Como os três jovens que viajaram no leme de navio conseguiram chegar vivos?
Em uma insana travessia desse tipo, expostos aos elementos da natureza no mar (ondas, ventos, umidade, frio etc), as chances de sobrevivência são mínimas, quando não inexistentes, dependendo das condições meteorológicas durante a travessia.
Mesmo assim, os três sobreviveram, embora tenham chegado às Ilhas Canárias bastante debilitados, desidratados, e um deles continue internado.
✅Mas, como eles conseguiram tal proeza?
💥️Acima do leme
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que os três nigerianos não viajaram propriamente sobre o leme durante toda a viagem, como aparece na foto que rodou o mundo, mas sim no "buraco" que existe acima dele, chamado caixa de leme — um cubículo parcialmente fechado, que abriga o eixo que movimenta o equipamento.
Foi ali, agachados o tempo todo, já que a altura da tal caixa não costuma passar de um metro de meio (menos ainda em navios menores, como era o caso do petroleiro Althini II, no qual eles embarcaram clandestinamente no porto de Lagos), que os três passaram a maior parte da viagem, sobretudo à noite, a fim de tentar descansar um pouco — mas, ainda assim, em uma situação bastante crítica, porque o espaço na caixa de leme é acanhado, insalubre e muito perigoso.
"Se entrasse mais carga no porto, ou o navio alterasse a rota, eles morreriam", garante o experiente prático do porto de Santos.
✅Só mesmo um elevado grau de desespero levaria alguém a embarcar daquele jeito", concluiu o especialista.
💥️Perderam parte da água que tinham
No depoimento, os jovens também contaram que cada um levou uma mochila nas costas com alimentos — basicamente biscoitos —, mas que, ao subirem no leme, uma das mochilas caiu no mar e eles perderam boa parte da água que tinham para a viagem.
Por causa disso, passaram sede, chegaram a beber um pouco de água do mar e estavam bem desidratados ao serem encontrados, já que a água salgada resseca o organismo ainda mais.
💥️Outros tormentos
Além da fome, sede e total desconforto, os três nigerianos também tiveram que conviver com outros tormentos durante o calvário de mais de uma dezena de dias que passaram.
Um deles foi o frio — porque também passaram a maior parte do tempo molhados.
"Embora, com o navio vazio, a caixa do leme seja um local razoavelmente abrigado, porque fica acima da água, o mar respinga o tempo todo e é impossível ficar totalmente seco", explica o prático Fabio Fontes. "E, molhado, o corpo humano perde temperatura rápido", garante.
Ao serem resgatados, os três nigerianos apresentavam, também, além de fraqueza e desidratação, quadros de hipotermia, que é quando o corpo humano passa a perder mais temperatura do que é capaz de gerar, causado pela exposição prolongada ao frio.
💥️Cracas feito navalhas
Outro tormento foram as cracas, seres marinhos que grudam nas superfícies submersas das embarcações e se tornam verdadeiras navalhas.
Nos navios, todas as partes que possuem contato direto com o mar, sobretudo as submersas, como os lemes, acumulam cracas em profusão.
✅Durante toda a jornada, os três sofreram doloridos cortes e ferimentos, causados pelas cracas no leme.
💥️Ondas poderiam arrastá-los para o mar
Além disso, caixas de leme são assoladas pelo barulho intenso causado pela proximidade com o motor dos navios, e pela vibração permanente do leme, o que tornou impossível dormir direito — além do fato de que nelas não há espaço suficiente para três pessoas, já que costumam medir por volta de 1,50 x 1,50, sem contar a grossura do eixo que a atravessa.
E ainda havia o risco — sempre latente — de alguma onda encobrir totalmente o leme durante a travessia, inundar a caixa e arrastá-los para o mar — o que, só mesmo por muita sorte, não aconteceu com os nigerianos.
💥️Outros já tinham feito isso
Apesar de aterrorizante, não foi a primeira vez que esse tipo de travessia suicida é realizada na cada vez mais movimentada rota migratória entre a África e as Ilhas Canárias, transformadas pelos imigrantes africanos em uma espécie de porta de entrada para a Europa, já que pertencem à Espanha.
Só nos últimos dois anos, outros cinco nigerianos fizeram a mesma coisa, também viajando sobre o leme de dois diferentes navios. E igualmente sobreviveram, o que estimulou o grupo descoberto esta semana a copiá-los.
💥️Poderão ficar na Espanha?
No entanto, sensibilizados com o esforço e sofrimento dos três jovens nigerianos, ONGs de defesa dos direitos humanos agora lutam para que eles ganhem o direito de permanecer legalmente na Espanha, o que, pelo menos em um primeiro momento, está dando certo.
Dois dos três nigerianos, que, pelas leis de imigração espanhola, já deveriam ter sido devolvidos ao navio que os trouxe e deportados das Ilhas Canárias, entraram com um pedido de asilo e, pelo menos por enquanto, permanecem nas ilhas — bem como o terceiro, ainda hospitalizado.
A esperança é que eles recebam autorização da Espanha para permanecer na Europa, objetivo maior grupo ao embarcar naquela desesperada jornada de quase 4.500 quilômetros no mar aberto, sobre o leme de um navio em movimento.
✅Se isso acontecer, a história dos três valentes migrantes nigerianos terá, por fim, após tanto sofrimento, um final feliz.
💥️Um clandestino que se deu bem
Mas também não será a primeira vez que passageiros clandestinos viajando escondidos a bordo de navios acabam sendo premiados, em vez de punidos.
Um dos casos mais emblemáticos ocorreu quase um século atrás, em setembro de 1928, e envolveu um menino americano, de 17 anos de idade, chamado Billy Gawronski.
Admirador incondicional do famoso explorador americano Richard Byrd, um dos pioneiros na Antártica, Billy não teve dúvidas: ao saber que o barco do ídolo estava ancorado no porto de sua cidade, ele tentou invadi-lo três vezes — e, em todas, foi descoberto e detido.
Mas, ao saber da obstinada persistência do garoto, Byrd mandou chamá-lo e, após uma longa conversa, foi convencido, pelo próprio Billy, e tê-lo como tripulante do seu barco, então prestes a partir para mais uma expedição à Antártica.
Billy não só embarcou naquela temerária viagem, na função de marinheiro-voluntário, como, anos depois, se tornaria um dos mais famosos capitães americanos de viagens polares — clique aqui para conhecer esta interessante história.
O menino que quis entrar numa fria, sabia muito bem o que queria.
Os três jovens nigerianos que se aboletaram sobre o leme de um navio, também.
✅Mas sofreram horrores em busca disso.
O que você está lendo é [Como os três jovens que viajaram no leme de navio conseguiram chegar vivos?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
Wonderful comments