Juros altos: Por quanto tempo iremos conviver com eles, afinal?
Sob pressão: Federal Reserve lidera guinada global em direção à alta dos juros para combater inflação (Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque)
Dois anos após o início da 💥️pandemia, os economistas ainda discutem se os 💥️efeitos inflacionários da atual crise de fato são 💥️temporários ou se de algum modo indicam que houve uma mudança permanente nas condições econômicas. O que não era uma tarefa fácil, tornou-se ainda mais complicada em função da 💥️guerra na Ucrânia.
Por isso, a disparada da 💥️inflação pelo mundo tem exigido reações rápidas em tempos incertos e começa a dar sinais de que pode ter efeitos ainda mais duradouros.
Antes da pandemia, o mundo vinha de um longo período de💥️ juros baixos. As economias avançadas mostravam dificuldade em elevar a inflação para suas respectivas 💥️metas e a crise parecia reforçar essa tendência.
Por esse motivo, em meados de 2023, o 💥️Banco Central americano indicou que poderia ser mais leniente com a inflação por algum tempo, na tentativa de convencer consumidores e empresas de que os juros continuariam muito baixos por muito tempo. A estratégia não durou muito. No início do ano seguinte a inflação começou a disparar muito acima do planejado.
“Nos últimos 25 anos, tivemos a combinação perfeita de forças desinflacionarias, como a demografia, globalização e tecnologia”, disse 💥️Jerome Powell, presidente do BC americano no final de março. Alguns desses fatores podem persistir, eventualmente trazendo o mundo de volta ao equilíbrio anterior, mas ao menos por mais alguns anos, a alta nos 💥️preços de energia e outras pressões inflacionárias devem acabar se sobrepondo.
A guerra e a pandemia terão implicações permanentes sobre o funcionamento da💥️ economia global, com consequências para o comportamento dos preços nos próximos anos.
Os impactos sobre a 💥️cadeia de suprimentos provocados pela epidemia de Covid têm feito os países repensar a forma de organizar sua logística e produção, levando em consideração a segurança no fornecimento desses suprimentos em momentos como esse.
Globalização, mercado de trabalho e energia
Um indicador do Fed de Nova York mostra que essas limitações na 💥️oferta global atingiram seu pior momento no final do ano passado e melhoraram pouco desde então. Se antes o objetivo era conseguir reduzir custos ao máximo, agora a busca por uma oferta mais confiável pode levar a um aumento de preços.
“Ainda deve levar algum tempo para que os efeitos das grandes mudanças vividas pelo mundo recentemente sejam completamente superados”, afirma Carlos Lopes, do BV (Imagem: Divulgação/ BV)
Essa💥️ globalização da economia mundial é também afetada pela guerra na Ucrânia. A importante mudança vista no quadro geopolítico mundial já tem mudado a atuação de governos e multinacionais. Empresas e países buscam rapidamente reduzir sua dependência econômica de algumas economias.
A Europa, por exemplo, tem acelerado a💥️ transição energética para💥️ fontes renováveis e considerado a geração nuclear. Esse movimento também deve se refletir em preços mais elevados.
As mudanças dos últimos anos também são vistas no 💥️mercado de trabalho. Nos EUA, a taxa de 💥️vagas de emprego abertas é de 1.8 por pessoa desempregada, sugerindo um mercado de trabalho muito aquecido. Enquanto isso, o número de pessoas empregadas ainda não atingiu o patamar pré-crise e a quantidade de desempregados é maior. Ou seja, empresas têm tido dificuldade em encontrar os perfis que precisam, o que se reflete em pressão sobre salários.
E os juros no Brasil?
E no Brasil a história não foi diferente. Uma série de reformas e medidas econômicas que vinham sendo adotadas desde 2016 reforçavam a percepção do mercado e do 💥️Banco Central de que a economia viveria estruturalmente com juros mais baixos. O início da pandemia e a expectativa de forte retração na economia aumentaram a confiança de que o país não veria novamente a 💥️taxa básica em 💥️dois dígitos.
Pouco tempo foi necessário para se notar o contrário. O que começou com pressões pontuais em alimentos, combustíveis e energia, logo se mostrou uma inflação disseminada e persistente. O indicador estourou o 💥️teto da meta em 2023, irá superar também em 2022 e corre o risco de repetir a dose em 2023. Alguns preços de reajustes menos frequentes, como 💥️salários e 💥️serviços públicos, passaram a incorporar reajustes maiores, ajudando a carregar a inflação à frente.
Ao final de 2023, a pesquisa💥️ Focus do BC, que coleta as expectativas dos economistas sobre indicadores econômicos, mostrava que a mediana das projeções acreditava que, após três anos, a 💥️taxa real de juros teria caído para 3,0%. Essa mesma medida, hoje, indica uma taxa real maior, de 4,0%, embora ainda abaixo do patamar do final de 2016, de 5,25%.
Ainda não está claro se os juros altos voltarão a ser a normalidade nos próximos 25 anos, mas ainda deve levar algum tempo para que os efeitos das grandes mudanças vividas pelo mundo recentemente sejam completamente superados. Por aqui, as já tradicionais 💥️tensões eleitorais e a sempre presente possibilidade de retrocessos na economia devem dificultar ainda mais a volta ao antigo normal.
✅💥️Carlos Lopes é economista no banco BV desde 2013 e já passou por instituições financeiras como Itaú BBA, Banco Fibra e WestLB. É formado pela Universidade de São Paulo e tem mestrado no Insper.
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