Pré-Mercado: Quem ficou na fila para a gasosa?
Receio de um pulo do gato morto se espalha pelo mercado | Batman: O Retorno (1992)
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Setup Dave Landry: ocorre num ativo em tendência de alta que apresenta um pullback (reversão temporária do preço para realização dos lucros). O pullback pode fornecer um ponto de entrada para os traders, uma vez que outros indicadores permanecem altistas.
💥️Bom dia, pessoal!
Os mercados asiáticos fecharam esta sexta-feira (11) em sua maioria digerindo o processo de ajuste ocidental no pregão de ontem (10). Teme-se que a alta de quarta-feira (bem como possivelmente a de hoje) possa ter sido um pulo do gato morto, a depender de como os desdobramentos da guerra, em especial sobre a inflação, persistirem ao longo dos próximos meses — houve fracasso em mais uma rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia na Turquia, gerando volatilidade.
Nesta manhã, ao contrário do que aconteceu na Ásia, a Europa consegue sustentar uma tímida alta, ainda processando as novas expectativas de crescimento e inflação divulgadas pelo BCE durante o pregão de ontem. Os futuros americanos acompanham, mas ainda sem muita certeza, principalmente depois da inflação de quase 8% apresentada ontem (às vésperas da reunião do Fed, marcada para semana que vem).
O Brasil tem espaço para acompanhar o movimento internacional, mas precisa antes entender os impactos econômicos e fiscais dos movimentos de ontem em Brasília, que visavam à questão dos combustíveis. As propostas buscam impedir que haja um efeito inflacionário muito grande sobre o consumidor final, mas questiona-se a sustentabilidade das medidas a longo prazo.
A ver…
No aguardo da inflação
Ontem (10), em Brasília, a Câmara aprovou o projeto que trata de ICMS sobre combustíveis. Adicionalmente, o Senado também caminhou para a aprovação das propostas que criavam a conta de estabilização dos preços dos combustíveis e ampliavam o vale-gás, bem como criavam o auxílio à gasolina.
A principal ideia aqui é que apenas um terço do impacto da alta dos preços seja transferido ao consumidor final — a União corta R$ 0,33 por litro de diesel, enquanto Estados cortam R$ 0,27 (o custo da redução para a União será de até R$ 19 bilhões e para Estados, de até R$ 16 bilhões). Entende-se que o governo tenha ganhado tempo para esperar que os preços se acomodem no mercado internacional.
O tema é relevante em meio à disparada do preço do petróleo e na sequência do novo reajuste da gasolina, diesel e gás de cozinha anunciado pela Petrobras (de 24,9% no diesel e de 18,7% na gasolina).
Curiosamente, hoje também teremos a apresentação da inflação oficial de fevereiro, o IPCA, pelo IBGE. Estima-se que o indicador tenha acelerado 0,94% no mês passado, enquanto muitas pessoas já começam a projetar uma inflação de 7% para este ano, mais uma vez acima do teto da meta.
Contudo, não só de combustíveis vive a inflação. Por isso, também será interessante acompanhar o encontro de Bolsonaro com Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como sua participação na cerimônia de lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes. Sabemos que outra preocupação será a inflação de alimentos, também influenciada pela guerra (alta das commodities internacionalmente e falta de insumos para fertilizantes). Nesse sentido, novidades aqui poderão também trazer novos ares para o mercado.
A mais alta em décadas
Mais uma vez os EUA registraram a inflação mais alta em 40 anos. Ontem, o índice de preços ao consumidor de fevereiro mostrou alta de 0,8% em relação ao mês anterior, para um ritmo anual de 7,9%. Os aumentos foram amplos em todas as categorias, inclusive nos preços da gasolina, aluguel, mantimentos e muito mais.
As implicações são várias. A principal deriva da pressão adicional sobre o Federal Reserve para aumentar as taxas de juros e cumprir seu objetivo declarado de levar a inflação de volta à sua meta anual de 2%. Aumentos mais rápidos ou maiores nas taxas do que o mercado espera seriam negativos para os ativos de risco.
Por outro lado, preços mais altos na bomba e no supermercado também podem pesar nos gastos discricionários dos consumidores dos EUA. Isso seria outro vento contrário para uma economia que é mais de dois terços impulsionada pelos gastos do consumidor. Com isso, teríamos argumentos para ver um Fed mais comedido.
Ainda assim, a inflação alta contínua, a necessidade do Fed de reagir com força, o impacto dos custos crescentes sobre consumidores e empresas e, agora, a guerra na Ucrânia e as sanções resultantes à Rússia fazem com que o cenário de estagflação nos EUA comece a ser cogitado (ou pior, recessão).
O comitê de política monetária do Federal Reserve (Fomc) se reúne na próxima terça e quarta-feira (nos mesmos dias em que o Brasil realizará sua reunião do BC). A conferência de imprensa pós-reunião do presidente Jerome Powell na tarde de quarta-feira será vital para que investidores e economistas entendam os próximos passos da autoridade monetária.
Sinuca de bico
O posicionamento da política do Banco Central Europeu de ontem permaneceu essencialmente inalterado em relação às expectativas pré-guerra. Notadamente, o mais dovish (flexível) dos bancos centrais do mundo desenvolvido ficaria ainda mais cauteloso depois dos acontecimentos recentes, até mesmo porque os indicadores econômicos ainda não pegaram os últimos desdobramentos de março.
Agora, os mercados reagem com volatilidade porque a guerra criou incerteza. A liquidez da política quantitativa, porém, não é realmente necessária e pode ser retirada. Há também um mal-estar depois das revisões para a expectativa de crescimento e de inflação (no caso, menor crescimento e mais inflação). Por isso, será importante acompanhar os índices de inflação com ainda mais ênfase a partir de março.
Anote aí!
Para nós, brasileiros, o principal fator de atenção é o IPCA de fevereiro, a ser divulgado pela manhã. Os desdobramentos das aprovações de ontem em Brasília, bem como o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, também têm sua relevância.
Haverá também mais uma divulgação de pesquisa sobre sucessão presidencial. Por fim, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa da Global Economy Meeting, promovida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) — a fala de Campos Neto, principalmente em um ambiente tão incerto, é sempre importante.
Lá fora, investidores digerem os dados de produção industrial e manufatureira do Reino Unido, que vieram mais fortes do que o esperado em janeiro. Ainda na Europa, haverá reunião do Conselho Europeu, que poderá dar novas diretrizes sobre a guerra na Ucrânia. Nos EUA, destaque para os dados de sentimento do consumidor de Michigan nos EUA.
Muda o que na minha vida?
Ontem, o rendimento do título do Tesouro dos EUA de dez anos subiu 6 pontos-base, para ficar colado em 2%. Esse é seu rendimento mais alto em quase um mês e é cerca de 48 pontos-base maior do que há um ano. Na ponta mais curta da curva, o yield chegou a 1,72% (reflexo dos dados de inflação próximos de 8%), o maior desde o final de 2023.
Notem que isso coloca o mercado em posição de alerta. O spread entre o rendimento de dez anos e o rendimento de dois anos está em apenas 0,28 p.p., próximo da menor diferença desde março de 2023, durante o início da pandemia de Covid-19. Ou seja, o temor de uma estagflação ou até de uma recessão já começa a ser precificado pelo mercado, por meio de uma possível inversão da curva de juros em breve.
Basicamente, quando os investidores exigem juros mais altos para emprestar por dois anos do que por dez anos, como em breve poderá ser o caso, muitos veem isso como um sinal de uma recessão. Em outras palavras, o achatamento da curva contribuiu para as preocupações sobre as perspectivas econômicas dos EUA ultimamente.
Ainda assim, a história mostra que nem toda inversão da curva de juros é imediatamente seguida por uma recessão. Por outro lado, não houve uma recessão nos EUA no século passado que não tenha sido precedida por uma inversão da curva de juros. Precisaremos ficar atentos para saber se de fato a economia americana entrará em recessão ou processo de estagflação entre 2022 e 2023.
Um abraço,
Jojo Wachsmann
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