Ele fugiu da guerra no Vietnã, foi resgatado no mar e hoje é chef em SP
Coincidências do destino, no mesmo barco estava Nguyen Thi Kim Dung, que se tornou sua esposa tão logo colocaram os pés no Ocidente. A história pode soar romântica, mas é tão cheia de reveses que alimentaria um bom roteiro dramático.
Nguyen, 64 anos, nasceu em Ho Chi Minh (até 1975 chamada de Saigon), no sul do país. Vo Van, 65 anos, é de Qui Nhon, cidade litorânea mais ao centro. A jornada que os trouxe para a América do Sul não foi o primeiro encontro dos dois. Ambos já tinham tentado escapar em um mesmo grupo da convocação para a guerra que o Vietnã travava com o vizinho Camboja.
Naquela época, todos os jovens eram convocados para lutar. Muitos amigos do casal morreram em campo. O confronto armado entre os dois países ocorreu entre dezembro de 1978 e janeiro de 1979, mas desde 1975 as investidas já movimentavam as fronteiras.
Enviados para o Brasil de avião, aterrissaram em Viracopos, aeroporto em Campinas. Chegaram numa manhã de setembro, falando nada em português e com uma pequena ajuda financeira da ONU.
✅Eu vestia só shorts e camiseta. Estava frio, muito frio", lembra-se Fu, à época, com 21 anos.
Como parte da ajuda que recebeu, ele foi contratado para trabalhar na Volkswagen, em São Bernardo do Campo. Ao lado de Sônia, estabeleceu-se no Ipiranga, bairro onde viveu por muitos anos. Durante três meses, eles estudaram a língua portuguesa com um professor contratado pela ONU.
Na fábrica de automóveis, Fu ajudava a carregar caixas pesadas, de ferragens, mas pediu demissão seis meses para abrir uma oficina de costura — queria fazer roupa para os coreanos.
Um ano mais tarde, montou sua fábrica de bolsas, ainda na zona sul da capital, empreendimento que comandou até 2012. Obrigado a fechar as portas pela concorrência chinesa, decidiu investir em restaurante, atendendo ao incentivo dos filhos e dos amigos.
Pho Bo
Dificuldade Médio 4 porções 720 min Ver receita completa✅Poucas pessoas conheciam nossa comida. Quando começamos, há dez anos, eram vendidos uns 20 pratos de Pho por semana. Hoje, vendemos de 20 a 30 por dia, em cada um dos restaurantes", empolga-se Fu.
O prato que marcou a infância dele e da esposa Sônia e também é a comida afetiva do filho Norman recebe tantas justificativas quanto os sabores que apresenta. Os pais lembram que, quando crianças, não comiam com o Pho Bo com tanta frequência, pois a situação financeira não permitia — no período da guerra, a comida era escassa e, às vezes, se limitava ao arroz. "Mas quando a gente ficava doente, era o que tomava para melhorar", lembra o pai.
Norman, o filho, exalta sua versatilidade:
✅É um prato que você come se está mal, se está de ressaca, se está só querendo uma comida gostosa. Pode comer no verão, no inverno, no café da manhã ou qualquer outro horário, porque é leve e de fácil digestão"
Quem já provou, só confirma!
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