Banco Central: o dilema da autonomia e o risco de instabilidade econômica; entenda

Debate sobre autonomia do Banco Central é saudável e necessário, mas não deve ser usado como cortina de fumaça sob o risco de prejudicar economia (Foto: Divulgação)

Por Geizebel Schieferdecker*

O debate sobre a 💥️autonomia do Banco Central já gera consequências na 💥️economia brasileira. A desestabilização das 💥️expectativas inflacionárias, especialmente de longo prazo, torna mais difícil a redução da taxa Selic.

Com os juros elevados,  o crédito se torna mais caro. Isso desestimula o consumo e os investimentos, afetando negativamente a economia. Diante desse contexto, alternativas como a de elevar a 💥️meta de inflação ou acabar com a autonomia do 💥️Banco Central representariam uma solução? Ou seria apenas o início de um problema ainda mais grave?

Nas décadas de 1970 e 1980, as economias mundiais passaram por um longo período de inflação elevada, refletindo em recessão e desemprego. Nesta época, as teorias macroeconômicas foram fortemente discutidas, principalmente em relação às causas da 💥️inflação.

No Brasil, este período serviu como uma espécie de laboratório de políticas econômicas. Testou-se diversos planos, com o objetivo de controlar a inflação e estabilizar a economia do país. Entre eles, o Plano Cruzado (1986), o Plano Bresser (1987), o Plano Verão (1989) e o Plano Collor (1990). Todos fracassaram no controle permanente da alta dos preços, como mostra o gráfico abaixo, até a adoção do Plano Real.

💥️O dilema do Banco Central

Com isso, a história ensina que inflação não é um processo simples de ser controlado. O diagnóstico correto do problema, na maioria das vezes, requer uma análise robusta para que soluções simplórias não agravem ainda mais a situação.

Com o avanço dos estudos acerca do tema, surge na década de 1980 a ideia de estabelecer bancos centrais independentes, a fim de separar ciclos políticos de ciclos de política monetária.

Diversos estudos indicam que uma maior independência do Banco Central está associada a um menor nível de inflação na economia. Com maior independência, a tomada de decisão do BC baseia-se em critérios técnicos e econômicos.

Porém, quando há interferência política, a isenção fica comprometida. Por exemplo, se o governo precisa financiar um grande déficit fiscal, pode pressionar o BC a imprimir mais dinheiro, o que pode gerar aumento de preços e desvalorização da moeda.

É comum o anseio por uma inflação baixa, uma economia com um baixo nível de desemprego e taxas de juros. Mas mudar a meta de inflação ou tirar a autonomia do BC não é a solução, principalmente em um cenário no qual se discute a sustentabilidade da dívida pública.

💥️Cortina de fumaça

Os economistas Edmund Phelps (1967) e Milton Friedman (1968), em seus artigos, já alertavam que, se os formuladores de políticas escolhessem um nível de inflação como “ótimo”, os participantes do 💥️mercado iriam aprender a esperar inflação e a💥️ Curva de Phillips se moveria gradualmente para cima. Em outras palavras, seria necessário cada vez mais inflação para manter o mesmo nível de emprego.

Portanto, é preciso muito cuidado ao definir metas de inflação altas para evitar o risco de uma escalada inflacionária. A solução para alcançar uma economia com baixo desemprego, aquecida e com juros baixos não é simples.

É preciso manter o foco em políticas fiscais responsáveis, com redução do déficit público, e em reformas estruturais que promovam o aumento da produtividade e a competitividade do país. Ou seja, é preciso focar no real problema da economia ao invés de tentar mudar as regras. E isso vale para o Brasil.

Assim, é importante que o Banco Central tenha autonomia para tomar decisões baseadas em critérios técnicos e econômicos, sem a interferência política, para garantir a estabilidade da moeda e o controle da inflação a longo prazo. O debate sobre a autonomia do Banco Central é saudável e necessário, mas não deveria ser usado como cortina de fumaça.

*Geizebel Schieferdecker é bacharel em Administração de Empresas e em Economia pelo Insper, mestranda em Economia pela FGV e sócia da Squad Capital Investimentos.

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