Guerra gera mais custos ao setor de carnes do Brasil, mas também oportunidades
O Brasil, contudo, não estaria sozinho na disputa por mercados que eventualmente deixem de ser atendidos pela Ucrânia, (Imagem: Pixabay)
O ataque da 💥️Rússia à 💥️Ucrânia causou uma disparada nos preços globais de 💥️grãos que afeta os custos da 💥️indústria de 💥️carnes brasileira, mas um eventual recuo nas 💥️exportações ucranianas de carne de 💥️frango abre uma lacuna que pode ser ocupada pelos frigoríficos do 💥️Brasil.
Analistas e representante da indústria ouvidos pela Reuters também veem chance de aceleração nas negociações para retirada de suspensões a unidades do Brasil embargadas pelos europeus desde de 2018, uma vez que a 💥️União Europeia é uma das principais compradoras de proteína animal da Ucrânia.
“O setor produtivo tem se preparado para suprir lacunas e apoiar a segurança alimentar de nações que possam vir a ser desabastecidas pela provável suspensão ou diminuição das exportações de carne de frango e suína da Rússia e da Ucrânia”, disse à Reuters a Associação Brasileira de Proteína Animal.
Na avaliação da ABPA, que representa gigantes como 💥️JBS (💥️JBSS3) e 💥️BRF (💥️BRFS3) no Brasil, maior exportador global de carne de frango, os dois países em conflito são players relevantes e concorrentes de brasileiros em importantes mercados do Oriente Médio e da 💥️Europa.
“Pode acontecer um ganho de competitividade”, disse o presidente da ABPA, Ricardo Santin.
O Brasil, contudo, não estaria sozinho na disputa por mercados que eventualmente deixem de ser atendidos pela Ucrânia, disse o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres.
“Abre-se uma oportunidade para o Brasil, mas abre também para todos os produtores globais”, afirmou ele, destacando que os Estados Unidos também podem sair beneficiados.
A exportação de carne de frango da Ucrânia gira em torno de 430 mil toneladas por ano, volume que representou cerca de 10% da exportação brasileira em 2023, notou ele.
Sobre a Europa, Santin acredita que este será um mercado com um “grande desafio”, caso os exportadores ucranianos deixem de embarcar carnes diante das dificuldades impostas pela guerra.
Sobre a Europa, Santin acredita que este será um mercado com um “grande desafio”, caso os exportadores ucranianos deixem de embarcar carnes diante das dificuldades impostas pela guerra (Imagem: Agustin Marcarian)
De acordo com a associação, há cerca de 20 unidades brasileiras suspensas pelos europeus, que já cumpriram todos os requisitos necessários para retomada da habilitação. A suspensão veio diante de denúncias investigadas pela operação Trapaça, da Polícia Federal.
“Se a Europa tiver mesmo necessidade da carne brasileira, é claro que esses frigoríficos suspensos pela Operação Trapaça vão ser revistos com velocidade”, acrescentou o diretor da Scot.
A Ucrânia implementou licenças de exportação para produtos como frango e ovos, informou a Interfax no domingo, após o país suspender embarques de commodities importantes, como açúcar, centeio, aveia.
Custos
Santin afirmou que os impactos da guerra ainda estão sendo analisados, mas a questão das despesas com insumos, que já preocupava a indústria, é um ponto de atenção.
“Estamos olhando atentamente para verificar como isso será conduzido. O maior efeito no curto prazo é o aumento de custo e o reflexo nos grãos”, afirmou.
De tudo o que é comercializado globalmente, 34% do trigo e 15% do milho partem do Mar Negro, por isso, uma interrupção desse fluxo levaria os preços dos grãos a se valorizar globalmente, elevando consigo os custos de produção especialmente de frangos e suínos, mas também de bovinos, avaliou a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel.
A exportação de carne de frango da Ucrânia gira em torno de 430 mil toneladas por ano (Imagem: REUTERS/Michael Kooren)
Cerca de 65-75% dos custos de produção de frangos são associados ao milho, enquanto nos suínos esta relação está entre 60-70%, e na pecuária intensiva entre 20-30%.
“Isso indica que a produção de frangos seria a atividade mais impactada pela redução do fluxo comercial global de milho e insumos correlatos, considerando ainda que os produtores já vêm de um período de impacto relevante e positivo com custos nutricionais”, disse ela.
Desde o início da guerra na Ucrânia, os preços do trigo, por exemplo, chegaram a máximas de 14 anos e o milho foi negociado em picos desde 2012, na bolsa de Chicago.
Internamente, o indicador do milho Esalq/B3 mostra que as cotações do cereal, por exemplo, ainda não refletem a volatilidade vista lá fora. O índice fechou em 98,15 reais por saca na sexta-feira, avanço de apenas cerca de 1% desde o início da guerra.
O analista da Stonex João Pedro Lopes disse que os preços não estão tendo grandes oscilações no mercado interno porque a indústria está relutante em aceitar pagar as valorizações refletidas no mercado internacional, considerando que o milho já está em patamares perto de máximas históricas no país.
Desde o início da guerra na Ucrânia, os preços do trigo, por exemplo, chegaram a máximas de 14 anos e o milho foi negociado em picos desde 2012 (Imagem: Pixabay)
“Vai depender muito da concretização da safrinha, caso tenha alguma quebra, é possível que o consumidor local aceite preços maiores, então acho que vai depender da safrinha”, comentou, referindo-se à segunda safra, a maior do país, que ainda está sendo plantada.
Fluxos
A ABPA alertou também que seus associados têm relatado entraves já esperados para embarcar produtos para o mercado da Rússia. Porém as cargas que estão em transporte e próximas do destino final estão sendo internalizadas “sem maiores empecilhos nos portos russos”.
A Rússia, entretanto, não é mais um destino tão importante para o Brasil. Em 2023, foram 106 mil toneladas de frango, enquanto os embarques de suínos somaram 9,29 mil toneladas, e as vendas de carne bovina atingiram 35,35 mil toneladas.
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