Preços do café atingem recorde dos últimos 47 anos e há (sérias) preocupações sobre colheitas no Brasil e Vietname - Executive D

Os preços do café alcançaram níveis nunca vistos em 47 anos, refletindo o impacto das condições climáticas adversas nos maiores produtores mundiais, Brasil e Vietname. O preço dos contratos futuros de café arábica chegou a 3,35 dólares (cerca de 3,07 euros) por libra (cerca de 453 gramas) no final de novembro, um aumento de 70% desde o início do ano e o mais alto desde 1977.

A escalada nos preços é atribuída a secas severas e chuvas intensas que prejudicaram as colheitas em regiões-chave. No Vietname, o maior produtor de café robusta, uma longa seca foi seguida por chuvas torrenciais que atrasaram a colheita. Já no Brasil, o maior produtor de café arábica, a pior seca das últimas décadas reduziu a humidade do solo, gerando preocupações sobre o potencial da safra de 2025.

Ole Hansen, chefe de estratégia de ‘commodities’ no Saxo Bank, destaca num relatório recente que o período desafiante de cultivo no Vietname já se estendeu ao Brasil. “As condições climáticas adversas levantam sérias preocupações quanto à próxima safra de arábica”, escreveu Hansen.

O preço do arábica, uma das variedades mais populares e de maior qualidade, subiu quase 70% no acumulado do ano, enquanto o robusta registou um aumento superior a 60%. Atualmente, o contrato futuro de arábica com entrega para março está avaliado em 3,14 dólares (cerca de 2,88 euros) por libra na Bolsa Intercontinental (ICE), ligeiramente abaixo do pico de 29 de novembro.

A procura global continua a crescer, impulsionada principalmente pelo aumento do consumo em mercados como a China. Contudo, a produção está concentrada em poucos países – como Brasil, Vietname, Colômbia, Indonésia e Etiópia – que estão altamente vulneráveis às mudanças climáticas.

Os ataques recentes dos rebeldes Houthi no Mar Vermelho também têm contribuído para a instabilidade nos preços ao afetar as rotas de transporte marítimo. Este fator aumenta as incertezas num mercado já pressionado pelas dificuldades na produção.

Produção e resposta do mercado
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a previsão de produção de café no Brasil para a temporada 2024/25 foi reduzida de 69,9 para 66,4 milhões de sacas de 60 kg. Embora represente um aumento de 0,2% face à temporada anterior, esta projeção reflete os efeitos negativos das condições climáticas adversas.

Os consumidores já estão a sentir o impacto do aumento dos preços no mercado. A gigante suíça Nestlé, maior produtora mundial de café, anunciou recentemente novos aumentos nos preços dos seus produtos, incluindo as populares cápsulas Nespresso.

O café, um dos produtos mais negociados globalmente, enfrenta um futuro incerto, com o equilíbrio entre a crescente procura e a produção limitada a ser amplamente influenciado pelas alterações climáticas e tensões geopolíticas.

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