Pré-Mercado: As tão aguardadas falas de Powell

O que Powell dirá em meio aos grandes pastos de Wyoming? | O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007)

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Lá fora, os mercados acionários asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta sexta-feira (26), acompanhando os sinais positivos de Wall Street durante o pregão de ontem, mesmo que os investidores se mantenham cautelosos nas expectativas para a fala do presidente do Fed dos EUA, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole.

Os futuros americanos, por outro lado, depois da alta de ontem e por conta da ansiedade dos investidores para o discurso, estão apresentando dificuldade nesta manhã A fala de Powell será pela manhã e poderá dar o tom do resto do dia. Qualquer surpresa terá um efeito direto no câmbio, nos juros e nas ações globais.

A ver…

E começa a propaganda eleitoral no rádio e na TV

Hoje, dia 26, é o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. No domingo, dia 28, teremos o primeiro debate entre os presidenciáveis — a expectativa é de que Lula e Bolsonaro participem. Nas sabatinas do Jornal Nacional, pouca coisa deve ter mudado, com Bolsonaro usando um tom mais moderado e Lula se valendo de seu bom e velho discurso eleitoral, simulando uma conversa de boteco.

As entrevistas pouco trataram dos problemas graves do Brasil, como a questão fiscal. Por exemplo, o Brasil pode ter de arcar com uma conta adicional de R$ 430 bilhões em 2023, o equivalente a 4,2% do PIB, a depender da manutenção das manobras fiscais realizadas neste ano (só a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600, o reajuste do funcionalismo e a revisão das despesas discricionárias ultrapassa R$ 120 bilhões).

O que esperar da tão aguardada fala de Powell?

O mercado espera que Powell adote um tom hawkish (contracionista) em seus comentários, buscando reverter a recente narrativa de que o Fed recuará dos aumentos das taxas de juros em breve. Essa mudança nas expectativas em direção a uma política monetária relativamente mais frouxa provocou altas nas ações e títulos desde junho, o que poderá ser revertido se o tom for muito duro.

Tudo indica que o Fed não desistirá de sua luta contra a inflação tão facilmente, até mesmo porque os índices de preços ainda estão elevadíssimos e o mercado de trabalho segue bem apertado. São duas etapas aqui: reduzir a inflação de mais de 8% para 5% e depois levá-la para a meta de 2%. Ninguém faz o segundo gol sem fazer o primeiro e, por isso, um tom mais duro deve ser esperado.

Ao mesmo tempo, hoje teremos a entrega dos dados pessoais de renda e gastos dos EUA para julho. O PCE é (ou costumava ser) o indicador favorito do Fed para balizar sua tomada de decisão. A expectativa é que a receita deve aumentar 0,6% na comparação mensal, igual ao mês de julho, e os gastos devem subir 0,5%. O PCE deve desacelerar para uma alta de 4,7% em 12 meses.

O erro de Powell

Há quem diga que Powell cometeu vários erros ao longo do percurso, o que fez com que suas falas se tornassem muito mais importantes hoje do que deveriam ser. Dessa forma, não é impossível que o presidente do Fed frustre as expectativas para o evento, que sempre contou com a clareza por parte das autoridades monetárias. Hoje, o mercado se mostra sensível demais para o exercício de muita clareza.

Como o Fed comprometeu o “forward guidance” (orientação futura), prejudicando sua credibilidade, o mercado tem exacerbado o nível de volatilidade, a depender do que é dito. Com isso, o líder do BC americano pode ter criado por suas próprias mãos uma necessidade de se ir além do necessário em termos de aperto para controlar a inflação. É o que descobriremos hoje, ao passo em que o mercado reage ao discurso.

Anote aí!

Para a agenda internacional, além da fala de Powell, que poderá confirmar o ajuste de mais 75 pontos-base em setembro, temos também a renda pessoal, os gastos e a medida do deflator PCE dos preços, todo para o mês de julho — se houver aceleração, os juros podem subir e as ações podem cair. Na Europa, os investidores repercutem o encarecimento das contas de energia do Reino Unido, que vai pressionar ainda mais a inflação, e os dados de crédito da Zona do Euro.

No Brasil, fora o início da campanha eleitoral em rádio e televisão, temos também a definição da bandeira tarifária de setembro e a divulgação do resultado da arrecadação de julho — a poucos dias do prazo legal para o envio do Orçamento do próximo ano ao Congresso, o tema é de suma importância. As falas de Paulo Guedes e de Roberto Campos Neto também são aguardadas. 

Muda o que na minha vida?

A crise na Europa pode ser muito pior do que se imagina. Com o descontrole da inflação, o início da desaceleração do crescimento e o BCE sendo forçado a subir juros, há o risco de uma nova Crise da Dívida, como aconteceu entre 2012 e 2014.

Agora, o aumento nos preços da energia está ameaçando diminuir os US$ 279 bilhões em fundos que os políticos europeus destinaram para proteger empresas e famílias, o que seria mais um fator de pressão sobre as economias da Zona do Euro.

Como a Rússia está limitando as entregas de gás e interrompendo as usinas de energia, minando ainda mais o fornecimento, os governos europeus se concentraram principalmente na redução das contas de serviços públicos.

O problema é que essa abordagem pode não apenas ser sobrecarregada pelo aumento de preços, mas corre o risco de piorar a crise europeia. O mercado, porém, parece ainda não ter precificado isso, apesar dos ativos já estarem bem baratos por lá.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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