Felipe Paletta: Reducionismo – a arte de tornar as coisas mais simples do que realmente são…

“Identificar precisamente os erros, como defende o megainvestidor Ray Dalio, é tão mais importante do que tentar encontrar boas oportunidades de investimento”, defende o colunista (Imagem: Shutterstock)

Sempre me incomodou como as passagens históricas, da forma pela qual a gente aprende na escola, são extremamente romantizadas.

Talvez você conheça a história da queda do grande imperador Napoleão Bonaparte, na que ficou conhecida como a Campanha Russa, na 💥️França, ou como Guerra Patriótica, na 💥️Rússia.

Com um império que chegou a ter sob seu domínio quase toda a Europa Ocidental e grande parte da Europa Oriental, de 💥️Portugal à Polônia, Napoleão chegou a controlar mais de 50 milhões de pessoas – quase um terço da população europeia.

Isso até a invasão à Moscou, no ano de 1812.

Na escola, o que aprendi era que Napoleão teria subestimado as condições climáticas do país, cego pelo desejo de ampliar geograficamente o chamado bloqueio continental.

Isto é, para competir economicamente com o forte 💥️Reino Unido, potência mundial dominante da época pelo seu Imperialismo, precisaria encontrar formas de ampliar o embargo comercial dos bretões com o resto do mundo.

Bom, de certa forma, não há nada errado com as premissas: a motivação era essa e o exército francês realmente sucumbiu ao frio.

Mas tratar os acontecimentos desta forma é reduzir, ou simplificar muito, o que realmente aconteceu. Ou ainda, ignorar a versão Russa da história.

O progresso está na reflexão

E isso é importante porque identificar precisamente os erros, como defende o megainvestidor 💥️Ray Dalio, é tão mais importante do que tentar encontrar boas oportunidades de investimento.

Como investidor, posso te dizer que esse reducionismo acontece o tempo todo e explica muito dos erros que cometemos.

Mesmo aqueles gastam tempo analisando os fundamentos de uma empresa, acabam tentando simplificar em poucos vetores certos acontecimentos que podem elevar ou diminuir o que seria o “preço justo” de uma empresa.

Isso, claro, na tentativa de simplificar o processo de análise. E, então, para que possam gastar mais tempo simulando o que aconteceria nos cenários A, B ou C.

A questão é que, na maior parte das vezes, o verdadeiro valor nasce justamente em quanto tempo foi gasto na interpretação de todos os vetores que criam ou destroem valor para um empresa.

Assim, você passa, definitivamente, a controlar as premissas e não ser controlado por elas.

Quando o lendário investidor 💥️Warren Buffett diz que você deve investir em empresas nas quais conhece e deve entender como elas ganham dinheiro, é exatamente isso que quer dizer.

Eu sei, até aqui tudo parece muito teórico, pouco prático, mas me dê uma chance de tentar tornar tudo mais claro.

A tática da terra arrasada

No livro “Napoleão 1812”, o brilhante escritor Nigel Nicolson faz uma reconstrução desse evento histórico e traz algumas conclusões muito interessantes.

Napoleão não subestimou as condições climáticas da Rússia, subestimou – na realidade – os reflexos de seus movimentos, afinal, seu exército de mais de 300 mil soldados era múltiplas vezes superior.

Seu exército era tão grande que, dado a tecnologia da época, não havia qualquer comunicação entre as primeiras fileiras e os que estavam na lanterna.

Como os russos adotaram a estratégia de terra arrasada, fugindo das cidades e queimando tudo que podiam antes da chegada dos franceses, os primeiros soldados morriam de fome antes mesmo do exército se dar conta do que estava acontecendo.

Ou seja, quando reduzimos a derrota de Napoleão ao frio russo, simplesmente ignoramos os seus erros estratégicos e todo sacrifício e planejamento russo.

No mercado, essa leitura incorreta poderia te custar muito caro.

Mercados

“Com a forte queda da taxa de juros, vimos aumentar rapidamente o número de investidores na Bolsa e, consequentemente, o volume de negociações em Bolsa”, comenta Felipe Palleta (Imagem: Pixabay)

Como contornar esse problema?

Minha primeira dica é: esqueça o tal do “preço justo” ou “preço alvo”.

O que faço, nos meus modelos de projeção, é o inverso do que a maioria dos analistas costumam fazer.

O benefício dessa abordagem é que: a expectativa de lucro e receita das empresas é algo que consigo controlar em meus modelos e comparar com o histórico das companhias.

Isso, inclusive, evita a fixação em um preço (só vou vender quando bater R$ X), já que esse “preço alvo” muda o tempo todo.

E o legal desta abordagem é o seguinte: a expectativa de lucro e receita de empresa é algo que consigo controlar e comparar com o histórico das companhias.

Estou disposto, inclusive, a 💥️abrir para você minha estratégia no último episódio da série “A Plena Ascensão”, que vai ao ar amanhã às 9 horas (não perca).

Para dar um exemplo, vou falar sobre uma empresa que recomendei várias vezes desde março aqui na newsletter e que faz parte da minha carteira de 💥️dividendos a quase dois anos.

Estou falando das ações da 💥️B3 (💥️B3SA3), as ações da Bolsa de Valores do Brasil.

No começo de julho, mais precisamente no dia 9, comentei que, mesmo depois da forte alta das ações desde março, ao preço de R$ 56 por ação, o mercado estaria precificando um crescimento médio de 16% ao ano do lucro para os próximos 10 anos e que, mesmo sendo bem alto, a média histórica dos últimos 10 anos da empresa apontavam para um crescimento médio de aproximadamente 18%.

E é aí que entra aquela parte de entender como a empresa ganha dinheiro.

Com a forte queda da taxa de juros, vimos aumentar rapidamente o número de investidores na Bolsa e, consequentemente, o volume de negociações em Bolsa, quando comparado ao padrão histórico.

Ou seja, apesar do mercado já estar precificando um crescimento de lucro bem alto, o cenário para os próximos anos é muito mais otimista, o que, a meu ver, continuava a justificar a compra das ações.

Resultado: de lá para cá as ações subiram 16%.

Veja, o que estou querendo dizer é que as pessoas costumam dar muito mais importância para as coisas que acontecem no curto prazo e se deixam levar por convicções temáticas que na maior parte das vezes não têm relevância.

Por isso, tente ir por um caminho diferente. Fazer o que ninguém está fazendo e se questionar o tempo todo.

Pegue os seus investimentos atuais e reflita. Será que não está caído na narrativa de comprar empresas de tecnologia? De migrar todo seus investimentos para o exterior?

Eu tomaria bastante cuidado.

Escrevo essa carta para que você seja mais crítico e pense de forma realmente independente, para não aceitar como verdade a superficialidade do retrato da queda do império de Napoleão Bonaparte.

P.S.: Composta por Tchaikovsky, em 1882, a música de fundo da versão em áudio dessa newsletter retrata o antagonismo entre a inicial vitória francesa e a posterior revanche russa, em 1812.

Aproveito para indicar os melhores fundos de investimento disponíveis neste momento, 💥️basta clicar aqui.

Gostou dessa newsletter? Então me escreva no e-mail [email protected]

Um abraço e até a próxima!

O que você está lendo é [Felipe Paletta: Reducionismo – a arte de tornar as coisas mais simples do que realmente são…].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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