Até a “bicicleta do Biden” ilustra importância dos novos corredores econômicos, diz sócio da Markestrat
Com Rússia, China fortalece a sua atração sobre as economias emergentes (Imagem: José Paulo Lacerda)
Da conexão do Brasil com os Estados Unidos só restou mais da geografia. Economicamente, a relevância é com China que consolidou os novos “corredores econômicos”, agora fortalecidos por uma Rússia sem ter para onde correr encurralada por sanções.
O próximo presidente brasileiro terá que escolher entre esses dois cantos, embora não se duvide muito que a direção de qualquer um dos dois principais candidatos será aos ienes chineses convertidos (por enquanto) em dólares – mais do que o distanciamento ideológico de Luiz Inácio Lula da Silva ou o ranço político do atual presidente Jair Bolsonaro em relação ao presidente americano.
Embora se reserve o direito de não dar essa resposta claramente, o professor José Carlos de Lima Jr., sócio da consultoria Markestrat Group, usa a queda da bicicleta do presidente dos Estados Unidos para mostrar que o mundo unipolar faz pouco sentido hoje: “Até a bicicleta do Biden percebeu isso”.
Claro, a economia do agronegócio é o início, o fim e o meio para o Brasil nessa não tão Nova Ordem Mundial.
Mas, para além das estatísticas que reforçam essa quase hegemonia chinesa no comércio exterior brasileiro, o acadêmico da USP de Ribeirão Preto vai buscar mais exemplos de como esses novos corredores multilaterais se tornam cada vez mais importantes.
Os corredores
Mais recente. Um monte de países africanos se recusou a participar de recente reunião virtual com o presidente Volodymyr Zelensky, da Ucrânia. Não adiantou a pressão da antiga potência colonizadora. Falou mais alto a atual, da China, que se embrenha no continente africano com financiamentos e investimentos em projetos de toda ordem.
Lima Jr. Também vai buscar outro caso novo. O Irã, sempre às voltas com as objeções dos Estados Unidos, foi abrigado na Organização para Cooperação de Xangai. E por insistência da Rússia junto ao seu novo parceiro, a China.
Por tabela, a dita organização já mantém estreita relação comercial, sob tratamento diferenciado, com a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que soma da Tailândia à Singapura, da Malásia ao Vietnã, entre outros.
Para completar, o professor e consultor vai buscar o Brics, o agrupamento do qual o PT foi entusiasta enquanto governo e Bolsonaro quer chamar de seu, juntos com seus novos colegas da Rússia e China.
“O Brics provavelmente se tornará um núcleo expandido de emergentes, com a OCX, Asean e UA [União Africana]”, argumenta, lembrando que “foi essa a lente que deu base à proposta de criação de uma nova Reserva de Valor Mundial com cesta de moedas dos Brics”.
Ao fim e ao cabo, essa argumentação tem como base a “mudança estrutural aos nossos olhos”, que foi fomentada, ainda mais, pelos americanos ao confiscarem as reservas russas na sequência da sua invasão na Ucrânia.
“Essa decisão mostrou ao mundo duas coisas. A primeira, que os EUA são líderes. A segunda, que a propriedade sobre as reservas acumuladas em moeda americana só lhe dará direito de uso se aceitar ser liderado”.
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