeamento propõe estratégias locais para enfrentar covid-19
O estudo que observa as hospitalizações e mortes pela doença rua a rua indica que o vírus atinge de formas diferentes cada região (Imagem: Agência Brasil/ Rovena Rosa)
A disseminação da pandemia de covid-19 na cidade de 💥️São Paulo acontece de forma distinta nas dezenas de bairros, mostra o mapeamento feito pelo Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).
O estudo que observa as hospitalizações e mortes pela doença rua a rua indica que o vírus atinge de formas diferentes cada região, mesmo na comparação entre bairros com características semelhantes, e propõe que as políticas e medidas de contenção ao novo 💥️coronavírus sejam tomadas em escala menor, de forma localizada, dentro dos distritos da capital paulistana.
“Tem favela que tem [muitos casos]? Tem. Tem favela que não tem? Tem”, diz o pesquisador do LabCidade Aluízio Marino a respeito do que o cruzamento de dados feito pelo grupo tem mostrado.
Os pesquisadores usaram uma base de dados disponibilizada pelo 💥️Ministério da Saúde que mostra as internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por CEP residencial.
Assim, os mapas mostram não só o número de casos da doença por região, mas por rua de ocorrência, assim como as mortes relacionadas.
Múltiplos fatores
A análise indica a existência de múltiplos fatores que levam à disseminação da doença em determinados locais. “Não é só densidade habitacional.
Não é só precaridade habitacional”, enfatiza Marino ao falar sobre a necessidade de evitar discursos e conclusões pré-estabelecidas. “Inclusive, porque esses discursos foram muito usados desde a década de 1960 até hoje para remover favelas e cortiços”, lembra.
O pesquisador destaca a importância de olhar para além das simplificações (centro e periferia) e para dentro das divisões regionais administrativas, como as prefeituras regionais da capital paulista.
“Brasilândia tem a população de uma cidade de médio porte. Se você pegar os dados só por Brasilândia, dizem pouca coisa.
Aonde em Brasilândia?”, questiona o pesquisador fazendo referência ao distrito paulistano com maior proporção de casos e onde vivem 260 mil pessoas com diversas realidades econômicas e sociais.
“Não é só uma relação centro e periferia. No centro a gente tem lugares muito distintos, como a região da Luz onde está a Cracolândia, com várias pensões e moradores em situação de rua”, acrescenta.
Mobilidade e centros comerciais
A partir desses primeiros resultados, o grupo investiga agora outras variáveis que podem explicar a distribuição local da doença. “A gente vai cruzar isso com dados de mobilidade. Cruzar com os dados dos centros comerciais de bairro, ver se tem alguma relação entre a presença dos centros comerciais”, diz o pesquisador sobre as possibilidades que serão analisadas com mais dados a partir dos indícios fornecidos pelo entrelaçamento das informações.
“Já dá para perceber uma relação muito forte entre o centro comercial do bairro e a presença da covid”, destaca Marino sobre uma das principais hipóteses. “Onde mais circula gente é onde mais está tendo a disseminação da doença. Isso por causa da mobilidade”, aponta outro possível fator de contaminação.
Ações com articulação local
Isso, poderia indicar, de acordo com o pesquisador, a necessidade de políticas que aumentem a segurança do transporte público. “Repensar a política de mobilidade, tendo um percurso todo protegido. Espaços para as pessoas não ficarem aglomeradas, mais ônibus nas linhas. Isso tem que ser pensado nas linhas onde está mais congestionado o sistema”, propõe.
Para conseguir respostas locais eficientes, Marino acredita na importância do fortalecimento de algumas políticas já existentes no Sistema Único de Saúde (💥️SUS). “Agente de saúde é uma preciosidade do SUS e eles estão super sucateados. Tinha que ter pelo menos o dobro de agentes de 💥️saúde na rua, fazendo trabalho de conscientização”, diz.
Outro ponto fundamental, na opinião do pesquisador, é uma articulação das políticas públicas com as organizações civis e comunitárias nos territórios. “Sentar com as lideranças comunitárias para identificar quem não consegue se isolar”, exemplifica sobre medidas que poderiam melhorar a eficiência do isolamento social, norma difícil de ser adotada por pessoas com renda instável e moradia precária.
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